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Seminário Final De Estágio

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Por:   •  14/3/2015  •  1.832 Palavras (8 Páginas)  •  506 Visualizações

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Não é possível se falar da compreensão de educação de Paulo Freire sem nos referirmos e nos determos numa parte intrínseca dela: o seu “Método de Alfabetização”. Esse vai além da simples alfabetização. Propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do mundo. Suas idéias nasceram no contexto do Nordeste brasileiro a partir da década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes eram analfabetos, com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades.

Freire aplicou, pela primeira vez, publicamente, o seu método no “Centro de Cultura Dona Olegarinha”, um C írculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP) para discussão dos problemas cotidianos na comunidade de “Poço da Panela”.

Dos 5 alunos, três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 abandonaram o “curso”.

O método de alfabetização de Paulo Freire é resultado de muitos anos de trabalho e reflexões de Freire no campo da educação, sobretudo na de adultos em regiões proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, de Pernambuco. No processo de aprendizado, o alfabetizando ou a alfabetizanda é estimulado(a) a articular sílabas, formando palavras, extraídas da sua realidade, do seu cotidiano e das suas vivências. Nesse sentido, vai além das normas metodológicas e lingüísticas, na medida em que propõe aos homens e mulheres alfabetizandos que se apropriem da escrita e da palavra para se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo. O método Paulo Freire estimula a alfabetização/educação dos adultos mediante a discussão de suas experiências de vida entre si, os participantes da mesma experiência, através de tema/palavras gerador(as) da realidade dos alunos, que é decodificada para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. As experiências acontecem nos Círculos de Cultura.

“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.”

FREIRE P.. (1982) Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra (6ª edição), pp. 09-12.

O “MÉTODO PAULO FREIRE” ESTÁ ESTRUTURADO EM TRÊS ETAPAS:

1) Etapa de Investigação: aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele vive, as palavras e temas centrais de sua biografia.

2) Etapa de Tematização: aqui eles codificam e decodificam esses temas, buscando o seu significado social, tomando assim consciência do mundo vivido.

3) Etapa de Problematização: aluno e professor buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido.

Em seu livro Educação como Prática da Liberdade, Freire propõe a execução prática do Método em cinco fases, a saber:

1ª fase: Levantamento do universo vocabular dos grupos com quem se trabalhará. Essa fase se constitui num importante momento de pesquisa e conhecimento do grupo, aproximando educador e educando numa relação mais informal e, portanto mais carregada de sentimentos e emoções. É igualmente importante a anotação das palavras da linguagem dos componentes do grupo, dos seus falares típicos.

2ª fase: Escolha das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado. Esta escolha deverá ser feita sob os critérios: a) da sua riqueza fonética; b) das dificuldades fonéticas, numa seqüência gradativa das menores para as maiores dificuldades; c) do teor pragmático da palavra, ou seja, na pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural, política etc.

3ª fase: Criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar. São situações desafiadoras, codificadas e carregadas dos elementos que serão decodificados pelo grupo com a mediação do educador. São situações locais que, discutidas, abrem perspectivas para a análise de problemas locais, regionais e nacionais.

4ª fase: Elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho. São fichas que deverão servir como subsídios, mas sem uma prescrição rígida a seguir.

5ª fase: Elaboração de fichas para a decomposição das famílias fonéticascorrespondentes aos vocábulos geradores. Esse material poderá ser confeccionado na forma de slides, stripp-filmes (fotograma) ou cartazes.

“É mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que tem como cerne de suas preocupações a natureza política.” (A Voz da Esposa - A Trajetória de Paulo Freire)

EDUCAÇÃO E POLÍTICA

“As chamadas minorias, por exemplo, precisam reconhecer que, no fundo, elas são a maioria. O caminho para assumir-se como maioria está em trabalhar as semelhanças entre si e não só as diferenças e assim criar a unidade na diversidade, fora da qual não vejo como aperfeiçoar-se e até como construir-se uma democracia substantiva, radical.” (Freire, Paulo. Pedagogia da esperança. Paz e Terra, 1992).

Para Paulo Freire, cidadão significa "indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado" e cidadania "tem que ver com a condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão". É assim que ele entende "a alfabetização como formação da cidadania" e como "formadora da cidadania". (FREIRE, Paulo. Política e Educação, Cortez, 1993.) A práxis freireana trata a educação para além da sala de aula, relaciona-se a todo um contexto de opressão social e ausência de democracia. De maneira ampla e diversificada, suas idéias alcançam as áreas da economia, das ciências sociais, da física, da química, da psicologia, da política, entre outras. Trata, evidentemente, de construir a cidadania para cada um e para todos.

“Um desses sonhos para que lutar, sonho possível mas cuja concretização demanda coerência, valor, tenacidade, senso de justiça, força para brigar, de todas e de todos os que a ele se entreguem, é o sonho por um mundo menos feio, em que as desigualdades diminuam, em que as discriminações de raça, de sexo, de classe sejam sinais de vergonha e não de afirmação orgulhosa ou de lamentação puramente cavilosa. No fundo, é um sonho sem cuja realização a democracia de que tanto falamos, sobretudo hoje, é uma farsa.” (FREIRE, Paulo. Política e Educação, 2001.)

