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A Base das Lajes

Por:   •  22/11/2021  •  Trabalho acadêmico  •  1.562 Palavras (7 Páginas)  •  139 Visualizações

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Luís Nuno Rodrigues, autor do artigo, elegeu a FCSH da Universidade Nova de Lisboa para se licenciar em História, onde também concluiu o seu mestrado. Doutorou-se em História Americana pela Universidade de Wisconsin com uma tese sobre as relações políticas e diplomáticas entre Portugal e os Estados Unidos durante a administração de Kennedy. Paralelamente doutorou-se em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-IUL. Atualmente, é professor catedrático do Departamento de História do ISCTE e Diretor do Centro de Estudos Internacionais e do Mestrado em Estudos Internacionais nesta mesma instituição. Das suas obras destacam-se A Legião Portuguesa - a milícia do Estado Novo 1936-1944; No coração do Atlântico: os Estados Unidos e os Açores 1939-1948.

Desde que os Estados Unidos prosperaram, assumindo uma posição hegemónica no sistema internacional, o Atlântico, especialmente o Atlântico Norte, tem sido muito importante para a sua estratégia de política externa e o elemento fundamental na construção da relação com os aliados ocidentais. Já antes da sua entrada nas duas guerras mundiais, o Atlântico era visto como crucial para a sua defesa estratégica, com ilhas como as dos Açores. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, decidiram tornar este interesse numa presença permanente por meio de bases militares ao longo do oceano e da Europa.

O artigo “George Kennan e as negociações luso-americanas sobre os Açores” retratam isso mesmo: a importância do Atlântico para os Estados Unidos como uma estratégia de defesa e de apoio aos aliados na Segunda Guerra Mundial, e de como as relações diplomáticas entre Portugal e os Estados Unidos, com especial destaque para o papel desempenhado por George Kennan nestas negociações, foram cruciais para os interesses dos Estados Unidos. O artigo descreve as longas e complexas negociações entre estes países para a “concessão de facilidades nos Açores” (Rodrigues, 2004). O autor descreve-as detalhadamente realizadas entre 1943 e 1944, expondo as pretensões que os comandos militares norte-americanos tinham para a Ilha dos Açores, consoante uma longa lista de facilidades e outros privilégios. No entanto, a diplomacia norte-americana conseguiu atenuar esta lista de pedidos (entendida por Kennan como uma tomada de posse dos Açores pelos Americanos), convencendo-os a aproximarem-se cautelosamente do Governo de Lisboa. Considerava que as facilidades pedidas seriam um afronte à integridade do império português e que aquilo que os americanos queriam pedir era mais do que alguma vez os britânicos tinham conseguido, relembrando, contudo, que os EUA não tinham nada para oferecer a Portugal.

Para Kennan só existiam duas hipóteses: derrubar o regime autoritário do Estado Novo e instalar um regime favorável às pretensões dos EUA ou fazer uma aproximação ao Governo de Lisboa e ganhar a confiança de Salazar (esta apoiada por Kennan). Kennan consegue ser recebido diretamente pelo Presidente Franklin D. Roosevelt, onde consegue uma carta escrita pelo próprio com as garantias de que a integridade do império português não estava em causa, regressando a Lisboa para começo das negociações. O seu plano era conseguir que as forças norte-americanas utilizassem as mesmas facilidades que os britânicos. Só depois da confirmação de Salazar é que Kennan poderia tentar conseguir as tão desejadas facilidades adicionais.

O chefe do governo português concedeu então, aos norte-americanos, as mesmas facilidades concedidas aos britânicos, no entanto, não se sentia preparado para discutir as facilidades adicionais, uma vez que isso seria um convite para Portugal entrar na guerra ao lado dos EUA. Justificou esta posição com o exemplo da invasão de Timor por parte de forças nipónicas, onde Portugal poderia já ter negociado a retirada do Japão se tivesse concedido as facilidades aéreas que os Japoneses pretendessem, o que iria colocar Portugal “na situação estranha de ser um país neutral e simultaneamente negociar com os beligerantes sobre as facilidades no império português” (Rodrigues, 2004).

Na realidade, Salazar receava as consequências para Portugal em relação ao avanço dos Estados Unidos para o Ocidente, dizendo que “as últimas posições defensivas da Europa em relação à América pode-se dizer estão nas mãos de Portugal. Manter a plena disposição delas, mantê-las fora de qualquer compromisso ou servidão nas mãos de uma potência europeia e não agressiva, é alto serviço prestado a toda a Europa”. No entanto, também considerava que se os Estados Unidos eram aliados da Inglaterra, ajudá-los seria um grande serviço prestado ao Império Britânico que poderia fortalecer a aliança luso-britânica. Salazar sabia que, num futuro próximo, os Estados Unidos iriam assumir a sua posição hegemónica e que era necessário o estreitamento de relações entre os dois países, mas enquadrando com a sua neutralidade.

Ora, após a compreensão das reservas do Governo português, Kennan pretendeu apresentar uma proposta inovadora: a sugestão de construção de um novo aeródromo nos Açores (sob discussão posterior da sua utilização) e uma nova localização para o mesmo, uma vez que os técnicos americanos tinham concluído que não seria possível construir um aeródromo na ilha das Flores “pela dificuldade extrema do terreno” (Rodrigues, 2004). Assim, este teria de passar para a ilha de Santa Maria. Relacionando com Timor, a verdade é que caso o Governo Português não conseguisse resolver essa questão, claramente que se iria encontrar numa situação de rutura com o Japão, ao lado dos Estados Unidos. De notar que Salazar tinha a impressão de estar a ser pressionado pelos Estados Unidos e acreditava de que se tratava de uma questão de superioridade dos norte-americanos face aos britânicos, que em nada queriam depender dos ingleses.

Salazar acabou então por conceder a utilização da ilha Terceira para a aviação norte-americana desde que se conciliasse com a aliança luso-britânica. Ainda assim, Salazar não estava inclinado a conceder novas facilidades aos americanos e a “aceitar a cedência de bases nos Açores com base na hipótese” (Rodrigues, 2004) de deixar a sua neutralidade para trás e se colocar ao lado dos Estados Unidos.

Em virtude disto, acabava aqui a primeira ronda de negociações entre os dois países e Kennan tinha conseguido abrir caminho ao acordo que estava para ser assinado em 1944. No entanto, as negociações passaram a ser lideradas pelo embaixador Henry Norweb e Salazar continuava a adiar uma tomada de posição definitiva (só se colocando ao lado dos EUA quando os Aliados estavam próximos de vencer a guerra, uma vez que a sua continuação de recusa poderia colocar em perigo não só Timor, mas toda a integridade do Império Português e do seu regime).

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