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A Necessidade da Arte

Por:   •  26/5/2018  •  Monografia  •  1.510 Palavras (7 Páginas)  •  202 Visualizações

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IAUUSP | IAU0651 – Introdução à Teoria da História, Arquitetura e Cidades

Jeziel Matos – 9265792

A NECESSIDADE DA ARTE março de 2016

“A poesia é indispensável. Se eu ao menos soubesse pra quê...”. Jean Cocteau coloca nessa frase paradoxal a necessidade da arte e sua função. E de fato, a arte é necessária, do contrário museus, teatros, salas de cinema e livrarias existiriam aos mínimos. Mas o que se busca ao mergulhar num universo “irreal” providenciado pelo artista? O faz com ignoremos nossas preocupações por certo período de tempo e concentremo-nos naquilo que é apresentado nos palcos, nos livros, nos quadros?

Alfredo Bosi, em seu livro Reflexões sobre a Arte, destaca três peças básicas, porém fundamentais, da arte: o fazer, o conhecer, o exprimir. A primeira, onde a relaciona com o fazer, Bosi mostra como arte é trabalho manual do homem. A própria palavra “arte” deriva de ars, articulação em latim, remetendo ao processo de fabricação da arte pelo homem e útil para o homem, ou seja, arte é uma forma de trabalho, e trabalho é necessário. O trabalho é um processo entre homem e natureza, é uma atividade tipicamente natural, vista não somente no ser humano, mas também em outros animais, como formigas e abelhas, logo não é surpreendente que a própria natureza tenha participado diretamente na produção da arte. O homem se apodera da natureza transformando-a, e isso é trabalho, a transformação da natureza, e, portanto, arte também. Para os gregos e romanos, por exemplo, um carpinteiro era um artista. Seguia uma técnica, no entanto a partir dela mesma que adquiria uma liberdade e produzia sua obra de arte. Na Idade Média, ele também era artista, mas era relacionado às chamadas “artes mecânicas”.

É importante também perceber que a arte carrega os aspectos de seu tempo. Após a descoberta de que a natureza poderia ser transformada em instrumentos para agir diretamente na própria natureza, o homem tornou-se um “mágico”: sentia que poderia modificar a natureza como quisesse com as ferramentas certas. “A arte era um instrumento mágico e servia ao homem na dominação da natureza e no desenvolvimento das relações sociais” (FISCHER, 1983, p. 5). Vemos também sua persistência em dominar a natureza pela imitação. Vários filósofos referiram-se a arte como imitação. Platão, por exemplo, via as obras como imagens imperfeitas dos originais. A magia original gradualmente se caminha em direção à arte, ciência e religião. Cria-se um imaginário por trás das bênçãos trazidas pelos deuses após um santo sacrifício e a matemática, juntamente com a filosofia, passam a ser desenvolvidas.

A visão do artista na idade média mantém-se com uma distinção entre as artes liberais e as artes mecânicas. A primeira relacionada ao esforço mental, abordando temas matemáticos e a retórica. As artes mecânicas exigiam esforço braçal, e nela incluíam-se principalmente carpinteiros, ferreiros, alfaiates. Com o Renascimento, começa a surgir a distinção entre artesãos e artistas: os artesãos, por exemplo, seguiam uma série de técnica e regras já testadas, já o artista baseava-se na sua criação e imaginação, embora também seguisse uma técnica. As artes passaram a se identificar com as “belas artes”, conceito que surgiu na Europa no fim do século XVIII e que se preocupam com a criação do belo, independente de sua utilidade prática.

Voltamos então à questão inicial: porque a arte é necessária? Porque os europeus sentiam a necessidade de recuperar os antigos greco-romanos através da arte? Porque Mondrian trabalhou a finco durante anos em suas composições de planos e linhas e porque elas são admiradas até hoje? Não teria, por acaso, a arte mais de um objetivo? Ela não poderia simplesmente ser, existir por si só?

Diante de uma sociedade desigual socialmente e injusta, o artista Frederick Taylor afirmou, em 1945, que as pessoas precisam instintivamente de arte: “meus quadros informam o público, e informam os trabalhadores, e aumentam a compreensão mútua e o respeito”. Ele coloca a arte como possuidora de um alcance e poder social, capaz de influenciar e até mudar as estruturas das relações sociais. Para Baudelaire, a arte deveria perseguir fins sociais: seu principal trabalho, As Flores do Mal, foi lançado sob tensões sociais, e ele entendia que sua missão como artista era de denunciar as desigualdades e as terríveis condições do povo oprimido. Isso é visível em seu poema dedicado a Vitor Hugo, “O cisne”, onde as revoluções de 1848 ganham destaque:

Agora fecundou minha fértil saudade,

Como eu atravessasse o novo Carrossel.

Morto é o velho Paris (a forma da cidade

Muda bem mais que o coração de uma infiel);

Vale a pena destacar que essa poesia foi dedicada a Victor Hugo, autor da obra “Les Misérables”, referência clara e forte no assunto.

Voloshinov e Bakhtin, escrevendo para a revista Zvezda, da Rússia, em 1926, criticam o cunho artístico das poesias lançadas recentemente, afirmando que os artistas estão tratando a arte como não-sociológica “por natureza”, “A maior parte dos estudiosos de arte da Europa ocidental e da Rússia tem esta pretensão de ver a literatura e a arte como um todo, e na base defendem persistentemente o estudo da arte como uma disciplina especial, contra abordagens sociológicas de qualquer espécie”. Há, ainda mais, diversos pensadores que defendem mais que uma simples participação social da arte, mas assim como o Voloshinov e Bakhtin, pensam que a arte é uma parte fundamental da relação social, podendo ser um elo de ligação entre as camadas populares:

“Brecht observa que, numa sociedade dividida pela luta de classes, o efeito imediato da obra de arte requerida pela estética da classe dominante é o efeito de suprimir as diferenças sociais existentes na plateia, criando, assim, enquanto a pela vai sendo encenada, uma coletividade ‘universalmente humana’ e não dividida em classes.” (FISCHER, 1983).

A partir dessa afirmação, uma nova questão se coloca: arte para quê e para quem? Cândido discute o direito à literatura colocando em questão o comportamento individual frente aos aspectos sociais: é incontestável o direito à moradia, educação, saúde, mas pouco se discute o direito à literatura e à arte. O privilégio da literatura se restringe a poucos grupos, e, até certo ponto, se destina exatamente a esses poucos grupos, ou seja, não é só no acesso à literatura que encontramos dificuldades, mas também na sua apreciação, e isso contribui ainda mais para a disparidade dos indivíduos que se utilizam da literatura. Uma grande porcentagem da população brasileira não saberia dizer quem foi Shakespeare, ou Camões, não sabem do que se trata Ilíada, ou A Divina Comédia, e mesmo se fugirmos do conteúdo dado como erudito, encontramos o mesmo efeito com o folclore popular.

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