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Atigo Sobre Charge: Características Do Ponto De Vista De Bakhtin

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Por:   •  20/8/2014  •  3.430 Palavras (14 Páginas)  •  614 Visualizações

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A RELAÇÃO DIALÓGICA NA CHARGE

Norma Facchini (Unicsul) ( )

Ielson José dos Santos (Unicsul) ( ) ( )

Resumo

A charge é um gênero discursivo que se caracteriza por integrar desenho e escrita num único conjunto, ainda que nem sempre haja elementos verbais. O seu objetivo é expressar um posicionamento denso do autor sobre acontecimentos contundentes que ocorrem no momento em que se estabelece a relação discursiva entre esses fatos. proposta deste artigo é identificar nesse gênero discursivo como se estabelecem as interações verbais e as não verbais e mostrar como alguns elementos dessa construção se relacionam e dão suporte a essa criação, segundo a perspectiva do pensador Bakhtin e do Círculo. Dialogismo, enunciado, gênero do discurso, cronotopia, exotopia, polifonia; estilo e obra estética são alguns dos conceitos bakhtinianos que irão nortear este artigo. A charge selecionada foi publicada no site charges online.

Palavras-chaves: dialogismo, cronotopia; exotopia; polifonia; estilo; obra estética.

Considerações iniciais

O diálogo e o enunciado são conceitos interdependentes no pensamento bakhtiniano. O enunciado de um sujeito apresenta-se de maneira acabada e solicita do outro o enunciado como resposta. O acabamento é relativo, pois ele está inserido em um linha do tempo, na qual insere-se um diálogo social e dinâmico. Para o sistema bakhtiniano, o diálogo é a forma mais importante na interação verbal e a sua valorização legitima o reconhecimento da linguagem viva, em ato (MARCHEZAN, 2012).

De acordo com Fiorin (2010), toda palavra dialoga com outras, existe uma dialogização que é passada pela palavra, no processo de comunicação, mas dialogismo não se confunde com a interação face a face; ele está sempre entre discursos, pois todos os enunciados são dialógicos, eventos únicos e irrepetíveis. A relação dialógica produz efeito de sentido que ocorre entre enunciados na comunicação verbal. O enunciado, sendo uma réplica de outro enunciado, possui um acabamento, pois ele constitui um todo de sentido, e a sua materialidade revela sempre uma posição de autoria.

O dialogismo, para Sobral (2009), expressa a condição básica do ser e do agir do sujeito: o sujeito só existe na relação com outros sujeitos, da mesma maneira que só age em relação a atos de outros sujeitos. No âmbito desse pensamento está a afirmação de que o dialogismo é a sustentação de uma composição de enunciados/discursos, que ultrapassam as réplicas em “uma superfície textual”.

Segundo Bakhtin (2013), o uso da língua efetiva-se em enunciados concretos, únicos, sejam orais, sejam escritos e não há esfera de atividades humanas que não estejam relacionadas com o uso da língua. Cada esfera de utilização da língua constrói seus tipos de enunciados, parcialmente estáveis, e essa criação relativamente estável nomeia-se gênero do discurso, que mantém uma forma mais padronizada.

Criação estética e polifonia

Cronotopia e exotopia são dois conceitos de Bakhtin, que abordam a relação espaço e tempo de maneiras distintas. O primeiro atém-se a uma produção da história, e o segundo trata da questão da criação individual. Exotopia expressa a tensão entre um sujeito, que olha a partir de um determinado espaço um “estar num lugar fora”, e um outro sujeito que, situando-se fora da experiência do primeiro, tenta expressar o que vê do olhar do outro. Esse movimento de tentar enxergar com os olhos do outro, voltar à sua exterioridade e fazer intervir seu próprio olhar, sua posição única com seus valores num dado contexto, chama-se criação estética. (AMORIM, 2012).

É a partir da posição exotópica, que é possível construir o trabalho estético, pois o “estar num lugar fora” possibilita visualizar o mundo com uma dada distância, e essa visão apropriada será transformada pelo autor em uma construção arquitetônica da obra, estética ou não. A diferença entre ambas, segundo a concepção bakhtiniana, é que a obra estética resulta de temas referentes ao mundo dos homens, suas interações, suas questões éticas, e da articulação, que deve ocorrer entre autor, interlocutor e o tópico. A organização dessas partes que constituem a obra é que irá estabelecer uma unidade de sentido. (BRAIT, 2012).

Segundo Sobral (2010), o tema da obra estética são as questões do mundo, dos homens, suas opções éticas, suas interações, que estão representadas na construção da obra estética. Para Bakhtin, um sujeito responsivamente ativo se define na relação com os outros em uma sociedade, num determinado momento histórico. Segundo Bakhtin, a vida dos seres humanos define-se como uma sequência de atos éticos, responsáveis e responsivos.

Estilo, pelo pensamento de Bakhtin, está baseado na relação das vozes que se enfrentam para constituir a unicidade de um enunciado, de uma autoria (BRAIT, 2010). De acordo com a linha de pensamento de Bakhtin, ato estilístico, segundo Fiorin (2008) é uma opção por recursos lingüísticos, como a escolha de itens lexicais, tendo em vista o interlocutor e sua presumida compreensão responsiva do enunciado. O estilo é um dos componentes do gênero.

Polifonia é a posição do autor como regente de sujeitos que interagem no processo dialógico. Suas vozes são diversas, não se misturam, e as consciências desses sujeitos são independentes. O movimento interior que ocorre no homem personagem é priorizado em uma história social e cultural de sua época. O autor-criador privilegia a relação dialógica entre autor e personagem em um ativismo que estabelece uma relação dialógica entre a consciência criadora e a consciência recriada. (BEZERRA, 2010).

Pela teoria bakhtiniana, as forças centrípetas atuam monologicamente sobre a linguagem. O riso se opõe a essas forças, às verdades oficiais dos discursos de autoridade e conduz a uma sutil percepção da existência discursiva, que desmistifica o discurso do poder, apontando-o como um entre outros, destruindo o unilinguismo fechado e emergindo o plurilinguismo: inserção de discursos do outro na linguagem do outro. Ao ridicularizar a voz séria, simultaneamente, afirma-se uma alegria com a outra voz, e nega-se

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