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O Fake News

Por:   •  23/11/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.862 Palavras (8 Páginas)  •  252 Visualizações

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A Universidade de Oxford, na Inglaterra elegeu a palavra pós-verdade (post-truth em inglês) como a palavra do ano em 2016. Segundo a definição da universidade britânica, é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.

A evidência deste termo nos últimos anos, que tem a eleição de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 e a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia é um resultado do crescimento das notícias falsas, comumente conhecida como fake news, disseminadas nas mídias digitais.

O objetivo do trabalho é entender as fake news como um fenômeno atemporal, que fez parte da história das civilizações. A ausência de estudos a respeito do tema na historiografia é recorrente, e se faz necessário um estudo aprofundado sobre as permanências e continuidades desta prática social antes e depois da geração Z.

Para a melhor compreensão do tema estudado, a escolha de um objeto de análise tornou-se essencial: disputas presidenciais no Brasil contemporâneo. Três eleições serão utilizadas como objeto: as de 1989 e 2002, anteriores a expansão do acesso à internet banda larga e, consequentemente, da influência das mídias digitais; e o ano de 2014, quando a influência do mundo digital no resultado eleitoral é consolidado.

  1. As fake news como um fenômeno atemporal: apontamentos

O assunto “fake news” é pouco explorado pela historiografia. Porém, devido aos últimos acontecimentos envolvendo o tema, historiadores são convocados pela imprensa para se manifestarem. Além disso, eventos em universidades sobre o tema estão, gradualmente, ocorrendo. Podemos destacar eventos na USP sobre o assunto, e manifestação de historiadores à jornais renomados, como Folha de São Paulo e El País.

Uma das maiores autoridades sobre o tema é o historiador Robert Dartnon que contribuiu mapeando fatos que comprovam: a invenção de “fake news” podem ser encontradas em qualquer período histórico, até mesmo na Antiguidade. A tese deste trabalho final é que as mídias digitais contribuíram para a potencialização de divulgação delas, fazendo com que a desinformação ultrapassasse resultados nunca antes vistos.

Na Antiguidade, Heródoto afirmou em seus escritos que alguns pássaros costumavam “limpar” a boca dos crocodilos comendo os sanguessugas dentro dela, sem serem mastigados. No Século VI, o historiador bizantino Procópio produzia informações falsas para prejudicar a reputação do Imperador. No Século XVI, Pietro Aretino utilizava sua reputação como poeta para prejudicar candidatos ao conclave papal, com o objetivo de beneficiar seu patrono, nos denominados pasquins.

O século XVIII, para Dartnon, inclui um novo fator importante para a compreensão desse fenômeno, devido a publicação de notícias falsas por meio de mídias impressas, na França e Inglaterra. Apesar da censura do regime absolutista, a circulação de notícias falsas antes e após a Revolução Francesa prejudicava a reputação dos reis e rainhas, em gazetas denominadas canards. A mídia britânica destacava-se pela existência dos chamados “homens parágrafo”, que produziam notas falsas com o objetivo de manipular formações sobre pessoas, peças e livros.

O historiador Jean-Yves Mollier acha relevante o caso de um oficial judeu do Exército Francês, Alfred Dreyfus, acusado por espionagem, em 1894. Condenado injustamente pelo governo francês com pena de prisão perpétua, num objetivo de acobertar inovações tecnológias relacionadas à tanques de guerra, sua condenação foi aclamada por toda a mídia até que, anos depois, pessoas resolveram denunciar a falsidade de todo o processo.

Este caso, apesar de ter ocorrido no século XIX, pode nos fazer refletir de forma contemporânea sobre os agentes envolvidos em torno da divulgação de “fake news” e os seus objetivos, no caso de nosso objeto de análise - eleições presidenciais. Primeiramente, para existí-la, deve haver uma motivação política para sua criação. Em seguida, existir atores que serão protagonistas da notícia - vale a pena lembrar que não necessariamente uma mentira deve ser de cunho negativo -. Por fim, a existência de atores políticos e da imprensa com finalidades específicas: denigrir ou exaltar sujeitos.

  1. Eleições presidenciais no Brasil em análise

2.1 Eleição de 1989: o “caçador de marajás” e o “sapo barbudo”

Sem sombra de dúvidas, a disputa pela presidência da República em 1989 foi a mais concorrida de toda a história do Brasil. Um número superior à vinte candidatos disputaram a primeira disputa em eleição direta para o pleito em 28 anos e, contrariando as previsões, o candidato Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista (PDT) perde espaço para Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) no segundo turno.

O crescimento de Lula durante a campanha do segundo turno continuou, conforme demonstrava as diárias pesquisas de intenção de voto, divulgadas pelo Jornal Nacional a ponto que, no dia 13 de dezembro de 1989, o candidato chegasse a empatar na margem de erro com Fernando Collor de Mello, do Partido Renovador Nacional (PRN).

Bastou uma entrevista, vinculada pela ex-namorada do petista, Miriam Cordeiro, que acusava o presidenciável de incitá-la a abortar, no dia 12, e o debate na TV Globo no dia 14 para que ele reduzisse suas intenções de voto, que o fizeram perder a eleição, com 47% dos votos válidos, contra 53% do seu oponente.

O debate presidencial, que na ocasião foi editado pela emissora, beneficiou o candidato que, dias depois, venceu a eleição. Segundo o próprio ex-diretor da TV Globo admitiu em seu livro, ‘O Livro do Boni’, que a emissora ajudou Collor. Segundo ele, a assessoria do candidato procurou os representantes da emissora, após seu péssimo desempenho no primeiro debate, que ampliou o crescimento das intenções de voto de Lula. A emissora, em resposta, tentou transformar o candidato em alguém mais informal, e colocaram pastas vazias em sua bancada, que supostamente continham denúncias contra o adversário.

Fato curioso é que os apoiadores do candidato do PRN, como forma de combater seu oponente, afirmava que o petista tinha como uma das metas de governo confiscar a poupança dos aposentados e apartamentos da classe média. Meses depois, quem veio a confiscar a poupança dos trabalhadores foi o presidente eleito, no chamado “Plano Collor”.

2.2 Eleição de 2002: o “mercado” amedrontado

O complô midiático contra a candidatura Luís Inácio Lula da Silva, que resultou na derrota de sua candidatura em 1989, foi seguida por uma eleição e reeleição folgada de Fernando Henrique Cardoso, do Partido Social-Democrata Brasileiro (PSDB). Forjado como garoto-propaganda do Plano Real, seu governo foi realizado de forma estável ao legado da estabilização da moeda. Porém o segundo mandato foi alvo de uma enorme crise de popularidade, o que abriu possibilidades para o candidato petista na futura disputa presidencial.

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