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O POVO BRASILEIRO

Por:   •  18/10/2018  •  Resenha  •  2.036 Palavras (9 Páginas)  •  192 Visualizações

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Resenha Crítica do Livro “O Povo Brasileiro”,  para a Disciplina de Antropologia Jurídica, do Curso de Direito, da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Ribeiro, Darcy, 1922 - 1997
O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil - 3ª ed. São Paulo: Global ,  2015


O antropólogo Darcy Ribeiro, nascido em Montes Claros, MG, em 1922,  numa família humilde, criado por sua mãe, professora primária, que queria que ele fosse médico, escolheu outro caminho, construindo uma carreira brilhante, com reconhecimento internacional,  no campo da antropologia e etnologia. Teve um presença política forte, atuando, especialmente,  na área da educação. Foi responsável pela organização do Museu do Índio, no Rio de Janeiro e pela criação do Parque Nacional do Xingu, junto com os irmãos Villas-Boas. Dedicou boa parte  de sua vida em pesquisas  educacionais,  sociológicas e antropológicas, realizando estudos etnológicos, de campo, junto a diversas tribos indígenas, analisando os problemas da integração das populações indígenas.
O questionamento sobre o por que o Brasil ainda não deu certo foi  o que motivou  a obra final de Darcy Ribeiro, publicada pouco antes de sua morte,  escrita durante um período de mais de 30 anos, na qual  apresenta o percurso histórico,  trata das matrizes culturais, a matriz tupi, a matriz lusa e a matriz afro, e dos mecanismos de formação étnica e cultural do povo brasileiro, a partir da fusão dessas matrizes. A obra é  revestida de opiniões e impressões formadas pela experiência da vida do autor, suas tantas viagens por esse Brasil afora, em busca de informações,  apresentadas de forma segmentada, com ênfase na matriz indígena.

O antropólogo classifica o brasileiro a partir de 3 tipos diferentes de mestiços: caboclos (pai branco e mãe índia), mulatos (pai branco e mãe negra) e curibocas (pais negros e índios).

Darcy nos dá um panorama do Novo Mundo, nos lembrando que  a documentação que temos é apenas a do dominador.

Antes da chegada do europeu ao Brasil, havia uma povo, o índio, povo composto por diversas tribos, que tinha por objetivo gozar a vida,  simplesmente viver.

Esse povo se bastava sabia fazer tudo que precisava para sobreviver,  vivendo em total  interação  com o meio ambiente.  Havia entre os índios da tribo uma convivência pacífica, mas a arte da guerra era uma atividade importante, considerada honrada, incluindo a prática da antropofagia ritual, em  diversas tribos.
A chegada dos navegadores portugueses no litoral brasileiro ocorreu, tanto  por  uma questão de sobrevivência, encurralado por  fronteiras (Espanha e mar), como pela  revolução mercantil em Portugal e Espanha, a qual estimulou  a procura por novas terras, onde extraíssem matéria-prima e riquezas. Tal expansão recebeu o apoio da Igreja Católica (1454), que via aí a oportunidade de expandir o catolicismo.

Os primeiros grupos tribais encontrados pelos navegantes europeus foram chamados “brasis”, basicamente, grupos do povo tupi, que dominava quase toda a fachada litorânea dos trópicos brasílicos. Num primeiro momento, os índios pensaram que aqueles homens brancos que chegaram das águas grossas eram gente do Deus-Sol  Mais tarde, essa visão se dissipou, ao serem vitimados pelas doenças trazidas por aqueles homens e pela opressão ao se tornarem vítimas de tantas provações. Aos olhos dos índios, a destruição de sua base social,  o cativeiro,  a necessidade de acúmulo de riquezas que eles demonstravam ter era inexplicável e indigno. A pregação missionária era como um flagelo, culpando-os sobre os males, introduzindo o conceito do pecado, do bem e do mal. Assim, horrorizados com sua perspectiva de futuro, muitos índios fugiram para as matas. Outros, deitavam em suas redes e se deixavam morrer ali, de tristeza .  Mas a atração pelas ferramentas e tantas novidades fez com que muitos voltassem, preferindo o convívio com os brancos.

