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Empresa de rua

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Por:   •  24/1/2015  •  Seminário  •  1.009 Palavras (5 Páginas)  •  144 Visualizações

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A “empresa rua”

O olhar atento sobre o trabalho dos camelôs revela o quanto o mercado informal encontra-se permeado por regras que vão além das regulamentações estabelecidas pela prefeitura. Apesar de haver espaços oficiais para a ocupação pelas bancas e de ter havido um sistema de cadastramento (já que não é mais feito o registro), sabemos que a maioria dos camelôs ocupam diferentes áreas na cidade que não fazem parte das delimitações predeterminadas, embora esses espaços também sejam alvo da fiscalização da prefeitura.

Fora do sistema oficial de ocupação da rua e dentro do sistema informal, encontramos uma organização “formal” entre os camelôs, que vai desde a possibilidade de estabelecimento do ambulante na rua, até o modo de utilização desse espaço e as diversas relações que daí surgem. Esse sistema de regras tácitas vai sendo construído e apreendido no convívio com os outros camelôs que trabalham na mesma zona ou área.

Quanto à forma de inserção na rua, percebemos que esta se dá por várias vias: compra de um ponto, pedido para trabalhar em um local e ter a permissão dos lojistas em frente ou dos camelôs ao lado, ocupação de um ponto de um amigo ou parente ou mesmo a ocupação de um espaço onde até então não havia camelôs ao redor (o que pode se dar também em locais onde outros camelôs foram previamente retirados pela prefeitura).

Nos lugares onde a concentração de camelôs é bastante alta e já são ocupados há muitos anos, geralmente a ocupação depende da compra do chamado “ponto”. Esse local “pertenceria”, pelo tempo de ocupação, a um camelô mais antigo que, portanto, pôde registrá-lo em seu nome, na época em que estes registros eram feitos e válidos oficialmente. Muitos pontos são vendidos ou alugados para outros camelôs.

Quanto à organização e utilização do espaço, bem como quanto às relações que aí se estabelecem, um dos depoentes nos conta que aquele que desrespeita os colegas ou os lojistas é denunciado por eles mesmos à prefeitura. Diz, ainda, que se deve ter uma relação amistosa e de confiança com os colegas de trabalho, já que precisam constantemente contar uns com os outros, para que cuidem de sua barraca, possibilitando, por exemplo, que ele vá almoçar, vá ao banheiro ou faça um telefonema. Há, dessa maneira, uma troca entre todos, que se ajudam mutuamente no cotidiano profissional.

Elizabeth conta da preocupação em deixar o local sempre limpo para não haver desentendimento com os lojistas, além de procurar não vender aquilo que eles vendem, evitando, dessa maneira, “abrir concorrência” com a loja, o que certamente geraria desafeto entre eles. Segundo Elizabeth, a relação que possui com os lojistas é boa, apesar de normalmente não gostarem da presença dos camelôs.

Eles vêem que você está lutando, tem uma família; eles têm, assim, pelo menos aqui nesse setor, nesta quadra, eles são assim bastante compreensivos; estão sempre conversando com a gente, se precisa de alguma coisa, se eu preciso de um troco, ou eles, vêm aqui. Posso dizer que é um relacionamento bom. Também a gente respeita, né, eu não vendo produto que ele vende, eu procuro deixar tudo limpo, organizado. Já tem locais em que a pessoa coloca uma banca de calçados de frente da loja e vende mais barato. Eletrodoméstico é uma coisa séria, né, você vê que lá no centro tem aquelas bancas enormes de eletrodomésticos em frente à G. Aronson, Arapuã.

Parece haver, no trabalho nas ruas, um acordo velado com os fiscais ou com a polícia, o que raramente foi explicitado nas entrevistas. Essa relação é sempre relatada de maneira obscura: a maioria diz que paga uma pequena quantia para

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