Justiça Filme

O filme Justiça é um documentário gravado quase integralmente no interior do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em que expõe o cotidiano dos réus, da defensoria pública, da promotoria, da polícia e dos juízes.

O documentário de Maria Augusta consegue mostrar, acompanhando três casos distintos, os gargalos e as dificuldade da atividade da justiça em Tribunal.

Tendo como sua primeira cena, uma audiência em que um paraplégico é acusado de um delito em que não existem provas nem testemunhas além dos policiais que efetuaram sua prisão e que, além disso, o réu teria pulado um muro para fugir dos policiais, vê-se o Sistema Judiciário Brasileiro distanciar-se do seu fim principal, ao contrário, exercendo de maneira equívoca atividades que culminam em injustiça. Parece aproximar-se da idéia de pessimismo para com o homem de Thomas Hobbes, onde vigora a lei e a força do mais forte. Seria aqui o homem lobo do próprio homem?

Julgando cerca de dez audiências por dia, é impossível que um juiz consiga ser eficiente, além da frieza com que julga os processos. Frieza essa, que podemos observar na cena em que o réu, com necessidades especiais (falta-lhe um dos membros inferiores), pede para que seja transferido para um hospital, já que em sua cela, por conta da lotação, não tem como ficar na cadeira de rodas e se arrasta pelas fezes e urina dos outros detentos, e que o magistrado diz que nada pode fazer por ele.

Com uma polícia corrupta, provas implantadas, ausência de testemunhas por conta do medo da polícia e do tráfico, ausência de penas alternativas, a promotoria pública junto a uma defensoria sem recursos suficientes e, por vezes, seguindo rumos diversos quanto ao verdadeiro sentimento de aplicação da lei, completam o quadro de injustiça. Em uma cena chocante, o réu Carlos Eduardo jura de pés juntos à juíza que a acusação feita a sua pessoa é inverídica, e confessa para sua defensora que realmente é culpado.

Com uma simples câmera, e diferentemente dos outros documentários pois não acontecem entrevistas, Maria Augusta alertou a sociedade sobre o caos carcerário existente no Rio de janeiro. Mesmo sabendo que esse não é somente um problema carioca, ao mostrar o interior da Polinter, observamos centenas de pessoas empilhadas dentro de celas. Sem nenhuma política de reeducação e reinserção na sociedade, aquilo se torna mais um antro de marginalidade, onde os detentos acabam saindo piores do que quando entraram.

Originalmente, o documentário Justiça faz um alerta para a reforma que o sistema judiciário necessita. Ao filmar o interior de um tribunal consegue retratar com delicadeza que não é colocando os marginais na cadeia que resolveremos o problema de violência no Brasil.