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Projeto e Destino

Por:   •  15/10/2016  •  Resenha  •  1.183 Palavras (5 Páginas)  •  1.014 Visualizações

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Projeto e destino (pp. 7 – 63). Primeiro capítulo.

ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. São Paulo: ed. Ática, 2004.

Autor:

Giulio Carlo Argan (1909-1992) foi um historiador e crítico de arte italiano. Além de sua ampla obra no campo das artes, destacam-se especialmente as valiosas reflexões sobre cultura, arquitetura e cidade. Foi também prefeito de Roma (1976-1979) e senador da república (1982-1992), pelo Partido Comunista Italiano.

Resumo:

O texto parte do problema da “crise” da arte contemporânea. Reflete sobre a disputa travada entre arte e tecnologia e como isso transforma o fazer da arte e seus limites, especialmente no que se refere à inversão dos valores de produção (quantidade e qualidade) e da transposição da centralidade do pensamento humano do indivíduo para o coletivo (a série).

O projeto se impõe como instrumento fundamental, em ambos os campos, de uma sociedade não mais teocrática, mas tecnocrática. O projeto passa a ser um ato necessário para se contrapor a um destino a priori caótico, cujos contornos são definidos não mais pelo divino, mas pela técnica.

Citações:

A utopia é o simulacro de uma sociedade impossível. Ela se gera, como o sonho, da experiência vivida, da renúncia de continuar a vive-la na dramática tensão da história. Não implica uma crítica da situação, mas só a frustração de essa ser imperfeita e instável, sensível aos contrastes das forças históricas.” (p. 9)

“tal como se pode continuar fracionando um número sem jamais atingir o seguinte, a quantidade não pode gerar a qualidade. Não há lugar para uma intervenção crítica que conclua a série quantitativa e imponha o salto qualitativo: a máquina se supera, portanto se critica, automaticamente” (p.11)

“A obra não é apenas manual: também a imaginação é uma técnica, é geradora de imagens que povoam o espaço e a mente antes do espaço no mundo.” (p. 18)

“todo o esforço da produção artística e artesanal do passado foi dirigido à produção de objetos, formas sinsemânticas: coisas que ultrapassam o próprio limite de coisas para remeter ao objeto supremo e unitário, a natureza ou a divindade. Do nível mais baixo, onde se tem o máximo de quantidade com o mínimo de qualidade, ao mais alto, onde se tem o máximo de qualidade com o mínimo de quantidade (o unicum da obra de arte), o objeto é igualmente ligado à contingência, à ocasionalidade, à utilitariedade da existência e à universalidade e eternidade do ser.” (p. 18 – 19)

“A grande mutação no agir humano, também na arte, é exatamente essa passagem da contemplação-representação da natureza-modelo à ação que incide sobre a realidade social e a modifica” (p. 19)

“projetar torna-se ainda mais difícil, porque um número demasiado de dados permanece incógnito e o destino não está mais nas mãos de um deus, mas nas dos outros homens, tal como cada um de nós pode ser “destino” para outros. E, todavia, nunca se sentiu tanto como nessa condição a necessidade de projetar, de garantir a si e aos outros em relação a um destino que não é mais providência.” (p. 20)

“O artesanato, no momento de seu maior esplendor, levava ao mais alto nível de valor a peça única e irrepetível (a obra de arte), fazendo coincidir o máximo de qualidade com o mínimo de quantidade. A indústria, do contrário, põe a série como o supremo nível de valor: o objeto pode ser repetido em milhares de exemplares sem perder nenhuma das suas qualidades; ao contrário, seu valor consistirá justamente no fato de ser infinitamente repetível e repetido. Essa mutação dos valores na ordem da produção corresponde a uma mutação dos valores na ordem social: o valor passa do indivíduo à série de indivíduos e não, portanto, à sociedade como sistema de atividades humanas diferenciadas, mas à massa que anula o indivíduo ou o considera apenas como unidade na série. A quantidade toma, na hierarquia dos valores, o lugar da qualidade.” (p. 20 – 21)

O homem histórico, o homem da invenção, não pode admitir a repetição [...]. Repetir significa perder tempo: no sentido, justamente, de que, repetindo, colocamo-nos fora da ordem histórica que demos ao tempo.” (p. 21)

“a qualidade era o projeto, ou melhor, o modelo ou o protótipo, do qual os objetos da série eram apenas a repetição exata.” (p. 22)

“Ela [a arquitetura] também teve uma fase, ainda não superada, de declínio qualitativo. Os enormes casarios construídos pela especulação imobiliária sob o rótulo mentiroso de “popular” são os equivalentes da má literatura amarela, rosa e negra: não um fato novo, mas a corrupção do velho. O fato novo e positivo é outro: a arquitetura se adaptou à cultura de massa e à situação tecnológica atual destruindo-se como arquitetura e tornando-se urbanismo.” (p. 49)

“O projeto tece a sua trama sutil e clara dentro da turbulenta névoa do destino, tornando-a menos densa [...]. Em suma, destrói o mito, renega a superstição do fado: hoje, do ‘fado tecnológico’. Para além da técnica mecânica, ele desenha acuradamente a linha do horizonte de uma técnica superior, a metodologia: uma técnica em que a precisão não destrói o valor da essência e em que o homem moderno poderá finalmente resgatar a ‘vergonha tecnológica’.” (p. 52)

“Há notoriamente forças externas (para citar uma: a especulação imobiliária) que tentam desviar o plano, dirigindo a um interesse particular um trabalho que, tendo no princípio a ‘simpatia’ sociológica, deveria ser feito para a coletividade. Quando as forças externas prevalecem o plano trai as razões e as finalidades institucionais do planejamento: a falência do projeto abre a porta à desordem do destino.” (p. 53)

“O projetista que elabora um plano lutando contra as forças que tentam impedi-lo de projetar para a coletividade determina a própria metodologia como comportamento de luta contra aquelas forças. Não se projeta nunca para mas sempre contra alguém ou alguma coisa: contra a especulação imobiliária e as leis ou as autoridades que a protegem, contra a exploração do homem pelo homem, contra a mecanização da existência, contra a inércia do hábito e do costume, contra os tabus e a superstição, contra a agressão dos violentos, contra a adversidade das forças naturais; sobretudo, projeta-se contra a resignação ao imprevisível, ao acaso, à desordem, aos golpes cegos dos acontecimentos, ao destino. Projeta-se contra a pressão de um passado imodificável para que sua força seja impulso e não peso, senso de responsabilidade e não complexo de culpa. Projeta-se contra algo que é, para que mude; não se pode projetar para algo que não é; não se projeta para aquilo que será depois da revolução, mas para a revolução, portanto contra todo tipo e modo de conservadorismo. É portanto impossível considerar a metodologia e a técnica do projetista como zonas de imunidade ideológica. A sua metodologia e a sua técnica são rigorosas porque ideologicamente intencionadas. A ideologia não é abstrata imagem de um futuro-catarse, é a imagem do mundo que tentamos construir lutando: planejando não se planeja a vitória mas o comportamento que nos propomos manter na luta.” (p. 53)

“Temos de um lado uma projetação como cômputo exato de dados mercadológicos, tecnológicos, comerciais; do outro, uma projetação como construção histórica, exame crítico de situações históricas, planejamento da existência. É possível uma coexistência dos dois processos ou a retificação de um mediante o outro?” (p. 57)

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