Resenha - Arquitetura Maneirista

LA MANIERA – QUANDO A ORIGINALIDADE GANHA FOCO

Embora incompreendido durante muitos anos pela História da Arte, visto como apenas uma decadência do estilo renascentista, o Maneirismo se porta como um movimento autônomo e novo, que aponta para um novo modo de se fazer arte e que se concretiza na Arte Moderna. A ruptura que deu origem a esse movimento é uma das maiores rupturas ocorridas entre estilos artísticos da história, como afirma Arnold Hauser, em seu livro “Maneirismo”.  Segundo ele “O maneirismo assinalou uma revolução na história da arte e criou padrões estilísticos inteiramente novos; e a revolução reside no fato de que pela primeira vez a arte divergia deliberadamente da natureza”.

É nesse interim histórico que se retrata o filme “Agonia e Êxtase”, que conta a história do escultor, arquiteto, poeta e pintor Michelangelo Buonarroti (1475-1564), proveniente da cidade italiana de Caprese, que em 1508 foi incumbido pelo Papa Júlio II a redecorar o teto da Capela Sistina, erguida entre 1473-1483, no Estado do Vaticano. Entretanto, tal notícia é recebida de forma não muito agradável, já que o artista se considerava um escultor e não se achava familiarizado com a técnica de afresco. É deste conflito que o filme se utiliza parar criar o drama e abordar o tema de uma das obras mais marcantes do período.

Michelangelo demonstra sua insatisfação perante a obra já no momento em que o Papa impõe suas ideias para o desenvolvimento do projeto. Após uma autorreflexão acerca da frase “Se o vinho esta azedo, jogue-o fora”, a insatisfação do artista vem à tona e, depois de destruir os trabalhos iniciais na Capela, o mesmo foge para as minas de Carrara. Lá ele se refugia e com o intuito de despistar os patrulheiros enviados pelo Papa, adentra ainda mais nas montanhas em direção a uma gruta, onde ao vislumbrar a cúpula rochosa sobre si, remete-se ao teto inacabado que deixará e toma consciência das possibilidades de criação as quais estará abrindo mão optando pela fuga. É neste momento que, ao sair da gruta, se depara com o esplendor da aurora e ao contempla-la tem a “divina” revelação da gênesis bíblica, retratada no filme pela cena da criação do homem.  

Logo após seu exílio, que tão rapidamente se tornou em retiro de autocompreensão e, desta forma, de um melhor entendimento do desafio que estava a sua frente e as forças de suplantá-lo, Michelangelo vai à procura do Papa e lhe apresenta um novo projeto para a capela, demonstrando agora uma reviravolta no animo do artista que se vê realizado na obra proposta e não mais trabalha simplesmente sobre a métrica de um mundo. O projeto é então novamente retomado, entretanto, a maneira de conceber se torna tão única que o artista propõe a fazê-la sozinho, dispensando o auxilio dos estagiários.

É no início das obras da nova proposta do afresco que o filme muda de foco e entra no âmbito central, que, nesse caso, é a abordagem do maneirismo, identificado como estilo somente muitos séculos após o afresco ser finalizado. Em uma das principais cenas do filme, no momento em que decorre a inspeção da pintura pelos cardeais juntamente com o Papa, se dá a discussão sobre o método usado pelo artista, que se difere dos ideais da época e mesmo assim não se remonta a nada até então visto ou proposto, a “maneira” única de fazer se mostra mais evidente. O artista então é posto frente às regras clássicas de beleza e arte, também aos dogmas da igreja, e é nesse momento que Michelangelo se manifesta dizendo que é o seu modo de fazer as coisas, seu modo de ver o homem e a criação de Deus, portanto, vai se basear em um ideário para compor suas obras. Podemos ver essa maneira de criar diferenciada em vários artistas da época, que segundo Hauser:

...