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Atps 4 Semestre

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Por:   •  27/8/2014  •  2.541 Palavras (11 Páginas)  •  247 Visualizações

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Filme: TROPA DE ELITE

A retomada da produção do cinema brasileiro, nos últimos anos, levanta questões sobre o modo como é representada a realidade social e cultural brasileira. Quando se trata de filmes que representam e discutem instituições, como acontece em Tropa de elite (Brasil, 2007), uma obra de ficção criada com base no livro Elite da tropa – em que, por sua vez, ficção e fatos verídicos se misturam –, é inevitável pensar de que forma os fatos e a construção ficcional do filme dialoga com as instituições representadas: ou seja, o espectador, seja ele um espectador comum ou um pesquisador, questiona-se se as ações mostradas no filme, associadas à instituição retratada (a Polícia Militar do Rio de Janeiro e o Bope2, neste caso) têm respaldo ou não naquilo a que se propôs quando de sua criação (e em seu regulamento, numa análise mais detalhada), e, ainda, se representa negativamente ou positivamente a instituição enfocada. Além do mais, as falas (narrações) em off do capitão Nascimento dão um certo tom de documentário, extremamente personalizado neste caso, que traz consigo fatos com os quais o espectador brasileiro está familiarizado direta (na cidade

ou região em que vive) ou indiretamente (por meio da mídia), em maior ou menor grau. Para tanto, proponho, inicialmente, resgatar as origens do Bope e suas atribuições originais, e então confrontá-las com as questões levantadas pela forma como é retratado o Bope da em Tropa de elite, na visão particular do personagem principal, o capitão Nascimento, que conduz o filme e que, por meio de sua narração, é fator decisivo para os sentidos que o filme propicia.

Logo no início do filme, durante a exibição dos créditos iniciais, ouvimos a voz do capitão Nascimento descrevendo o poder de fogo dos traficantes da cidade do Rio de Janeiro: em outros países, diz o capitão, são usadas para a guerra, mas no Rio estão nas mãos do crime. Logo em seguida, diz que é ingenuidade “pensar que a polícia sobe favela só pra fazer valer a lei”. E conclui, depois que uma viatura da PM é mostrada subindo o morro: “Policial tem família, policial também tem medo de morrer. É por isso que nessa cidade o Rio de Janeiro todo mundo tem que escolher: Ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra”. Logo depois da viatura da PM ser mostrada, dois membros do Bope são mostrados em ação no mesmo morro e presenciam policiais da viatura antes mostrada recebendo suborno de traficantes. Tráfico de armas e de drogas, corrupção policial e a superioridade moral dos membros do Bope (os “que vão pra guerra”) são elementos que permeiam o filme todo.

Criado em 1978 como “Núcleo da Companhia de Operações Especiais” e subordinado ao Chefe-Maior da Polícia militar do estado do Rio de Janeiro, denominado, em 1991, o Bope tem como atribuição agir “em situações críticas ou missões específicas” e está subordinado “administrativa e operacionalmente ao Estado-Maior Geral da Corporação” 3. A polícia militar (PM) de qualquer estado, por sua vez, está prevista constitucionalmente para a “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. A PM, especificamente, tem a atribuição constitucional de “polícia ostensiva e a preservação da ordem pública” 4, subordinando-se ao governador de seu estado. Assim, pode-se dizer que o

Bope é parte oficial da política pública do estado do Rio de Janeiro: sua ações e métodos são, portanto, reflexos do que planeja e/ou se faz efetivamente no combate ao crime. Mais especificamente, como se age em “situações críticas” e o que no que consistem, segundo o filme Tropa de elite, essas situações.

O que se pode perceber, em consequência dessa visão militarista e repressora de

como devem ser os órgãos de segurança pública – como será visto adiante –, é um ambiente

de guerra em que se passa invariavelmente por cima das leis e de direitos individuais, em que

a violência policial é tomada como fato isolado e explicável unicamente por uma tradição no

uso da força que se originaria, numa visão simplista, na própria polícia. Tal uso “crônico” da

força (que deveria ser aplicada somente em última instância) é incentivado inclusive pelas

classes com acesso efetivo a bens culturais e às instituições do Estado, ao mesmo tempo em

que é repudiada por estas (ainda que a resposta que se pretende eficiente, pela polícia, não

tenha tanta cobertura por parte da mídia quando a força é aplicada em conflitos ocorridos

entre a população de baixa renda, via de regra) – vide passeatas pela paz que, no filme, é

retratada de modo depreciativo. Pois o uso da força pela polícia é, contraditoriamente, vista.

como marca de sua eficiência. Por parte de representantes da polícia ( como em Elite da tropa, cf. bibliografia), e em resposta, talvez, a essas demandas contraditórias da população, a reconciliação entre polícia e população, seja ela pobre, remediada ou rica, é apontada como

necessária para uma democracia efetiva.

Para tanto, deve-se reformular uma polícia que parece visar unicamente a exterminar

o inimigo, e não para garantir a paz social de um modo geral, o que inclui a garantia dos

direitos do cidadão.

O filme Tropa de elite tem como personagem principal o capitão Nascimento, do

Batalhão de operações especiais da polícia do Rio de janeiro (Bope), que narra o processo de

escolha de seu substituto. Numa das primeiras falas do filme, Nascimento divide os policiais

do Rio (não só os do Bope) em três categorias: os que se corrompem (caso da maioria da

polícia militar (PM) do Rio), ou se omitem (ou seja, fazem vistas grossas para a corrupção

existente na corporação, ou mesmo para a criminalidade e as irregularidades

administrativas), ou vão “pra guerra” – os policiais do Bope. Essa “superioridade moral e

tática” dos membros do Bope é claramente contraposta a uma ineficiente PM que não

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