O Inicio do Negócio
Por: K3il4Pr4do • 2/6/2025 • Resenha • 10.861 Palavras (44 Páginas) • 34 Visualizações
O INÍCIO DOS NEGÓCIOS
Em 31 de maio de 1921, a Ford Motor Company produziu o carro de número 5.000.000. Ele está em meu museu junto com o carrinho movido a gasolina que comecei a construir trinta anos antes e que funcionou satisfatoriamente pela primeira vez na primavera de 1893. Eu o conduzia quando os tordos chegaram a Dearborn — e eles sempre chegam em 2 de abril.
Há uma diferença enorme na aparência dos dois veículos, e quase a mesma diferença em termos de construção e materiais. Mas, nos fundamentos, os dois são curiosamente parecidos — exceto que o velho carrinho possui alguns detalhes que ainda não adotamos completamente em nossos carros modernos. Aquele primeiro carro, mesmo com apenas dois cilindros, atingia vinte milhas por hora e fazia sessenta milhas com os três galões de gasolina que o pequeno tanque comportava — e ainda funciona tão bem hoje quanto no dia em que foi construído.
O desenvolvimento dos métodos de fabricação e dos materiais foi maior do que o desenvolvimento no design básico. Todo o projeto foi refinado; o Ford atual, o "Modelo T", tem quatro cilindros e partida elétrica — é, em todos os sentidos, mais conveniente e confortável. Ele é mais simples do que o primeiro carro. Mas quase todos os elementos dele já estavam presentes naquele primeiro veículo. As mudanças vieram da experiência na fabricação e não de uma mudança nos princípios básicos — o que considero um fato importante, demonstrando que, com uma boa ideia inicial, é melhor concentrar-se em aperfeiçoá-la do que sair caçando novas ideias. Uma ideia de cada vez já é mais do que o suficiente para qualquer pessoa lidar.
Foi a vida na fazenda que me levou a criar meios e modos de melhorar o transporte. Nasci em 30 de julho de 1863, numa fazenda em Dearborn, Michigan, e minha lembrança mais antiga é de que, considerando os resultados, havia trabalho demais por lá. É assim que ainda me sinto sobre a agricultura. Existe uma lenda de que meus pais eram muito pobres e que os primeiros anos foram difíceis. Certamente eles não eram ricos, mas tampouco eram pobres. Para os padrões dos fazendeiros de Michigan, éramos prósperos.
A casa onde nasci ainda está de pé, e tanto ela quanto a fazenda fazem parte das minhas propriedades atuais. Havia trabalho manual demais, tanto na nossa como em todas as outras fazendas daquela época. Mesmo muito jovem, eu suspeitava que havia uma forma melhor de fazer as coisas. Foi isso que me levou à mecânica — embora minha mãe sempre dissesse que eu nasci mecânico.
Eu tinha uma espécie de oficina com pedaços de metal e ferramentas improvisadas antes mesmo de ter brinquedos. Naquela época, não existiam os brinquedos de hoje; o que tínhamos era feito em casa. Meus brinquedos eram ferramentas — e ainda são! Cada pedaço de máquina era um tesouro.
O maior acontecimento daqueles primeiros anos foi ver uma locomóvel a cerca de oito milhas de Detroit, num dia em que estávamos indo à cidade. Eu tinha então doze anos. O segundo maior acontecimento foi ganhar um relógio — também naquele mesmo ano. Lembro daquela locomóvel como se a tivesse visto ontem, pois foi o primeiro veículo não puxado por cavalos que vi na vida.
Ela era usada principalmente para acionar máquinas de debulha e serrarias — basicamente, era uma caldeira e motor montados sobre rodas, com um tanque de água e um carro de carvão rebocado atrás. Eu já tinha visto muitas dessas locomotivas sendo puxadas por cavalos, mas aquela tinha uma corrente que conectava o motor às rodas traseiras do chassis sobre o qual a caldeira estava montada. O motor ficava sobre a caldeira, e um homem, de pé na plataforma atrás, jogava carvão, controlava o acelerador e fazia a direção.
Ela tinha sido fabricada pela Nichols, Shepard & Company de Battle Creek — descobri isso na hora. A locomóvel havia parado para nos deixar passar com os cavalos, e eu já estava fora da carroça conversando com o engenheiro antes mesmo de meu pai perceber. O engenheiro estava muito contente em explicar tudo — ele tinha orgulho daquilo.
Ele me mostrou como a corrente era desconectada da roda motriz e como uma correia podia ser acoplada para acionar outras máquinas. Disse que o motor fazia duzentas rotações por minuto e que o pinhão da corrente podia ser ajustado para permitir que a carroça parasse enquanto o motor continuava funcionando. Essa última característica, embora de forma diferente, está presente nos automóveis modernos. Não era importante nos motores a vapor, que podiam ser facilmente ligados e desligados, mas tornou-se essencial nos motores a gasolina.
Foi aquela locomóvel que me levou ao transporte automotivo. Tentei fazer modelos dela, e alguns anos depois consegui montar um que funcionava bem. Mas, desde que vi aquela locomóvel aos doze anos, até os dias de hoje, meu maior interesse sempre foi criar uma máquina que pudesse percorrer estradas.
Sempre que ia à cidade, levava o bolso cheio de bugingangas — porcas, arroelas, peças quebradas de relógio — e tentava consertar um relógio. Aos treze anos, consegui montar um relógio que funcionava corretamente. Aos quinze, já conseguia fazer praticamente qualquer tipo de conserto em relógios — embora minhas ferramentas fossem muito rudimentares.
Aprende-se muito apenas fuçando nas coisas. Não dá para aprender em livros como tudo é feito — e um verdadeiro mecânico deveria saber como quase tudo é fabricado. As máquinas, para um mecânico, são como livros para um escritor. Ele tira ideias delas e, se tiver inteligência, as aplica.
Desde o começo, nunca me entusiasmei muito com o trabalho no campo. Eu queria mesmo era trabalhar com máquinas. Meu pai não apoiava muito minha inclinação pela mecânica. Achava que eu devia ser fazendeiro. Quando saí da escola aos dezessete anos e me tornei aprendiz na oficina da Drydock Engine Works, fui praticamente considerado um caso perdido.
Passei pela minha aprendizagem sem dificuldades — ou seja, estava qualificado como maquinista muito antes de completar os três anos do programa. E, como gostava de trabalhos delicados e tinha afinidade com relógios, comecei a trabalhar à noite consertando relógios numa joalheria. Em certo momento desses primeiros anos, acredito que cheguei a ter mais de trezentos relógios. Achei que poderia construir um relógio funcional por cerca de trinta centavos e quase entrei nesse ramo. Mas desisti, pois concluí que relógios não eram uma necessidade universal e, por isso, as pessoas em geral não os comprariam.
Não sei exatamente como cheguei a essa conclusão surpreendente. Eu não gostava do trabalho comum de relojoaria e joalheria — exceto quando era algo difícil de fazer. Mesmo assim, queria construir algo em grande quantidade.
Naquela época, estava se organizando o sistema de horário padrão das ferrovias. Antes disso, seguíamos o horário solar e, por um tempo — assim como ocorre hoje com o horário de verão —, o horário dos trens era diferente do horário local. Isso me deu uma ideia. Consegui criar um relógio que marcava os dois horários. Tinha dois mostradores e virou uma curiosidade na vizinhança.
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