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Quando Surgiu O Magisterio

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Por:   •  20/3/2015  •  3.562 Palavras (15 Páginas)  •  422 Visualizações

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1-Introdução

Nas discussões sobre a formação de professores raramente se questiona como foi a entrada da mulher nesse mercado de trabalho, desconsiderando a luta travada por elas para conquistarem o direito à educação e à profissionalização.

Na realidade, não se discutem as razões que levaram as mulheres a tornarem-se professoras, se foi por apresentarem afinidades com a profissão, vocação, pela ligação existente entre carreira docente e maternidade, ou uma busca pela independência financeira.

O presente trabalho tem por objetivo apresentar resultados de uma pesquisa que procurou compreender como se deu o ingresso de um grupo de mulheres na profissão docente e as dificuldades enfrentadas por elas no acesso à formação. A pesquisa foi desenvolvida com professoras de educação infantil nos municípios de Rolim de Moura, Alta Floresta D’Oeste e Nova Brasilândia D’Oeste, todos da região da Zona da Mata em Rondônia.

Quanto à metodologia, optamos por uma abordagem que permitisse priorizar a fala das envolvidas, criando espaços de discussão em que fossem estimuladas a contar as razões de suas escolhas, as oportunidades e possibilidades que garantiram seu ingresso na profissão. Por isso a escolha recaiu sobre a técnica de encontros de Grupo Focal.

Gatti (2005, p. 7) aponta que “no âmbito das abordagens qualitativas em pesquisa social, a técnica do grupo focal vem sendo cada vez mais utilizada.” Esta técnica pode ser um instrumento importante na compreensão dos processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, bem como para o conhecimento de representações, preconceitos, linguagem e simbologias que prevalecem em relação a determinadas questões nos grupos de pessoas pesquisadas. Para a autora o Grupo Focal é “uma técnica de levantamento de dados muito rica para capturar formas de linguagem expressões e tipos de comentários de determinado segmento, o que pode ser fundamental para a realização de estudos posteriores mais amplos com o emprego de entrevistas e questionários.” (GATTI, 2005, p. 12).

Foram realizados três encontros de Grupos Focais, com professoras de educação infantil (um em cada município). Os encontros foram agendados previamente e realizados de setembro a dezembro de 2006, nos locais de trabalho das professoras. Tiveram a duração aproximada de duas horas e foram gravados com a permissão das participantes. Duas auxiliares de pesquisa realizavam anotações, durante a realização dos encontros, facilitando a transcrição que foi realizada posteriormente para que procedêssemos à análise.

Nos três municípios pesquisados atuam 106 professoras em educação infantil. A amostra que participou dos encontros (25 professoras) representa 23,5% das docentes atuando neste nível de ensino.

As professoras foram convidadas a participar dos encontros considerando-se a composição de grupos heterogêneos em relação à faixa etária, formação e tempo de atuação no magistério.

Apresentaremos, inicialmente, alguns aspectos teóricos que nortearam o estudo, em seguida destacaremos os dados obtidos e as análises realizadas e, finalmente concluímos apontando algumas questões importantes sobre a relação entre formação e ingresso das mulheres na carreira docente.

2-Aspectos teóricos

Poucos compreendem que o ingresso das mulheres, tanto nos cursos de nível superior quanto no mercado de trabalho, e as conquistas no âmbito legal, são fruto de lutas, tanto do movimento feminista, quanto de mulheres batalhadoras que contribuíram para que novos espaços fossem sendo ocupados por elas. Para Almeida

[...] as reivindicações por educação foram uníssonas: as mulheres viam no acesso ao letramento e ao conhecimento o caminho mais direto para a liberação feminina das limitações a que estavam sujeitas, considerando que a educação e a instrução promoveriam avanços significativos na existência feminina. (ALMEIDA, 2000, p.06).

No entanto, o acesso à educação por parte das mulheres, revelou-se apenas como o início da luta, uma vez que as escolas normais e os liceus, criados para formar e profissionalizar as mulheres, repetiam as normas ditadas por uma sociedade extremamente masculina que visava uma educação feminina voltada para o espaço doméstico. E esta sociedade permitiu que os homens se apropriassem do controle educacional, ao mesmo tempo que podiam normatizar a educação feminina de acordo com seu modo de agir e pensar.

Assim, as leis, os decretos, os regimentos das escolas normais bem como os currículos, programas, os livros didáticos e os manuais escolares foram construídos por educadores, intelectuais, governantes e legisladores do sexo masculino. A normatização da educação feminina também ficaria sob o domínio dos homens, do mesmo modo que a Educação Básica e a Superior masculina, para que este pudesse, enfim, conservar a ideologia que domesticou as mulheres desde o início da humanidade, ao mesmo tempo em que definiram as regras e os rumos da educação escolarizada feminina.

Deste modo, a discussão em torno da feminização do magistério é sem dúvida bastante complexa, mesmo porque existem olhares diferentes para este fato. Alguns autores dizem que foi porque o Magistério foi mais do que uma conquista, foi na verdade a única forma da mulher se libertar da submissão masculina. Entretanto, teve como conseqüência a desvalorização da profissão, devido à entrada em massa das mulheres nas escolas (LOURO, 2006; LELIS, 2001).

Para outros autores o Magistério foi relacionado à natureza feminina, mesmo por que até o século XIX, as mulheres eram criadas para as funções da maternidade e o zelo do lar fazendo com que o magistério se tornasse uma profissão feminina por excelência. Conforme Rousseau (apud ARCE, 2001, p. 170):

A educação primeira é a que mais importa, e essa primeira educação cabe incontestavelmente às mulheres: se o Autor da natureza tivesse querido que pertencesse aos homens, ter-lhes-ia dado leite para alimentarem as crianças. Falai, portanto às mulheres, de preferência, em vossos tratados de educação; pois além de terem a possibilidade de para isso atentar mais de perto que os homens, e de nisso influir cada vez mais, o êxito as interessa também muito mais...

Como se pode observar, essas concepções valorizavam a mulher apenas como mãe e esposa dedicada, o que a tornava a principal responsável pela primeira educação dos filhos, base da família e da pátria.

A transposição destas idéias para a educação escolar, contribuiu para uma

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