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Fernando Pessoa Ortónimo

Por:   •  16/4/2015  •  Projeto de pesquisa  •  1.593 Palavras (7 Páginas)  •  144 Visualizações

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PORTUGUÊS EXTERNATO CRISFAL 12º ANO

 

O(s) Modernismo(s)

Por volta de 1910 a natureza humana terá mudado. Tal traduz o sentimento de que tudo mudara na Europa entre 1890 e 1930: o tráfego automóvel encheu as cidades; muitos camponeses deixaram os campos; muitas pessoas imigraram; as mulheres das classes médias começaram a trabalhar fora de casa e a estudar; o sufrágio universal fortaleceu-se; e os escritores e pintores declararam ruidosamente o seu desprezo pelas seculares regras de gramática e da perspetiva, produzindo então novelas sem intriga e quadros que pouco ou nada parecem representar. O cenário era assim de desarrumação social em consequência de um estrondoso crescimento populacional e económico. A população europeia era então mais numerosa, mais urbana, mais velha, exemplo de uma maior esperança média de vida e ansiosa por bem-estar – o que traduzirá essa mudança na natureza humana. A Europa e o Mundo viviam por isso numa época maçada por um clima de euforia e otimismo mas de grandes problemas, nomeadamente no que diz respeito a crises cíclicas de superprodução que promovem miséria social, crises de habitação e grandes movimentos migratórios. Em Portugal agudizou-se assim o sentimento de degradação e decadência da pátria que marcará a literatura já desde a época de Eça de Queirós ainda no século XIX. No mundo faz-se sentir assim uma forte crise de consciência, uma crise da Razão, que gerou um reforço das atitudes filosóficas pessimistas, marcadas por um clima de ceticismo em relação à Razão, à Moral e até à Ciência. É assim que se desenvolvem as ciências sociais e na literatura e nas outras artes surgem novos conceitos anti tradicionais que propõem novos caminhos estéticos.

A literatura é agora encarada como linguagem que se constitui a partir de um vazio através da transfiguração, transformação ou fingimento. Não é agora apenas a expressão da vivência de um Eu como sucedera, por exemplo, durante o Romantismo. Segundo Jacinto do Prado Coelho, o Modernismo implica uma nova conceção da linguagem, coloca em causa as relações entre autor e obra e suscita uma exploração mais ampla das capacidades do Homem num momento em que se confronta e defronta um mundo em crise e em rutura.

Não admira portanto que tenha existido assim uma aliança entre literatura e artes plásticas através dos grafismos na primeira e da importância da palavra na segunda. Tais conceções estão relacionadas às diversas formas de reação dos artistas perante a crise de consciência que se fez sentir no início do século XX: a agressão, a polémica, o exercício e a celebração das energias individuais, o sondar o inconsciente, a entrega à vertigem das sensações, a celebração da força e da máquina e a tendência para a dispersão e consciência da multiplicidade do Eu.

O Modernismo surgiu assim ainda no final do século XIX como tradução da inquietude de uma época em crise e de grande agitação social; na verdade, um período de ruturas em que diversas correntes estéticas procuraram a novidade contra o estabelecido, numa reação clara e determinada aos valores e aos sistemas políticos e filosóficos em vigor. E se, por um lado, em alguns casos se permitiram movimentos (ainda) tradicionalistas, por outro lado outras procuraram separar-se da burguesia e do seu materialismo, tentando a rutura e apregoando a liberdade criadora, o cosmopolitismo, a originalidade e as formas capazes de expressar a nova realidade.

É neste contexto que surge Fernando Pessoa e a sua obra, essa que reflete o “drama em alma” ou o “drama-em-gente” através dos seus heterónimos que se apresentam como estados de alma, com múltiplas vozes que exprimem perceções, conhecimentos e entendimentos do que os rodeia, da vida e do mundo.

Fernando Pessoa Ortónimo

Na poesia de Pessoa Ortónimo encontramos ainda o tradicionalismo da influência de Garrett ou do sebastianismo, mas também experimentações modernistas com a busca da intelectualização das sensações e dos sentimentos. Está também geralmente presente o conflito entre pensar e sentir reveladora da difícil tarefa de conciliação do que se idealiza com o que é realizado, com a consequente frustração que implica ter consciência de tudo. É assim que se revela o drama da personalidade que o encaminha à dispersão em relação à realidade e a si próprio. Esta é a voz do poeta fingidor, do poeta da modernidade, despersonalizado, que tenta encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.

Para Pessoa Ortónimo o ato de criação só é possível pela conciliação entre realidades objetivas e realidades mentalmente construídas, ou seja, entre o real físico e psíquico e o real literário e das outras artes. Para isso é assim necessário intelectualizar o que se sente ou pensa, reconstruindo essa realidade através da imaginação criadora.

A unidade de sinceridade/fingimento é pois a concretização do processo criativo que é vital por permitir o distanciamento que possibilita percecionar e produzir uma nova realidade. O ortónimo procura assim e igualmente através das dicotomias pensar/sentir e consciência/inconsciência responder às inquietações da vida, produzindo a emoção estética que simula a vida.

O tempo é entendido em Pessoa Ortónimo como desagregação, pelo que na consciência da efemeridade há um desejo de regresso à infância envolto numa certa nostalgia por ser esta entendida como um bem perdido e por isso condutor à desilusão perante a vida real e o sonho. A frustração e mal-estar são assim consequência dessa incapacidade de não conseguir conciliar o desejo e idealização com o que realiza realmente. Tal traduz o drama da personalidade do Ortónimo que marca a formalidade da sua poesia que segue os modelos da poesia tradicional portuguesa, com poemas de métrica curta, onde abundam aliterações, paradoxos e metáforas, numa linguagem sóbria e intimista.

O fingimento poético (ou artístico)

Para Pessoa um poema é um “produto intelectual”, pelo que não ocorre no momento de emoção mas como resultado da lembrança deste. É necessário que a emoção exista intelectualmente. A elaboração do poema compreende-se assim como um “fingimento” – não um produto direto da emoção mas uma construção mental, sem que exista a rejeição da sinceridade de sentimentos, mas valoriza-se a capacidade de expressar efetiva e intelectualmente o que sente. A crítica da sinceridade ou teoria do fingimento está assim ligada à dialética inconsciência/consciência e sentir/pensar. Para Pessoa “fingir é conhecer-se”, já que se considera que a produção artística implica a conceção de novas relações a partir da distanciação que faz. Deste modo, a poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e se identifica com a própria criação poética como imposto pela modernidade. Recorre à ironia colocando tudo em causa e até mesmo a sinceridade/fingimento que lhe proporciona a criação artística.

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