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A nova guerra contra os fatos em tempos de fake news

Por:   •  1/9/2019  •  Tese  •  2.931 Palavras (12 Páginas)  •  389 Visualizações

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RESENHA

[D'ANCONA, Matthew. Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news. Tradução: Carlos Szlak. 1 ed.. Barueri: Faro Editorial, 2018]

Thais Firmino Thaiane Firmino

Publicado no Brasil em 2018 pela Faro Editorial, o livro Pós-verdade: a Nova Guerra Contra os Fatos em Tempos de Fake News reflete a crescente tendência por pesquisas voltadas à compreensão de fenômenos potencializados com o advento da Web 2.0. O autor, Matthew D'Ancona, é jornalista e nasceu em 1968, no sul de Londres. Sua trajetória no jornalismo foi iniciada em 1991 e ascendeu através da atuação em veículos como The Guardian, London Evening Standard, GQ, The New York Times, Index on Censorship, The Times, The Sunday Telegraph, The Spectator e Prospect. Além da inclinação para escrever sobre política, D'Ancona já publicou romances e livros de teologia cristã em coautoria com pesquisadores da área.

Com 142 páginas, o livro possui cinco capítulos, distribuídos da seguinte forma: 1. “Quem se importa?”: a chegada da era da pós-verdade; 2. “Você não é capaz de lidar com a verdade”: as origens da era da pós verdade; 3. Conspiração e negação: os amigos da pós-verdade; 4. O colapso da pedra filosofal: pós-modernismo, ironia e a era da pós-

ISSN: 2179-9938

REVISTA PASSAGENS - Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará Volume 9. Número 1. Ano 2018. Páginas 225-232.

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verdade; 5. “O fedor das mentiras”: estratégias para derrotar a pós-verdade. Antes de aprofundar a temática, ainda no prefácio, D'Ancona apresenta sua produção como sendo de natureza epistemológica e direciona a necessidade de compreender a mesma como uma investigação sobre “o valor declinante da verdade como moeda de reserva da sociedade e a difusão contagiosa do relativismo pernicioso disfarçado de ceticismo legítimo” (p.14). O jornalista caracteriza sua obra como um tratado pessoal e não um manual desapaixonado. Ele acredita que o ser humano foi constituído para requerer a veracidade e resistir à falsidade. “Há uma voz interior em nós que resiste às mentiras, ainda que essa voz tenha sido atenuada” (p.17), escreve.

No primeiro capítulo o autor afirma que existe uma tendência global cujo cerne é o desmoronamento do valor da verdade. Segundo ele, “os especialistas são difamados como um cartel mal-intencionado, em vez de [serem considerados] uma fonte de informações verificáveis” (p. 20). Tal aspecto também é evidenciado no manifesto “Online Chaos Demands Radical Action by Journalism to Earn Trust” (Caos on-line exige ação radical para que o jornalismo tenha credibilidade), no qual Sally Lehrman1 e Richard Gingras2 afirmam que no contexto atual as vozes do jornalismo de qualidade não têm o respeito nem a credibilidade que esperam e realmente merecem.

De acordo com D'Ancona, “os sites conspiratórios e a mídia social tratam com desdém os jornais impressos ou a grande mídia (mainstream media - MSM), considerando-os a voz desacreditada de uma ordem globalista e de uma elite liberal, cujo tempo já passou” (p. 20). Para exemplificar seu posicionamento, no decorrer da leitura o autor faz diversas referências à eleição do presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, e à campanha de saída do Reino Unido da União Europeia. Segundo ele, a ausência de realidade estável e verificável ficaram evidenciadas em ambos os eventos.

O autor enfatiza que o populismo na era da pós-verdade busca simplificar, comprimir ou mesmo excluir fatos e inconveniências. Para ele, os mencionados episódios “iluminaram a paisagem em transformação, cujo surgimento a classe política e midiática falharam em registrar [...], um novo e alarmante colapso do poder da

1 Acadêmica Sênior em Ética Jornalística no Markkula Center. 2 Diretor Sênior de Notícias e Produtos Sociais da Google.

ISSN: 2179-9938

REVISTA PASSAGENS - Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará Volume 9. Número 1. Ano 2018. Páginas 225-232.

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verdade como motor de conduta eleitoral” (p. 22). D'Ancona considera o tempo presente como uma nova fase de combate político e intelectual, destaca que “Trump é mais sintoma do que causa” (p. 26) e enfatiza que atribuir a ascendência da pós-verdade à escalada de tal presidente é tentador e equivocado.

No capítulo 2, Matthew D'Ancona apresenta o colapso da confiança como base social para a era da pós-verdade, já que, segundo ele, “todas as sociedades bem- sucedidas dependem de um grau relativamente alto de honestidade para preservar a ordem, defender a lei, punir os poderosos e gerar prosperidade” (p. 42). De forma primorosa o autor evidencia a confiança como fundamental para a sobrevivência humana e contextualiza o que chamou de “uma série implacável de perturbações” que conspirou para esgotar as reservas restantes de confiança. D'Ancona afirma que, a partir da crise financeira de 2008, que levou a economia mundial à beira do desastre, “a hostilidade à economia globalizada mudou das margens para o centro do discurso político” (p. 43). O autor destaca que a decadência da confiança não se limitou à crise financeira, mas também foi evidenciada com a humilhação da classe política na Grã- Bretanha, em 2009.

Na esfera midiática, D'Ancona afirma que escândalos arrastaram o nome de grandes meios de comunicação para a lama e resume: “quando os supostos fiadores da honestidade vacilam, o mesmo acontece com a verdade” (p. 45). Ele caracteriza esta era como a da “fragilidade institucional” e destaca que a função do jornalismo está em revelar o paradoxo da vida pública, desmascarar a transgressão e fortalecer a democracia com o fornecimento contínuo de notícias confiáveis. No entanto, segundo Matthew D'Ancona, a combinação de diversos fatores colocou em perigo a confiança do público no jornalismo. O autor pontua que “exatamente quando a confiança na mídia é mais requerida, ela, de acordo com pesquisas de opinião mundiais, caiu ao menor número de todos os tempos” (p. 45).

É necessário ponderar, no entanto, que para cada tendência, existe uma contratendência que lhe é complementar. Conforme pontua Penn (2008, p. 453), “para cada impulso de modernização, existe uma corrente de apego aos velhos valores. Para cada incursão na internet, existem aqueles que preferem tricotar e procuram paz e sossego. Para cada corrida à informação instantânea,

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