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OS CONSUMIDORES DO SÉCULO XXI, CIDADÃOS DO XVIII

Por:   •  12/4/2018  •  Resenha  •  2.678 Palavras (11 Páginas)  •  554 Visualizações

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CANCLINI – CAP 1: CONSUMIDORES DO SÉCULO XXI, CIDADÃOS DO XVIII

 Livro de Canclini tenta entender como as mudanças na maneira de consumir alteraram as possibilidades e as formas de exercer a cidadania, que, ambas, sempre estiveram ligadas à capacidade de apropriação de bens de consumo e como usá-los. Com o tempo, as pessoas perceberam que muitas das perguntas próprias do cidadão (de que lugar pertenço e que direitos isso me dá, quem representa meus direitos) receberam respostas por meio do consumo privado de bens e dos meios de comunicação de massa, regras abstratas da democracia ou pela participação coletiva em espaços públicos.

O próprio e o alheio: uma oposição que se desfigura

 Pode-se perceber o caráter radical que as mudanças examinando a maneira como os significados de certas expressões do senso comum variaram até não terem mais nenhum sentido.  A luta das gerações à respeito do necessário e do desejável mostram outro modo de estabelecer as identidades e construir nossa diferença. Afasta-se da época em que as identidades eram definidas por essências a históricas e que, atualmente, configuram-se no consumo, dependendo daquilo que se possui ou daquilo que se pode chegar a consumir. As transformações constantes na tecnologia de produção, design e comunicação tornam instáveis as identidades fixadas em repertórios de bens exclusivos de uma comunidade.

 Como vamos estar felizes com o próprio se sequer sabemos o que é? O valor simbólico de consumir produtos nacionais era sustentado por uma racionalidade econômica, uma vez que nos séculos XIX e XX, ter bens e marcas estrangeiras era um recurso de prestígio. Esta oposição esquemática, dualista, entre o próprio e o alheio não parece fazer muito sentido quando compramos um carro Ford com suas peças fabricadas em diferentes partes do mundo. Assim, os objetos perdem a relação de fidelidade com os territórios originários. A cultura é um processo de montagem multinacional, uma articulação flexível, em partes, uma colagem de traços de qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ler e utilizar.

 A diferença entre internacionalização e globalização é que no tempo da primeira, a maioria dos bens consumidos era gerado pela própria comunidade e havia alfândegas e leis que que protegiam o que se produzia em cada país. Agora, o que se produz no mundo todo está difícil de saber o que é o próprio. A internacionalização foi uma abertura das fronteiras de cada sociedade para incorporar bens e símbolos dos outros lugares. A globalização supõe uma interação funcional de atividades econômicas e culturais dispersas, sendo mais importante a velocidade com que se percorre o mundo. O descontentamento provocado pela globalização pode ser entendido pelo fato de que se torna cada vez mais obsoleto os setores (arte feita pela obsolescência periódica e não por impulso do experimentador). Outro descontentamento é causado pela capacidade em que se multiplicam as carências (globalização gera redução de empregos para reduzir custos).

Qual a dúvida cabível?

 Abordagem sobre dois movimentos de suspeitas: o que não creem que o global se apresenta como substituto do local e dos que não acreditam que o modo neoliberal de nos globalizarmos seja o único.

  A globalização em relação as culturas locais e regionais não pode ser pensada como aquela que procura apenas homogeneizá-las, uma vez que as diferenças nacionais persistem com a transnacionalização e o modo de como o mercado reorganiza a produção e consumo. Daí surge a pergunta: será que o estilo neoliberal de nos globalizarmos o único ou o mais satisfatório para efetuar a reestruturação transnacional das sociedades? Para responder, é preciso examinar o que a globalização, o mercado e o consumo têm de cultural. Nada disso existe se os homens não se relacionam ou constroem uma sociedade.

  Que outras perspectivas existem hoje? Pensavam-se o olhar político como alternativa, porém o mercado lutou contra sendo mais eficaz para organizar a sociedade e submetendo a política às regras do comércio. É necessário, então, dirigir-se ao núcleo daquilo que na política é relação social: o exercício da cidadania. Vincular o consumo com a cidadania e vice-versa, é preciso a desconstrução das concepções que julgam os comportamentos dos consumidores como irracionais e as que somente vêem os cidadãos atuando em função da racionalidade dos princípios ideológicos. Assim, costuma-se imaginar o consumo como o lugar do supérfluo e a ideia de reduzir a cidadania a uma questão política.

   Autor analisa o livro de Habermas e parte do princípio de que o consumo serve para pensar e quando selecionamos bens e nos apropriamos deles, definimos o que consideramos valioso, bem como os modos de nos integramos e nos distinguimos na sociedade. Esta abordagem coincide com o pensamento de que ser cidadão não tem a ver apenas como os direitos reconhecidos pelo Estado, mas também com as práticas sociais e culturais que dão sentido de pertencimento.

  Repensar a cidadania como “estratégia política” serve para abranger as práticas emergentes não consagradas e o papel das subjetividades na renovação da sociedade. Isso implica em reivindicar os direitos de aceder e pertencer ao sistema sociopolítico. Repensar a cidadania em conexão com o consumo e como estratégia política, deve ser considerado conjuntamente as atividades do consumo cultural que configuram uma dimensão de cidadania (cultural, social, racial, gênero). Antigamente, o Estado garantia um enquadramento a essa variedade de participações na vida pública, ainda que fosse injusto e limitado, porém, atualmente, o mercado estabelece um regime convergente para essas formas de participação por meio do consumo. Por isso, precisamos de uma concepção estratégica do Estado e do mercado que articule as diferentes modalidades de cidadania nos velhos e novos cenários.

   Os meios eletrônicos fizeram irromper as massas populares na esfera pública que foram deslocando o desempenho da cidadania em direção às práticas de consumo. Foram estabelecidas outras maneiras de se informar, de entender as comunidades e que se pertence, de conceber e exercer os direitos. Entretanto, não se trata do fato de os velhos agentes - partidos - terem sido substituídos pelos meios de comunicação, a aparição deste último, põe em evidência uma reestruturação geral das articulações entre o público e o privado que também pode ser percebida no reordenamento da vida urbana.

O novo cenário sociocultural 

Cinco processos de mudanças socioculturais:

1 - redimensionamento das instituições e dos circuitos do exercício público: perda de peso dos órgãos locais e nacionais em benefício dos conglomerados empresariais de alcance transnacional  

2 - reformulação nos padrões de assentamento e convivência urbanos: do bairro aos condomínios, das interações próximas às disseminação policêntrica onde as atividades básicas se realizam longe do lugar de residência.

3 - reelaboração do “próprio”, devido ao predomínio dos bens provenientes de uma economia e cultura globalizada

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