Nos primeiros anos da presença dos portugueses na Amazônia, índios foram  escravizados  para buscarem   na floresta   as especiarias,  os produtos lá existentes,  isto porque nenhum colonizador sobreviveria na mata sem esses índios.

Ocorreu uma forte participação da igreja, em que  todas as ordens religiosas aceitaram sem resistência, o papel de amansadores de índios, para sua incorporação na força de trabalho e para serem catequizadas,  forçando-os ao uso do português e à aculturação, num trágico  etnocídio. Mais para frente, os jesuítas entraram em conflito com   os mercadores que escravizavam os índios, como “gado humano”, e  ameaça de extinção dos índios levou os jesuítas a  construírem missões onde poderiam ensinar o catolicismo.  Para Darcy Ribeiro, as missões foram uma primeira experiência socialista.

O processo de destruição das culturas indígenas e negras foi bastante semelhante, como podemos constatar a partir da introdução da terceira matriz, o africano, que  se deu quando os portugueses resolveram fazer o engenho de açúcar, movido por mão-de obra escrava. Começaram a trazer milhões de escravos de diversas regiões da  África. Metade morria na travessia, na brutalidade da chegada, de tristeza, mas milhões deles incorporaram-se ao Brasil. Envolvidos no maior movimento de migração compulsória de que se tem notícia, em toda a história da humanidade, eles principiaram a chegar aos nossos trópicos ainda na primeira metade do século XVI.
Os escravos negros trazidos  para o Brasil  eram dispersados por esta terra, evitando que um mesmo povo (ou etnia) permanecesse unido. Trouxeram consigo, além do repertório genético, toda uma imensa gama de procedimentos técnicos e de criações simbólicas.

Negros da chamada civilização tropical africana aparecem como uma das principais vertentes  no processo de construção da sociedade e da cultura brasileiras.

A diversidade   lingüística e cultural dos   contingentes negros  introduzidos no Brasil,

somada  a essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e à política de evitar a  concentração  de escravos  oriundos  de   uma  mesma  etnia, nas  mesmas

propriedades, e até nos mesmos navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano.

Quando os negros foram abolidos da escravatura, deixaram as fazendas e casas,  caíram na miséria, pois cada vez que se fixavam em um lugar, os fazendeiros os expulsavam, dizendo que toda a terra que existia já tinha dono. Muitos abolidos, grupos de ex escravos famintos acabaram aceitando  trabalho quase que na mesma condição de escravos. Outros, seguiram para as cidades, ambiente menos hostil, para os já formados bairros africanos, onde encontravam negros já instalados e que viriam formar as futuras favelas.
À medida que os portugueses faziam filhos nas negras e índias, uma nação de mestiças surgia, mestiçagem que ia além da questão genética.  “Os brasilíndios ou mamelucos paulistas foram vítimas de rejeição, tanto dos pais, que os viam como impuros filhos da terra,, como da mãe, já que na concepção  dos índios, o filho pertence ao pai. Sem pode identificar-se com uns nem com outros de seus ancestrais, que o rejeitavam,  caíam numa terra de ninguém, a partir da qual constroem sua identidade de brasileiro,  condenados ao que Darcy chama de “ninguendade”, empobrecidos no plano cultural com relação a seus ancestrais europeus, africanos e indígenas, mais receptivos, portanto  às inovações do progresso.
Segundo o autor, dessa fusão surge um povo que adquiriu a incoerência de ser  “novo” e “velho” ao mesmo tempo. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada.
Também porque é um novo modelo de estruturação societária. Velho, porém, porque se viabiliza como   um proletariado externo, um povo que não existe  para si mesmo,

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