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O Mal Em Santo Agsotinho

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Por:   •  10/9/2014  •  1.960 Palavras (8 Páginas)  •  225 Visualizações

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa objetiva-se tratar sobre o problema do mal e da liberdade (livre arbítrio) em Santo Agostinho, nos livros I e II da sua obra intitulada O Livre- Arbítrio.

A escolha da obra em apreço se deve ao fato de ser uma elaboração de Agostino contra os erros dos maniqueus (como veremos nas próximas considerações), justamente em resposta ao grande problema do mal. Que nasce da seguinte questão: “Se tudo provém de Deus, que é o Bem, de onde provém o mal?” E examina o mal sob três níveis conceituais distintos, a saber: a) metafísico-ontológico; b) moral e c) físico. As duas primeiras no servirão de apoio para refletir acerca da temática em questão.

1 A COMPREENSÃO DO MAL NA PATRÍSTICA

Antes mesmo de discorrermos acerca do problema do mal e da liberdade em Santo Agostinho, achamos por bem apresentar de forma sucinta o mesmo problema na perspectiva dos Padres da Igreja, gregos e latinos, como refutação às teorias gnósticas e maniqueístas.

O gnosticismo de Valentino, Basílides e Marcião concebem a matéria como fonte do mal e de natureza má não provinda de Deus. Sem falar na visão dualista do homem, sendo constituído de dois elementos bom (espiritual) e mau (material). Nesta esteira conceitual caminham os maniqueístas com sua ontologia dos dois reinos, dois princípios antagônicos, que se opõem irredutivelmente entre si: Luz e Trevas. Este rigoroso dualismo teológico recebeu ataques primeiramente dos Padres Apologetas gregos.

Eles, os Padres, insinuam que Deus não pode ser o autor do mal físico tão pouco do mal moral, é, desta maneira, originado na livre vontade do homem, na sua escolha ético-moral. Enquanto que em Orígenes o mal é visto como carência do bem, ou privado do ser; desembocando no campo soteriológico, no destino escatológico dos maus, de um inferno de duração limitada. O Bispo Metódio de Olimpo retoma o ponto de vista quanto ao fato do mal não ser substância (ousia), mas sim, segundo Basílio, privação (steresis) do bem: Deus é autor daquilo que existe (ser) e não daquilo que não existe (não-ser ou mal).

Já nos Padres latinos, Tertuliano elucida que devemos aceitar ou a existência de dois princípios coeternos ou a doutrina da criação (ex nihilo). Na consideração da segunda descarta-se o postulado de Deus autor do mal. E Ambrósio responde ser o mal a carência de um bem, não possuindo substância própria, em outros temos, é a perversão do espírito e da alma. Mas é, sobretudo, nas argumentações demonstrativas agostinianas que encontraremos uma explicação coerente da doutrina clássica sobre a não substancialidade do mal.

1 A VISÃO DE SANTO AGOSTINHO SOBRE O MAL

1.1 A CIRANDA DA VONTADE

Antigamente os pais usavam o artifício do bicho papão para conter as desobediências dos filhos. Ouvir expressões do tipo, não faça isso menino se não o bicho papão vai te pegar, era e ainda é muito comum. Da mesma forma, quando se fala do demônio, o imaginário se incumbe de criar figuras estarrecedoras. Por que isso acontece? Será que estamos nos referindo a algo misterioso a partir de influências folclóricas, culturais? Ou bebemos da fonte agostiniana na tentativa de personalizar a consciência moral? Cremos que esta última seja a resposta mais provável.

Santo Agostinho posiciona o mal no campo moral. Bicho papão ou imagens demoníacas em referência ao mal não se enquadram em seu estilo. Agostinho nos apresenta a consciência moral como protagonista dessa reflexão sobre o mal. Em primeiro lugar, ela não pode impor medo, caso contrário estaria violando a liberdade. Seu papel é propor reflexão, meditação e, sobretudo, experiência, testemunho. Assim como Boécio, Agostinho vai denominar essa consciência de homem interior, uma espécie de consciência marcada pela dramaticidade, pois está relacionada à vida não sendo mera faculdade. Assim, Agostinho nos ajuda a compreender que somos consciência que vive na existência, ou seja, a consciência é a própria pessoa em ato.

Possuímos a consciência reflexiva (ordem da razão) e a consciência ética (ordem do viver). Conhecimento e experiência estão equilibrados a partir da vontade, a qual é dependente de si mesma. A propósito, na vontade está à intenção do bem. No entanto, o desejo antecede a vontade e é aí que o problema reside. O homem por sua vez, deve investir na vontade frente às descobertas de sua existencialidade. A pretensão agostiniana quer demonstrar que é preciso uma adesão da vontade ao conhecimento, para que ocorra a atividade correta da consciência moral. Esta não é determinada pelo intelecto, mas o precede. A partir desse processo a virtude ganha espaço não como procedente da razão (Aristóteles), mas como procedente do amor. Isso significa que, sem a graça, a vontade se torna impotente e a consciência moral deficiente.

O caminho apresentado por Santo Agostinho é o caminho da interioridade, ou seja, do engajamento da vontade: posso conhecer o bem, mas, no entanto, a minha vontade pode não aderir a ele. Não que o bem seja uma realidade objetiva. Contudo, ele é encontrado na experiência existencial. Eis a razão da complexidade do problema do mal. Podemos entender assim: O livre arbítrio – como atuação da boa vontade – pressupõe a escolha da própria vontade, a qual levará o homem a aderir ao bem. Por outro lado, a má vontade consiste na vida segundo as paixões.

A boa vontade provoca satisfação no ato da escolha e assim associa a consciência moral ao processo de bonificação ou “bondadificação” do homem: Eu me edificando na bondade. O resultado desse processo é a felicidade, a qual dependerá da virilidade do sujeito em investir na sua vontade. É aí que entra a virtude, que não trabalha com a razão e sim com o desejo, o afeto. Ela funciona como um auxílio revigorante daquilo que já é bom no homem. No exercício das virtudes cardeais a boa vontade encontra terreno fértil: Prudente eu conheço as coisas que precisam ser desejadas e também as que devem ser evitadas; Fortificado, possuo um alma disposta que despreza os dissabores e tudo aquilo que não me pertence; agindo com Temperança contenho meus apetites e Justo dou a cada um, o que lhe é devido.

A concupiscência aparece nesse processo como adversária da boa vontade. A situação da consciência moral é conflitiva nessa dimensão, sobretudo porque suas escolhas se dão entre a boa

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