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Tecnicas psicotenicas tecnicas

Por:   •  17/11/2016  •  Trabalho acadêmico  •  6.157 Palavras (25 Páginas)  •  222 Visualizações

Página 1 de 25

“Essa velha cidade é meu lar desde que lembro

Esta velha cidade vai estar aqui bem depois que eu for

embora.

Lado leste, lado oeste, dê uma boa olhada nela

Você anda mal, mas ainda faz parte de mim”

  • The Michael Stanley Band

“ E você conseguiu o que

Tanto queria desta vida?

Consegui.

E o que queria tanto?

Ser amado, sentir-me amado no mundo.

Raymond Carver,

Late Fragment

Primeiro Prelúdio

        A ideia de escrever esse livro resultou de inúmeras tardes conversando com a luz dos meus olhos, Karen Senna. Sempre tivemos uma vaga ideia de que um dia isso ia acabar acontecendo e por motivos mais do que óbvios: Nossas experiências, desde sempre, foram recheadas de lições que aprendemos simultâneamente mediante várias situações. São dezesseis anos de memórias juntas nessas próximas páginas e pode ser que você, querido leitor, não esteja tão disposto a aprender lições de dois jovens que passavam metade do tempo em completo ócio. Aliás, se formos pensar bem, que tipo de coisas podemos ensinar pra qualquer pessoa?

        Você pode achar que a resposta para essa questão é simplória: Nenhuma lição.

        E talvez você esteja exatamente certo.

        Não considere esse livro como algo que vá mudar sua vida ou que vá te fazer avaliar certas atitudes que vem sendo tomadas por pelo menos uns trinta anos. Não é esse o objetivo.

        A única razão para essa história existir é a vontade que temos de deixar registrado toda a nossa trajetória juntos – O que pode ser cedo, já que ainda temos uma vida inteira pela frente pra colher mais um bocado delas.

        Isso não importa, no final das contas. Certo dia li uma frase de um autor pelo qual sou apaixonado – Stephen King – e nela dizia que não importa o que você escreva ou se é grande demais ou com apenas cinco páginas: Tudo o que o leitor quer saber é o que aconteceu na história. Duas pessoas se conheceram, gostaram uma da outra e decidiram ficar juntas. Certo, isso tudo é muito bacana, mas... O que acontece depois?

        Um senhor de oitenta anos resolve fazer uma viagem de três mil quilômetros em cima de uma motocicleta. Certo, meu caro, mas o que acontece depois?

        Costumo pensar sempre nessa frase quando escrevo qualquer tipo de documento – Seja ele um artigo científico, acadêmico ou apenas memórias como essas que vos apresento – e acho que a matéria-prima de uma história é exatamente essa: O que eu quero emitir é o que você quer receber?

        Minha história com a Karen começou muitos anos atrás, em uma linha que está longa de terminar. Como qualquer conto com início, meio e fim, a nossa não foi diferente. O que separa o extremo do nascimento dela até o presente dia são essas memórias. Certo, Cleber, mas o que aconteceu entre vocês, então?

        Aconteceu isso. Isso.

        E isso também.

Escova de dentes e a injustiça do mundo

        Uma das minhas memórias mais antigas tem a ver com uma escova de dentes.

        Eu tinha seis anos de idade quando a vi em um comercial de televisão: Verde, com um rosto de dinossauro na ponta e escamas em relevo que davam a impressão de estarmos segurando algum réptil. Naquela época era comum que crianças da minha idade estivessem muito mais preocupadas com carrinhos de controle remoto e sapatos que acendiam quando eram forçados no chão, mas meu interesse estava completamente voltado naquela linda escova de dentes.

        Eu era o tipo de criança que vivia na frente da televisão. Creio que muitas das minhas opiniões sobre diferentes temas tenham sido originadas de apresentadores que as externavam e eu levava junto pra minha pequena vida. Eu era uma criança obstinada, pra ser mais exato. Obstinada em mostrar que os adultos, muitas vezes, estavam errados. E que eu aceitava sim as opiniões das outras pessoas – Contanto que fossem iguais as minhas.

        Eu estava disposto a fazer várias coisas super realizáveis quando fosse adulto – Seria um cientista de manhã, professor de tarde e bombeiro de noite. Nos meus dias de folga, que provavelmente seriam nos finais de semana, eu faria alguns trabalhos freelancers como astronauta e cantor de rock. Eram planos que envolviam apenas a minha idade adulta, porque naquela época a única coisa que eu queria era a escova de dentes de dinossauro.

        A propaganda infantil consegue ser até hoje um mercado lucrativo. Não tenha dúvidas que empresas que lucram bilhões por ano só conseguem isso porque seu filho de cinco anos está ávido  em frente a tela sendo convencido de que ele precisa de determinado objeto pra sobreviver. No comercial, que eu lembro com detalhes até hoje, um garoto acordava pela manhã com a maior preguiça do mundo: Tropeçando nos próprios passos, o cabelo todo bagunçado e o pijama cheio de dobrinhas. A mãe já estava com o jeito típico de todas as mães de comerciais: Maquiagem feita, olhos lindos, cabelo deslumbrante e um super sorriso ao abrir a janela do quarto, o que pra mim sempre foi uma crueldade – Ela estava realmente se sentindo deliciada por acabar com o sono do pobre filhinho que não tinha energia alguma pra sequer andar direito.

        Ele então pega a escova de dentes e no instante que faz isso, parece que o mundo inteiro para apenas por aquele momento especial: Uma energia maluca toma conta do então preguiçoso e o garoto que estava tropeçando até dois segundos atrás simplesmente parou de existir. Não sei se pra você isso está claro, mas uma criança de seis anos vai absorver absolutamente tudo o que ver. Comigo não foi diferente, é claro: Eu imaginei que com uma escova daquelas a minha vida mudaria completamente pra melhor. Eu não acordaria cansado pra ir pra escola, seria forte e nem precisaria tomar café da manhã mais. A imagem que o comercial tentou passar foi certeira pra mim: Se eu queria ser o garoto mais popular, forte e destemido do colégio; se eu queria impressionar todos na rua e se queria ter uma força de gigante, a fórmula era mais do que simples – Eu precisava escovar meus dentes com a escova superespecial de dinossauro.

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