Quase Tudo Que Você Queria Saber Sobre Tectônica
Por: JAMILLE2110 • 22/8/2025 • Resenha • 645 Palavras (3 Páginas) • 39 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
JAMILLE MARINHO BORBA
RESENHA CRÍTICA
AMARAL, Izabel. Quase tudo que você queria saber sobre tectônica, mas tinha vergonha de perguntar. PosFAUUSP, São Paulo, Brasil, p. 148–167, 2009. SEROPÉDICA - RJ 2025
SEROPÉDICA, RJ 2025
O texto de Izabel Amaral sobre tectônica mergulha na teoria de Gottfried Semper e mostra como materiais, técnicas construtivas e expressão arquitetônica estão intimamente conectados. Logo de início, a autora amplia o entendimento do termo: “tectônica”, que na geologia se refere ao movimento das placas da Terra, na arquitetura é a “arte de construir”. Essa tradução não é apenas técnica, mas também simbólica, porque revela que a construção é, ao mesmo tempo, prática e expressão.
A teoria de Semper organiza os materiais em quatro categorias e as práticas construtivas em quatro artes técnicas, com a carpintaria como modelo central da arquitetura. Essa escolha, porém, reflete os limites de sua visão. Semper não reconheceu o ferro e o vidro como materiais arquitetônicos relevantes, mesmo conhecendo o Crystal Palace de Joseph Paxton. Isso mostra como o peso da tradição clássica e da estética do século XIX ainda influenciava sua teoria. Mesmo assim, sua leitura da carpintaria como paradigma da tectônica é fundamental, porque evidencia que construir não é apenas resolver questões funcionais, mas também dar forma a uma linguagem. Outro ponto central é a forma como Semper entende a estética: ela não surge da decoração superficial, mas da própria técnica e da materialidade. O paralelo entre o tecido e a arquitetura, especialmente na relação entre quadro e preenchimento, mostra como a beleza nasce da interação entre material, técnica e significado. Essa visão desloca o olhar sobre a arquitetura, fazendo-a ser lida como algo mais profundo que estilo ou ornamento.
A trajetória da tectônica ao longo do tempo reforça essa riqueza. No século XVIII, os avanços da física e do cálculo estrutural trouxeram bases científicas que transformaram a construção em objeto de consciência técnica. No XIX, Semper e Carl Bötticher inseriram a questão simbólica e formal dos elementos construtivos. Já no século XX, a tectônica ganhou leituras muito diferentes: no construtivismo russo, Alexei Gan a levou para um campo abstrato; no modernismo, o espaço e a função se sobrepuseram à materialidade, que perdeu protagonismo. Mas foi na crítica de Peter Collins, Eduard Sekler e Stanford Anderson, e sobretudo com Kenneth Frampton, que o conceito foi atualizado e ganhou novo fôlego.
Frampton é quem mais contribui para essa renovação pois, para ele, a tectônica não é só a expressão da construção, mas a integração entre lógica estrutural, uso do
material e dimensão artística. Em sua leitura, a obra pode revelar a “verdade” da construção ou, ao contrário, ocultá-la para acentuar o simbolismo, e ambas as opções são legítimas. O importante é que a tectônica abre espaço para refletir sobre ética,
estética e cultura de forma integrada. Frampton ainda destaca sua importância pedagógica: pensar tectonicamente é ensinar e praticar arquitetura em sua complexidade.
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