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O Desafio Da água

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Por:   •  10/3/2015  •  4.572 Palavras (19 Páginas)  •  169 Visualizações

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A gestão da água é por definição a gestão de conflitos”.

Worldwatch Institute, 2005

O acesso à água tem sido alvo de conflitos desde que o mundo é mundo, ou mais precisamente, desde 8.000 A.C, quando a humanidade começou a cultivar alimentos. A disputa por este recurso, escasso em muitas regiões do planeta, é tão antiga que está na origem de uma palavra utilizada ainda hoje para designar a intolerância e a ausência de convivência pacífica entre homens. Rivalidade, segundo apontou um relatório do Worldwatch Institute, denominado “O Estado do Mundo”, deriva do Latim ‘rivalis’ e significa “aquele que usa o mesmo rio que outrem”.

Com as mudanças climáticas, a escassez de água pode se tornar ainda mais grave. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, prevê que, se for mantido o atual ritmo de emissões de gases de efeito estufa, a Terra corre o risco de ficar até 4°C mais quente em 2100. Como conseqüência dessa alteração, dois bilhões de seres humanos sofrerão com a falta de água.

Sobre a água, vale lembrar o que afirmou, em documento de 2005, a organização Sustainable Development International: “Há fontes alternativas de energias. Não existem alternativas à água”. Mesmo tendo este elemento uma fórmula química simples, nunca foi possível desenvolvê-lo artificialmente.

Produzir cada vez mais com menos recursos hídricos, permitir a universalização do acesso à água potável e serviços de saneamento, criar mecanismos políticos e de mercado que proporcionem a governança compartilhada dos recursos hídricos são alguns dos desafios para assegurar a plena disponibilidade da água e, consequentemente, a vida na Terra.

Nosso futuro está secando?

Imagine um mundo em que aproximadamente uma em cada cinco pessoas não tem acesso à quantidade de água suficiente para as suas necessidades diárias. Ou ainda um mundo no qual 2,2 milhões morrem a cada ano por beber água contaminada ou pela falta de saneamento. Imagine um mundo em que se observe uma disputa acirrada entre países pelo domínio de recursos hídricos.

Embora possa parecer o enredo fictício saído da cabeça de um roteirista de Hollywood – como o de WaterWorld ou o Dia Depois de Amanhã – este mundo, é real e vivemos nele hoje.

Segundo estimativas da Worldwide Foundation (WWF), nos próximos 20 anos, a disponibilidade mundial de água per capita diminuirá em um terço,

De acordo com o consultor Maurício Waldman, geógrafo da USP, apesar de grave e preocupante, a questão da água tem sido negligenciada. “A escassez de recursos hídricos é uma discussão muito recente. Para se ter uma idéia, o relatório Meadows, divulgado pelo Clube de Roma na década de 60, não cita a água em termos de escassez. Ninguém supunha que essa questão teria o aspecto crítico verificado hoje. Só depois de 40 anos, a discussão do problema ganhou corpo. Ainda assim, persiste a falsa idéia de que água é um recurso inesgotável”, ressalta.

Essencial para a vida, a água tem usos variados e muitas vezes politicamente conflitantes. Segundo Waldman, as disputas por esse recurso já ocorrem, ainda que não sejam muito debatidas. “Conflitos vêm sendo travados pelo acesso à água em todo o mundo. Um dos elementos que determinaram a guerra dos seis dias, entre Israel e Palestina, foi o controle das águas do rio Jordão. O acesso à água também é uma das motivações das brigas entre a Turquia e a Síria e até mesmo da Guerra do Iraque. A Turquia represou as águas do rio Tigre e Eufrates. Ao alterar o fluxo dos rios, que corriam naturalmente para a Síria e Iraque, acabou por prejudicar o abastecimento nesses países”, ressalta Waldman.

O especialista lembra ainda de revoltas urbanas, como a ocorrida em Cochabamba, na Bolívia, em 2000, a partir da privatização da água que levou ao aumento de até 300% nos preços do serviço de abastecimento. No Brasil, a polêmica em torno da transposição das águas do rio São Franscisco é um exemplo dos múltiplos interesses envolvendo a gestão dos recursos hídricos.

Cerca de 70% da água consumida mundialmente, incluindo a que decorre de desvios e de bombeamento do subsolo, é utilizada para irrigação. Aproximadamente, 20% abastece a indústria e 10%, as residências.

A tomar como medida os padrões atuais, segundo os quais a produção de uma tonelada de grãos requer 1.000 toneladas de água, até 2050 estima-se que poderá não haver mais água suficiente para produção da comida necessária para atender a população mundial que, segundo projeções, será de cerca de nove bilhões de habitantes, três bilhões a mais do que hoje.

Em seu famoso livro “Ecoeconomia”, uma das mais importantes obras sobre desenvolvimento sustentável, Lester Brown aponta que o déficit hídrico mundial, medido pela extração excessiva de aqüíferos, cresce a cada ano, tornando cada vez mais difícil de ser administrado. Segundo o pesquisador, se todos os países decidissem acabar hoje com a extração excessiva e estabilizar os lençóis freáticos, a colheita mundial de grãos sofreria uma redução de aproximadamente 160 milhões de toneladas, algo em torno de 8%. Os preços, por essa razão, disparariam. Quanto mais os países demorarem a enfrentar essa questão, mais elevado será o déficit hídrico e mais custoso o ajuste final.

Para Waldman, conciliar os diferentes usos da água, tal como estão hoje distribuídos, sem riscos de escassez, é uma tarefa impossível. “O modelo de consumo de água precisa ser revisto. Ele está relacionado ao padrão de vida da civilização moderna, com uma alimentação baseada na proteína animal e consumo intenso de materiais. Hoje, desperdiça-se mais água, jogando comida fora. Para se ter uma idéia, são gastos 100 mil litros de água para produzir um quilo de carne. Com esse volume, uma pessoa pode tomar banho por quatro anos e meio”, alerta o consultor.

Em tese, o volume de água existente na Terra é grande o bastante para suprir todas as necessidades humanas. No entanto, ainda segundo o consultor, o uso dos recursos hídricos precisa ser otimizado a partir de tecnologias mais eficientes.

O Brasil é um dos campeões mundiais em desperdício de água. A porcentagem de perdas, provocada por vazamentos e ligações clandestinas, alcança 40%, quantidade suficiente para abastecer 35 milhões de pessoas ao longo de um ano. Nos países desenvolvidos, a média de perdas oscila entre 5% e 15%.

Na análise de Waldman, a

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