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Uma crítica à arquitetura pós moderna

Por:   •  30/10/2019  •  Ensaio  •  1.303 Palavras (6 Páginas)  •  181 Visualizações

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Uma crítica pratica a arquitetura pós moderna, a partir da obra de Richard Serra

Elise Marie Braga Noebauer

Richard Serra, escultor contemporâneo que começou sua carreira na década de 1960, mostra em seu trabalho, e em sua fala, uma crítica discreta e coerente à arquitetura do seu tempo.  A crítica, segundo Foster (2017), vem em dois níveis. Um, se resume à representação arquitetônica como feita por muitos, apenas através de elevações e plantas, nunca mostrando a arquitetura como um todo. Mas sua maior crítica fala a respeito da superficialidade do pós-modernismo. Essa discussão chega à Serra de uma maneira bastante natural, quando ele percebe o uso da tectônica em suas obras.

Tectônica, de acordo com Ching (1999, p. 11), é “a ciência ou arte de moldar, ornamentar ou reunir os materiais de uma construção”. No entanto, no contexto da fala de Serra,  o conceito abordado  é um pouco mais específico, fala da estrutura e do modo de construção da arquitetura. O artista percebe, então, a falta histórica do tectônico na escultura e sua linguagem. Serra vai além, ainda, ao identificar e apontar o recente abandono da arquitetura para com essa sua face construtiva e, principalmente, estruturante. Sua obra, passa a realizar, então, uma crítica constante a esse abandono: ele tem um fazer escultórico onde associa construção: é uma apropriação da escultura à tectônica.

Serra começa seu trabalho na arte escultórica, com um desejo de que fosse oposta à pintura, e critica à arquitetura. Queria algo que fosse além de uma imagem estática, onde o sujeito fosse o espectador, onde esse espectador fosse sugado, e, de certa maneira, fizesse parte da obra. Assim, ele transformou sua a escultura em uma experiência paraláctica, onde o movimento fosse parte de sua arte. A arte paraláctica se apropria de conceitos como ideias paralelas, complexas, dinamismo e inter-relacionamento. Assim, o espectador é incluso em sua obra, enquanto a observa e frui.

Tais princípios de movimento, ambiguidade e paralaxe se tornaram, assim, norteadores da sua criação, uma premissa de sua arte, elementos generativos, então, da sua famosa “Lista de verbos”. Nessa lista, cada pequeno verbo, associado a um dos poucos materiais - normalmente materiais como chumbo, aço, concreto ou borracha -, que estavam em seu vocabulário, originam como que um dicionário visual desses verbos. Em sua primeira série, Serra revoluciona a escultura, trazendo de volta para o campo da escultura contemporânea preceitos que tinham sido suprimidos nos modelos modernistas, tais como materialidade, corporeidade, movimento e temporalidade, como pode-se observar na obra To Lift (1967), apresentada na Figura 1, a seguir.

Figura 1

[pic 1]

Richard Serra, To Lift, 1967. Fonte: moma.org

A criação da necessidade de que o espectador realize um percurso;  a já existente conexão entre arquitetura e escultura, que se firma não apenas na proximidade que tem enquanto arte, mas também por serem complementares em seus cenários; e a própria escala de suas obras,  aproximou ainda mais Serra da arquitetura, fazendo com que suas inspirações fossem mais próximas da arquitetura e da engenharia do que da própria escultura. A fala de Serra, apresentada por Foster (2017, p. 179 e 180), demonstra, dentro dessa aproximação entre arte e arquitetura, quais foram seus referenciais:

“A história da escultura de aço soldado neste século - González, Picasso, David Smith - tem pouca ou nenhuma influência no meu trabalho. [...] Lidar com o aço como um material construção em termos de massa, peso, contrapeso, capacidade de sustentação, ponto de carga produziu um divórcio total da história da escultura, ao passo que determinou a história da construção tecnológica e industrial. Isso permitiu os maiores progressos na construção de torres, pontes, túneis etc. Os modelos em que eu me inspirei foram aqueles que exploraram o potencial do aço como material de construção: Eiffel, Roebling, Maillart, Mies van der Rohe. Uma vez que escolhi construir com aço, era uma necessidade saber quem lidou com o material de modo mais significativo, inventivo, econômico.”

Estando nessa posição, Serra se torna um observador próximo o suficiente para falar com certa propriedade sobre a arquitetura corrente, sendo assim um crítico qualificado para discursar a respeito dos problemas do pós-modernismo. Ainda que insistisse que seu trabalho era puramente escultórico, suas obras frequentemente se confundem com elementos arquitetônicos e urbanísticos, como em  Maillart Extended (1988), obra pensada em homenagem ao engenheiro Maillart, e localizada em meio a uma estrutura urbana de grande importância. A influência de sua obra na cidade, apresentada, a seguir, na Figura 2, dá então uma força ainda maior a sua crítica.


Figura 2

[pic 2]

Richard Serra, Maillart Extended, 1988. Viaduto Grandfey, Suíça. Fonte: rudedo.be

Um dos principais elementos que ele absorve da arquitetura é a tectônica, e o faz de maneira extremamente crítica. Compartilhando o pensamento de Frampton (1990, in NESBITT, 2006), ele fala do abandono da tectônica por parte da arquitetura pós-moderna. A respeito do esquecimento da arquitetura pós-moderna relativa aos aspectos contrutivo-estruturais, Frampton tem uma opinião clara:

Ao invés de ficar repetindo “[...] a supérflua multiplicação de projetos escultóricos, todos contendo uma dimensão arbitrária porque não se baseiam nem na estrutura nem na construção, os arquitetos podem voltar à unidade estrutural como essência irredutível da forma arquitetônica. Dispensa dizer que não estamos aludindo à revelação mecânica da construção, mas à manifestação de uma estrutura potencialmente poética [...].”

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