É essa prática libertadora que chega como experiência inovadora à cidade de Angicos/RN, no início da década de 1960. No exílio, essa pedagogia avança para outros países, chegando a praticamente todos os continentes. Paulo Freire trabalha na África, Ásia, Europa e América (com exceção do Brasil), alfabetizando, politizando, conscientizando, indicando os caminhos para a libertação. A experiência africana, na década de 1970, onde camponeses, homens e mulheres trabalhadores, participaram de processos de alfabetização, em áreas de tensões e conflitos de classe, resultou na consolidação e reconhecimento do “método”. No continente africano, Freire esteve na Tanzânia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.

“A cidadania é uma invenção coletiva. Cidadania é uma forma de visão do mundo”. (Paulo Freire)

Desde os seus primeiros passos na prática pedagógica, Paulo Freire optou por uma pedagogia política centrada na liberdade e na autonomia do ser, propondo a politização da educação.

Ao avaliar que o processo do conhecimento acontece quando o indivíduo, ao se reconhecer humano, é estimulado a refletir sobre os seus problemas na vida cotidiana, otrabalho pedagógico político de Paulo Freire movimenta-se para o homem excluído das ações políticas, julgado, pelos poderosos como incapaz de definir sua existência.

Aliando educação e política, fazendo-as caminhar juntas no seu trabalho de acompanhamento pedagógico de homens e mulheres iletrados, em várias partes do mundo, Paulo Freire os motivou à reconquista dos seus direitos e da sua voz, via apropriação da palavra, da leitura e da escrita. Ler o mundo, lendo a palavra, surge como esperança possível para homens e mulheres de redescobrir seus próprios valores e encontrar-se com seus semelhantes em busca de libertação das forças que os oprimem. Educação e Política, na concepção freireana, apontam sempre na direção de um ser pleno de cidadania, capaz de assumir para si o comando dos seus processos de existência liberta e progressista.

DIZER A PALAVRA E TRANSFORMAR O MUNDO

“Fui alfabetizado (...) com palavras do meu mundo, não do mundo maior dos meus pais. (...) Já homem, eu proponho isso! Ao nível da alfabetização de adultos, por exemplo.”(in Sobre Educação - Freire, P. e Guimarães, S. 1982 p.14-15).

O quadro negro era o chão do quintal. Os gravetos o seu giz. As palavras que Paulo Freire aprendeu, quando criança, ensinadas por sua mãe debaixo das mangueiras, transformaram-se no mais legítimo instrumento de conscientização e transformação.

Foi um humanista, seu pensamento inspirou-se no personalismo de Emmanuel Mounier, bem como no existencialismo, na fenomenologia e no marxismo, sem, contudo, tornar-se mais um multiplicador e repetidor dessas doutrinas. Soube assimilar elementos fundamentais para incluí-los na sua concepção pedagógica.

Os textos de Paulo Freire unem correntes diferentes do humanismo e marxismo, conferindo-lhes pluralidade e fazendo com que um público mais numeroso tenha acesso à sua obra.

A escritora Rosiska Darcy de Oliveira e Pierre Dominicé observam que o pensamento de Freire corre o risco de servir a cada leitor segundo seus interesses.

É que a sua pedagogia acabou sendo revestida de uma expressão universal, uma vez que a relação oprimido-opressor que ele abordou ocorre universalmente e suas teorias se enriqueceram com as mais variadas experiências de grande parte do mundo.

Ao sul do Chile, por exemplo, seu método foi aplicado de forma bilíngüe por Izabel Hernández com os índios mapuche, que contam mais de 600 mil habitantes naquele país. Paulo Freire esteve em vários países da Europa, África, Ásia, América Latina, Estados Unidos e Canadá, aplicando seu método, promovendo consciência, libertação e transformação.

“O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade para a transformar. (...) Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas e contornos não discirna; (...) Isto é verdade se se refere às forças da natureza (...) isto também é assim nas forças sociais (...). A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer.“(FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987).

Em um país, como o Brasil, onde 16 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, a metade deste número concentrada em menos de 10% dos municípios do país, segundo o Mapa do Analfabetismo do Ministério da Educação, em 2003, em um mundo com mais de 875 milhões de analfabetos, mais da metade concentrada na África e na Ásia, a alfabetização como prática de inclusão social e transformação ainda é o caminho mais seguro para erradicar a miséria no planeta, notadamente nos países do Terceiro Mundo. Somente no Brasil, mais de 27 milhões de crianças vivem em situação de pobreza. É contra essas alarmantes estatísticas que a pedagogia de Paulo Freire se adianta, inserindo a palavra como símbolo de transformação e evolução. Outro mundo é possível.

“A educação como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática de dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado no mundo, assim também na negação do mundo como uma realidade ausente nos homens.” (Paulo Freire, Educação como prática da liberdade).

Referências Bibliográficas

http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/pensamento/01_pensamento_o%20metodo_paulo_freire.html

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