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A História Da Riqueza Do Homem – Leo Huberman

Por:   •  12/5/2018  •  Trabalho acadêmico  •  8.913 Palavras (36 Páginas)  •  409 Visualizações

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Fichamento – A História Da Riqueza Do Homem – Leo Huberman

Introdução:

Como aponta o autor logo no prefácio de sua obra, seu objetivo ao redigi-la é duplo: explicar a História através do estudo da Economia e, concomitantemente, explanar sobre a Economia por meio de uma análise da História. Percebe-se, portanto, que Huberman se serve de uma perspectiva bastante usada por vários autores de orientação marxista, à qual ele também seguia. Embora haja o risco de, com sua proposta de estudo do fato histórico sob o lume do fato econômico, cairmos em um reducionismo, é notável a intenção de apreciar criticamente todo o período compreendido entre o início do medievo e as primeiras décadas do século XX, o que é feito de maneira bastante didática e ilustrada por vários exemplos, retomando uma série de acontecimentos fundamentais para a compreensão da política em sua historicidade, bem como seus liames com o modo de produção material de uma dada sociedade.

Parte I: Do Feudalismo ao Capitalismo

Capítulo I: Sacerdotes, guerreiros e trabalhadores

Ao iniciar sua obra, Huberman se propõe a estudar a história econômica e a história mais geral da sociedade pré-capitalista ou feudal. Segundo o autor, o Medievo, período engendrado após o esfacelamento do Império Romano, possuía um sistema de sociedade extremamente estratificado, consistindo em três classes: a dos que rezavam (sacerdotal), a dos que guerreavam (nobre) e a dos que efetivamente trabalhavam (camponesa). Dentro de uma economia essencialmente agrária, após o resfriamento do comércio e a descentralização política, o servo ou camponês colocava-se como sustentáculo da produção material que abastecia também a duas classes privilegiadas (Nobreza e Clero). A riqueza do homem, nestes tempos, resumia-se a um único fator: a terra. Do servo, pelo uso deste fator de produção, eram cobradas taxas abusivas, como a talha e a corveia, além do dízimo requerido pelos clérigos. Não obstante, Huberman chega a aproximar a situação do servo e a do escravo, já que ambos eram explorados economicamente, servindo como pilar para o conforto de uma minoria abastada. Contudo, é resguardada certa distância entre eles, porque, ao contrário do escravo, o servo estaria fixo à terra, dela não podendo ser desmembrado. Destaca-se também, dentro desta primeira explanação sobre o contexto feudal, o poder e a importância da Santa Madre, a Igreja Católica, responsável pela unidade cultural da Europa ocidental sob o signo da religiosidade cristã. Controlando o discurso sobre um mundo para além deste, o celeste, a Igreja adquiriu enorme influência sobre as questões deste mundo, tornando-se a instituição mais rica e poderosa do período.

Capítulo II: Entra em cena o comerciante

Neste capítulo, Huberman disserta sobre o renascimento comercial ao fim da Idade Média, após as cruzadas. Comparando o período anterior ao reaquecimento do comércio àquele posterior a tal reaquecimento (após o século XI ou XII), o autor nos explica a história da produção econômica em cada um destes períodos. Em um primeiro momento, na chamada Alta Idade Média, o capital acumulado pela minoria privilegiada – isto é, pelos padres e guerreiros, era estático, imóvel ou improdutivo, pois era apenas acumulado, não servindo para financiar investimentos ou gerar mais capital. Até porque não havia interesse em investir em excedentes produtivos, visto que o comércio estava enfraquecido. O Estado feudal era completo em si, fabricando o que necessitava e consumindo tudo ou quase tudo que produzia. As condições em geral não favoreciam a atividade comercial: as estradas eram ruins e permeadas de ladrões e saqueadores; havia uma variedade imensa de moedas, que tornava trabalhoso o esparso e fraco comércio existente. Este cenário mudará bastante a partir do século XI, com as Cruzadas, que foram excursões organizadas pela Igreja para “reconquistar as terras sagradas dos infiéis islâmicos”. Huberman sustenta um escopo econômico elipsado por esta finalidade “espiritual”, ou seja: a real motivação para este evento seria, em verdade, conquistar mais terras, riquezas e retomar o controle de importantes rotas comerciais, como as do Mediterrâneo. Com a reabertura de tais rotas, a importância do dinheiro enquanto instrumento de troca é reacendida. Antes deste período, as trocas baseavam-se essencialmente do escambo dos próprios produtos, uns pelos outros. Percebe-se então um renascimento do comércio não só na costa do Mediterrâneo, mas também dentro do continente europeu (com suas grandes feiras periódicas). Com uma economia mais complexa e com trocas comerciais mais numerosas e rápidas, o feudo autossuficiente aos poucos se converte em economia de mercado.

