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Por:   •  30/11/2013  •  2.538 Palavras (11 Páginas)  •  312 Visualizações

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Miséria da Filosofia

Resposta à Filosofia da Miséria do Sr. Proudhon

Karl Marx

Introdução

capa

Transcorrerá no próximo ano [1947] o centenário da publicação de “Miséria da Filosofia”. Esta edição brasileira do livro famoso que Marx escreveu em resposta à “Filosofia da Miséria” de Proudhon tem assim um caráter quase comemorativo, se bem que não intencional. O aparecimento da presente tradução explica-se antes pelo interesse existente em torno de uma doutrina histórico-econômica cuja extraordinária vitalidade nem mesmo os seus mais intransigentes adversários podem negar. E esse interesse não se tornou maior em nossos dias unicamente em consequência do desfecho da Segunda Guerra Mundial, da suposta derrota do totalitarismo. Ele está intimamente ligado à crise do mundo moderno, à tomada de consciência que, embora lentamente e nem sempre em benefício das classes trabalhadores, vai atingindo círculos cada vez mais amplos.

Com efeito, muito anos antes da II Guerra Mundial, um número cada vez maior de sociólogos e historiadores, principalmente nos Estados Unidos, ainda que de um modo inconsequente, já vinha utilizando nas suas pesquisas e interpretações métodos que podem ser qualificados como sendo os do determinismo materialista da história. Esses autores, pelo menos em parte, faziam marxismo sem o saber, ou melhor, sem o querer, o que determinou mais de uma vez reparos dos círculos marxistas ortodoxos. Assim, quando os sociólogos mais clarividentes perceberam toda a importância dos conflitos entre os grupos sociais (versão edulcorada na moderna sociologia da luta de classes), não se deixou de dizer, e com razão, que tudo o que se afirmava já havia sido constatado, com uma profundeza muito maior, por Karl Marx. Mas a maioria dos sociólogos continuava as suas pesquisas sem se incomodar muito com prioridades.

É verdade que isto só diz respeito, sobretudo nos Estados Unidos, a uma das três grandes concepções do sistema de Marx: a interpretação materialista da história. Quanto à análise do mecanismo da produção capitalista e aos métodos dialéticos de investigação, os sociólogos norte-americanos, com raríssimas exceções, permanecem ainda muito ligados aos sem grupos, ainda que suponham examinar a sociedade com a mais inatacável das objetividades.

Quanto aos que fazem marxismo sem o saber, não se devem afligir os marxistas mais jovens e ardorosos, ou os inclinados ao sentimentalismo, pelo fato de não se reconhecerem as fontes da doutrina: para Marx, que só quis constatar as leis do desenvolvimento da sociedade e não criar sistemas próprios, era sempre motivo de alegria saber que outros estudiosos chegavam por vias diferentes, e em lugares diversos, às mesmas conclusões que ele, pois via nisso a confirmação da objetividade de suas ideias. O caso de um Morgan, descobrindo de novo, à sua maneira, num continente distante, a concepção materialista da história, foi, no entanto, no século passado, uma cousa rara. E aqui está a explicação da atualidade da obra de Marx: ele foi um formidável antecipador e a dianteira intelectual que tomou foi tão grande que a capacidade de ação das categorias sociais mais interessadas na transformação social por ele prevista foi ultrapassada. Rosa Luxemburgo via nisso a explicação da relativa esterilidade dos teóricos do marxismo no nosso século. E é nesse poder de antecipação que reside o gênio de Marx, cuja análise de conjunto da sociedade moderna continua igualada, constituindo um dos feitos mais notáveis da inteligência humana.

★ ★ ★

A “Miséria da Filosofia” ocupa na obra de Marx um lugar de importância capital. Foi nesse livro que ele expôs pela primeira vez de maneira concreta, no ardor de uma polêmica, a concepção materialista da história, a sua maior contribuição para as ciências histórico-sociais. A partir do dia em que, aos 24 anos, Marx deparou o problema do socialismo, ao ter de tratar na “Gazeta Renana” de questões relativas aos socialistas franceses e aos interesses do proletariado do oeste da Alemanha em face dos proprietários rurais e da burguesia, começam a aparecer as primeiras brilhantes indicações do rumo que ia tomar o seu pensamento. Mas não se deixou arrebatar pelo entusiasmo então reinante pelo “coletivismo” e, logo depois, pelo comunismo, tendo Moises Hess e o próprio Engels o antecipado na adoção das novas ideias. Marx resistiu à improvisação, percebendo logo que estava diante de problemas que exigiriam um estudo aprofundado da economia política e uma análise séria de todas as tendências socializantes. Foi por isso que exigiu, no jornal em que publicou os seus primeiros artigos, referindo-se aos seus amigos de Berlim, “menos raciocínios vagos” e “subjetividades complacentes” e um “maior conhecimento das situações concretas”; e disse que se um dia o seu jornal tivesse de “tratar da questão do coletivismo, seria preciso que isso fosse feito num outro tom e que se fosse até o fundo das cousas.” Seu agudo espirito crítico não lhe permitia discorrer superficialmente sobre problemas cuja magnitude sentira desde o primeiro instante.

Foi na sua estada de pouco mais de um ano em Paris que Marx teve a oportunidade de aprofundar as ideias que então andavam no ar, ideias que comparou a “demônios que o homem não pode vencer senão se submetendo a eles”, e das quais não se pode livrar “senão dilacerando o próprio coração”. Nos dois artigos que escrevem para os “Anais Franco-Alemães” ele, sem sair ainda do plano filosófico, já demonstra ter apreendido toda a antinomia da sociedade moderna. Numa carta a Arnold Ruge, fundador da revista, já havia declarado que não se tratava de dizer aos homens: “Abandonai vossas lutas, que isso é tempo perdido, nós vos daremos a bandeira da verdade.” O que os “Anais” deveriam fazer, na sua opinião, era mostrar aquilo por que verdadeiramente se luta e obrigar os homens a adquirirem essa consciência. Nasceu assim a famosa “consciência crítica” de Marx. Nos artigos a que aludimos ele já trata da luta, das classes trabalhadoras e faz uma análise filosófica da sociedade socialista sonhada pelos utopistas.

Na crítica a Feuerbach, a dialética materialista de Marx começa a afirmar-se. “É verdade que é o homem que faz a religião e não a religião que faz o homem”, dizia ele. Mas o homem “não é nenhum ser abstrato, flutuando fora do mundo; é o conjunto dos homens, o Estado, a sociedade, que fazem surgir a religião como uma consciência invertida do

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