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O Acordo de Bretton Woods

Por:   •  14/9/2016  •  Artigo  •  3.247 Palavras (13 Páginas)  •  483 Visualizações

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O acordo de Bretton Woods

O Acordo de Bretton Woods ou "Acordos de Bretton Woods" é o nome com que ficou conhecida uma série de disposições acertadas por cerca de 44 países aliados em julho de 1944, na mesma cidade norte-americana que deu nome ao acordo, no estado de New Hampshire, no hotel Mount Washington. O objetivo de tal concerto de nações era definir os parâmetros que iriam reger a economia mundial após a Segunda Guerra Mundial. O sistema financeiro que surgiria de Bretton Woods seria amplamente favorável aos EUA, que teriam o controle de boa parte da economia mundial bem como de todo o seu sistema de distribuição de capitais. Os EUA finalmente tomavam as rédeas das finanças mundiais, manobra que se recusaram a executar por pelo menos 25 anos, devido a princípios da politica externa do país, que advogava que o não envolvimento em questões político-econômicas sensíveis às nações europeias.

Na Conferência, o governo norte-americano objetivava trazer à tona uma nova ordem econômica e financeira que, de fato, já estava na sua pauta desde o fim da Primeira Guerra Mundial; ou seja, uma ordem baseada no livre comércio e na plena liberdade de movimentação de capitais. Porém, nem tudo saiu como planejado.

Duas propostas estavam colocadas na reunião: a proposta da delegação britânica defendida por John Maynard Keynes e a dos Estados Unidos, defendida por Harry Dexter White. Keynes, que presidiu a mesa de negociações, já era então um dos mais influentes economistas do mundo. A sua proposta visava à criação do International Clearing Union (ICU), uma entidade composta pelos bancos centrais dos países representados que ficariam com o compromisso de registrar e compensar todos os pagamentos internacionais a partir do bancor, a unidade monetária a ser criada com esta finalidade. O banco seria um tipo de moeda mundial, não controlado por nenhum país especifico e que, esperava-se, geraria maior harmonia nas relações entre as nações. O ICU funcionaria como um banco central supranacional podendo conceder crédito aos países associados que estivessem em dificuldades no seu balanço de pagamentos. Além disso, pela proposta britânica, seria permitido aos países adotar restrições cambiais e comerciais sempre que necessário para tornar compatível o pleno emprego com o equilíbrio nas contas externas. Keynes considerava vital o controle dos fluxos de capitais de curto prazo, o que estava de acordo com a intenção de manter a estabilidade cambial e de evitar movimentos especulativos via conta capital do balanço de pagamentos. As taxas de câmbio deveriam ser fixas, porém ajustáveis.

O primeiro passo para tal hegemonia estava na transformação do dólar como moeda forte do setor financeiro mundial e fator de referencia para as moedas dos outros 44 signatários de Bretton Woods. Isso equivale dizer que todas as outras moedas passariam a estar ligadas ao dólar, originalmente variando em uma margem de no máximo 1% (positivamente ou negativamente). Para dar sustento a essa força dólar em escala mundial, a moeda estaria ligada ao ouro a 35 dólares, o que permitia ao portador de dólares (apenas na teoria, pois era pouco funcional na pratica) transformar as notas de dólares que qualquer cidadão carregasse no bolso, em qualquer lugar do mundo, no seu equivalente em ouro, de acordo com o estipulado em Bretton Woods. Evidentemente, tal conta seria impossível de se sustentar, mesmo com uma emissão de moeda extremamente controlada, o que aconteceu na realidade, servindo todo este conceito mais como uma propaganda da consolidação do dólar em escala mundial.

Na réplica norte-americana, a proposta de Harry White mantinha o ouro como meio de pagamento internacional, entretanto, apenas o dólar teria seu valor diretamente fixado em ouro (US$ 35 por onça de ouro). Os demais países fixariam o valor de suas moedas a partir do dólar e manteria a paridade fixa, o que deixava o dólar numa posição singular no novo arranjo.

Os EUA fizeram prevalecer seus interesses na maior parte dos princípios acordados. Na prática, a única proposta que os ingleses conseguiram emplacar foi aquela que Keynes não abriu mão: o controle de fluxo de capitais de curto prazo. A estabilidade das taxas de câmbio era concebida como peça fundamental do novo arranjo, uma vez que, as desvalorizações competitivas (a política do beggar my neighbor) adotadas pós-crise de 1929 foram consideradas como uma das causas que provocaram a Segunda Guerra Mundial. Do mesmo modo, havia certa desconfiança quanto ao papel das finanças internacionais no desencadeamento da Grande Depressão no entre guerras; em razão disso existia um grande apelo à criação de um sistema financeiro que colocasse um fim nos efeitos nefastos das taxas cambiais flutuantes e da sua “destabilizing speculation”.

Ao invés do ICU, foi criado o Fundo Monetário Internacional (FMI) para administrar o sistema internacional de pagamentos. Mais limitado, o FMI deveria promover a cooperação monetária e proporcionar auxílio aos países que enfrentassem dificuldades nas suas contas externas.

Na Conferência ficou estabelecido que problemas no balanço de pagamentos não devessem ser resolvidos através da restrição dos fluxos de comércio entre os países, e eventuais mudanças nos valores cambiais precisariam ser acordadas de forma cooperativa. O FMI acataria a mudança na taxa de câmbio se o desequilíbrio a ser corrigido estivesse na conta de transações correntes, sobretudo na balança comercial. O acordo previa a possibilidade de variações no valor das moedas que não ultrapassassem +/- 1% dos níveis estabelecidos em relação ao dólar para corrigir o desequilíbrio na conta. Poderiam ocorrer casos em que a desvalorização devesse ser maior: variações superiores a 1% e inferiores a 10% o país se comprometia a comunicar formalmente, e para variações superiores a 10%, apenas com a autorização do FMI. Nesses casos, somente seriam permitidos os países que estivessem em estado de “desequilíbrio fundamental”. Evidentemente, o dólar era a única moeda que não poderia sofrer ajustes, sem colocar em risco a ordem monetária internacional estabelecida.

Nos círculos da grande finança de Wall Street, tanto a criação do FMI quanto o controle dos fluxos de capitais foram considerados um passo atrás na busca de uma ordem liberal como nos tempos do padrão-ouro. Como relata Moffitt, a ideia de que os Estados Unidos iriam bancar uma instituição internacional que disputasse o monopólio dos bancos no mercado internacional de crédito sofreu a repulsa dos grandes bancos sediados em Nova Iorque. Os banqueiros abominavam a ideia de ter que dividir seu poder sobre o crédito internacional com uma instituição financiada pelo governo norte-americano. Além disso, na visão desses banqueiros, o FMI poderia incentivar a irresponsabilidade fiscal na medida em que os países em dificuldades no seu balanço de pagamentos teriam direito a obter crédito oficial do novo organismo.

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