Capítulo III: Rumo à Cidade

Retomando o assunto do capítulo anterior, a ideia de Huberman nesta parte é demonstrar como o crescimento em tamanho e complexidade do comércio engendrará o crescimento das cidades, olvidadas pela sociedade feudal, que era essencialmente ruralista. As feiras aumentam, ano após ano, de tamanho, trazendo produtos cada vez mais variados nas mãos de gente de todos os cantos. Tornam-se, vez após vez, mais demoradas, indicando uma expansão comercial que viria a engolir a velha ordem socioeconômica medieval. O autor traz a noção de um “Burgo Extramural”, para explicar como as pequenas feiras, organizadas pelos mercadores (burgueses) aos poucos expandem-se, atropelando os muros dos feudos em que eram realizadas. Os muros do Burgo representavam os muros invisíveis impostos pelo sistema produtivo da sociedade feudal, estático, que deve ser substituído pela dinâmica do mercado. Toda esta expansão ocorre em virtude do fortalecimento dos comerciantes, que se organizam em corporações e ligas, como a Hanseática. Estas ligas possuíam regras rígidas, monopolizando as atividades comerciais em determinada localidade e afastando os não-membros. Na busca por liberdade para desempenhar suas atividades econômicas, as ligas exerceram importante papel, pressionando a elite medieval a reduzir (ou isentá-los de) impostos e a conceder proteção e incentivos ao comércio. Percebemos que, em contraposição ao panorama descrito no capítulo I, a riqueza das terras é substituída pela hegemonia do capital.

Capítulo IV: Surgem novas ideias

Huberman reserva esta parte do livro para expor as modificações na moralidade econômica (e talvez social) advindas das mudanças no sistema produtivo vigente. É preciso, novamente, contrapor dois sistemas: o medieval e o pré-capitalista. No medieval, a moralidade aplicada às relações econômicas era a mesma aplicada em todas as outras relações humanas pela teologia cristã. Dizia a Igreja que atividades como emprestar a juros ou cobrar um preço acima do “justo” (que é apenas o necessário para suprir os custos de produção, não obtendo lucro) eram pecaminosas, sendo classificadas como usura. Segundo Huberman, emprestar a juros durante o medievo era considerado pecado porque naqueles tempos, com a debilidade do comércio, só se emprestava em situações de desgraça, para ajudar na sobrevivência alheia, de sorte que seria extremamente imoral lucrar em cima disto. O lucro promoveria um mal-estar espiritual, pois para sua fartura, a carência de alguém foi necessária. Todavia, com o reaquecimento comercial e a necessidade de investir e movimentar o capital financeiro e produtivo, os empréstimos se fizeram necessários em situações menos calamitosas, sendo admitido como justo (dentro da moralidade pré-capitalista e capitalista) o juro resultante destas atividades. Estas diferenciações indicam uma cisão da qual se terá consciência mais tarde, que é a que ocorre entre a moral econômica e a moral usada nas demais relações sociais, resumida no chavão “Amigos, amigos, negócios à parte”. A doutrina antiga cede espaço à lógica das práticas comerciais diárias. Outro ponto destacado pelo autor são as contradições existentes entre o discurso elaborado pela Igreja e sua práxis. A Santa Madre agia como a maior das usurárias, vendendo indulgências e extorquindo através de dízimos abusivos.

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