TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

A História da Umbanda

Por:   •  14/9/2020  •  Resenha  •  4.366 Palavras (18 Páginas)  •  90 Visualizações

Página 1 de 18

História da Umbanda

Umbanda é uma religião monoteísta e afro-brasileira, surgida em 1908, fundada por Zélio Fernandino de Moraes.

A palavra "umbanda" pertence ao vocabulário quimbundo, de Angola, e quer dizer "arte de curar".

Toda religião é formada a partir de cultos e culturas passadas, através de ritos, mitos e simbologias anteriores, combinando-os e dando-lhes um novo significado, uma nova aparência.

 Assim como também ocorreu com o Judaísmo, o Cristianismo, Hinduísmo, entre outros. Novas religiões, como a Umbanda, nascem da necessidade de dar novos significados a símbolos antigos, dando um novo sentido a nossas vidas. A juventude da Umbanda, “como um organismo vivo, nos possibilita reconhecer sua ancestralidade na forma de uma árvore genealógica, identificando suas ‘origens’” (CUMINO, 2015, p. 33).

Como uma religião nova, seus valores fundamentais são ancestrais, com base em cultos afros, nativos, kardecistas, católicas e, ainda, um pouco de cultos orientais, como o budismo e o hinduísmo, e da magia.

A Umbanda resgata estes valores ancestrais, renova suas interpretações, ressignificando seus símbolos, que se acomodam e assumem uma identidade nova e única. Portanto, para podermos pensar em uma religião umbandista, é necessário abordar a religiosidade brasileira de forma ampla, isto é, apresentar um panorama geral das religiões e cultos praticados no Brasil a fim de destacar os elementos multiculturais que influenciaram na construção e surgimento da Umbanda. Em outras palavras, precisamos discutir o cruzamento de culturas distintas que permitiram a mesclagem religiosa das etnias ameríndias, europeias e africanas.

Quando várias religiosidades se encontram, como ocorreu no Brasil, tende a haver, por um lado, a estratificação de uma delas, cujo simbolismo será considerado “superior” ou mais “verdadeiro” rejeitando-se os demais. Por outro lado, existirá a tendência de as religiões consideradas “inferiores” estabelecerem equivalências entre as divindades tidas como “superiores”, colocando-as num mesmo nível de valorização sem que isto, contudo, venha afetar significativamente as peculiaridades de cada religiosidade (OLIVEIRA, 2008, p. 32-33).

Para Bastide (1971), foi a homogeneidade do pensamento místico encontrado em todas as culturas e em todas as épocas que favoreceu a convergência das diversas práticas religiosas brasileiras.

 Foram as semelhanças entre as religiões, mais do que o movimento de desagregação cultural exercido pela coerção senhorial, que permitiram o sincretismo entre Yurupari, Jesus e Oxalá.

Foi a devoção aos inúmeros santos católicos que permitiu aos africanos estabelecerem um quadro de aproximações com o panteão iorubá. Na mesma linha de raciocínio, pode-se dizer que foi a semelhança entre o culto aos ancestrais dos negros bantos que aproximou a macumba carioca do kardecismo francês, na virada do século XIX para o século XX (OLIVEIRA, 2008, p. 33).

Em resumo, embora a Umbanda seja popularmente considerada uma religião de matriz africana, ou afro-brasileira, na realidade, ela é um sistema religioso com origem em diversas matrizes:

 • Catolicismo – Sincretismo através do uso de imagens, orações e símbolos católicos; culto de Jesus Cristo e alguns santos católicos (a depender da vertente seguida na casa).

 • Africana – Culto aos Orixás e sua complexidade cultural, espiritual, medicinal e ecológica; culto aos pretos-velhos.

• Indígena – Pajelança; sabedoria ancestral indígena em seus aspectos culturais, espirituais, medicinais e ecológicos; culto aos caboclos.

• Kardecismo – Estudo e uso da bibliografia e da Doutrina Espírita; trabalhos de cura e doutrina que se assemelham aos realizados no kardecismo; culto de médicos espirituais.

• Oriental – Estudo, compreensão e aplicação de conceitos como plana, chacra e outros; culto da Linha do Oriente e Linha Cigana. O que se verificou no universo religioso do Brasil foi que as religiões, que aqui se encontraram, romperam seus limites e se amalgamaram, dando origem às novas formas de religiosidade: uma religiosidade mestiça (OLIVEIRA, 2008, p. 60).

A Umbanda como manifestação de luta e resistência:

história, intolerância e processo de legitimação

A partir de agora, vamos apresentar o surgimento da Umbanda de forma mais concreta: os elementos culturais e históricos que o influenciam, o mito de fundação da religião baseada na manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no médium Zélio de Moraes, e, por fim, o próprio movimento de sistematização, consolidação e luta por legitimação da Umbanda.

Breve histórico do surgimento da Umbanda

 Apesar da fundação mais difundida na Umbanda seja a partir de Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, vimos que nada surge do nada, da noite para o dia. Sendo assim, faremos uma breve passagem de como os elementos culturais de diferentes etnias se cruzaram e propiciaram o surgimento da nova religião: a Umbanda.

Para uns, Umbanda era kardecismo-africanizado; para outros, africanismo-embranquecido; no entanto, nem uma nem outra definição de Umbanda é algo novo que nasce neste solo brasileiro. Não é a religião de uma etnia (do negro, brando ou vermelho), mas o fruto do encontro delas produzindo um sentido, que já não se explica mais pela raça e sim pelo apelo que há na sua identificação com este povo brasileiro. Costumava-se caracterizar Umbanda como um sincretismo religioso, no entanto, novos estudos mostram que ela é a síntese do povo brasileiro (CUMINO, 2015, p. 121).

Inicialmente esse processo se deu a partir das religiões afro-brasileiras. Em especial, a cultura banto, foi a principal influência africana na Umbanda. Entretanto, esse processo só se deu a partir de três momentos históricos de mudança nas religiões afro-brasileiras. Primeiro, a religião africana, enquanto movimento de resistência sociocultural, transformou o seu regime de linhagem para o de nação, isto é, a solidariedade familiar consanguínea foi destruída pelo tráfico negreiro, portanto passaram a adotar a solidariedade étnica, a partir da nação de origem dos negros. Segundo, quando acaba a escravidão, a população negra e mestiça passa por um rápido processo de pulverização dentro das relações sociais. Assim, o Candomblé, majoritariamente rural, atuou na integração dessa população através da solidariedade étnica, conhecida como “família de santo”. E terceiro, quando se inicia o processo de urbanização e industriali- 63 zação da região sudeste do país, no início do século XX, e a proletarização dos negros e mestiços, o ambiente proporcionou a necessidade de uma religião mais adaptada ao ambiente urbano, surgindo, assim, a Umbanda – um misto de reconstrução de antigos rituais africanos e destruição de um antigo sistema de valores e controle social

...

Baixar como (para membros premium)  txt (28.1 Kb)   pdf (153.6 Kb)   docx (19.2 Kb)  
Continuar por mais 17 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com