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BLOW UP TEORIAS DA HISTORIA

Por:   •  7/12/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.484 Palavras (6 Páginas)  •  285 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE ARTES - DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS

BACHARELADO EM HISTÓRIA DA ARTE

Disciplina: Teorias da História/ 2017-2

Profª: Joana Bosak de Figueiredo

Avaliação: Resenha do filme Blow Up

Discente: Valéria Zanivam Marafiga

Blow Up – Depois Daquele Beijo é um filme dirigido por Michelangelo Antonioni e produzido em 1966, esta obra cinematográfica foi baseada no conto do escritor Julio Cortazar - As Babas do Diabo – publicado em 1959, onde é retratado determinado momento em que um fotógrafo, ao capturar uma cena em sua câmera, percebe-se inserido em uma trama perniciosa que leva a uma sucessão de enigmas e fatos incompletos, de forma que cabe ao leitor usar de livre interpretação e imaginação para concluir o desfecho da história; o filme utiliza da mesma base: fotógrafo/cena/crime/consequência, com movimentos de câmera velozes e cenas desconexas que provocam no expectador a inquietude e o suspense presentes na narrativa de Cortazar, mas difere, principalmente, no conteúdo do delito presenciado pelo personagem.

O conto possui uma linguagem fragmentada e inicia com a dificuldade do narrador em relatar algo que não é exato, o autor utiliza um narrador terceira pessoa, vivo e que presenciou os acontecimentos e outro em primeira pessoa que é quem nos conta a história e de acordo com o texto, está morto: “(...) algum de nós tem que escrever, se é que isto vai ser contado. Melhor que seja eu que estou morto, que estou menos comprometido do que o resto; eu que não vejo mais que as nuvens e posso pensar sem me distrair, escrever sem me distrair(...)”; o filme também utiliza um enredo segmentado com cenas que nos parecem muitas vezes desconexas e começa já acompanhando os movimentos do personagem principal, que assim como no conto é o fotógrafo, mas nesse caso o vemos vivo e não nos é sugerido uma morte futura, existe na filmagem uma linearidade maior que a presente na narrativa de Cortazar, ao assistirmos o longa metragem, desde o primeiro momento somos colocados a par da “rotina” do personagem de forma que nos familiarizamos rapidamente com seu modo de vida – seu status, suas maneiras, as sessões de fotos, os relacionamentos – é somente após uma breve introdução a vida do personagem que adentramos na trama de As Babas do Diabo, enquanto que na literatura o protagonista durante um passeio de domingo chega à uma pequena praça, íntima, como é descrita: “(...) a íntima pracinha (íntima por pequena e não por recatada, pois dá o peito inteiro ao rio e ao céu) que eu gosto e regosto (...)”, no filme assistimos o fotógrafo se ausentar deliberadamente de uma enfadonha sessão de fotos de algum editorial de moda, para visitar um antiquário e posteriormente fazer algumas fotografias no que parece ser uma espécie de parque próximo à loja.

Há então um diálogo sutil entre uma ideia presente no conto e a na película, pois na narrativa nos é exposto o significado é a importância da fotografia para o personagem, para este a atividade deveria ser ensinada desde a infância pois: “(...) exige disciplina, educação estética, bom olho e dedos seguros. (...) Michel sabia que o fotógrafo age sempre como uma permutação de sua maneira pessoal de ver o mundo por outra qual a câmara lhe impõe, insidiosa (agora passa uma grande nuvem quase negra), mas não desconfiava, sabedor de que bastava sair sem a Cóntax para recuperar o tom distraído, a visão sem enquadramento, a luz sem diafragma(...)”, esta mesma concepção é percebida em Blow Up, pois apesar do ritmo frenético do protagonista e da sua vida profissional, é clara sua paixão e dedicação à fotografia e sua preferência por retratar uma realidade a qual não se insere, preferindo capturar cenas de paisagens e do cotidiano de trabalhadores do que a superficialidade dos ensaios do estúdio com modelos, roupas e ambiente artificial.

Em As Babas do Diabo, o interprete se posiciona de modo a fotografar um casal que lhe chama atenção sem nenhum motivo aparente e acaba por chamar a atenção dos retratados – um garoto e uma mulher mais velha – provocando a fuga do menino e a ira da mulher que o recrimina pela fotografia e exige que lhe entregue o rolo de filme, tudo isso ocorre sem que o fotógrafo dê-se por conta da realidade da ação que presencia, é somente depois de fazer a foto que reflete sobre o que viu e percebe que acaba de capturar um provável aliciamento de menor e consequentemente frustrar as intenções dos corruptores, é provável que o título do conto seja uma alusão a isso; já o Blow Up não utiliza desse tema, apesar de utilizar o mesmo contexto – durante um passeio o retratista depara-se com um casal (também de idades contrastantes, mas entre dois adultos, uma mulher jovem e um homem mais velho) e decide fotografá-los – o evento testemunhado no caso é um assassinato, alteração essa, feita talvez com o intuito de facilitar o entendimento pelo público ou uma melhor aceitação devido ao contexto histórico da década de 60, cenário de diversas mudanças e questionamentos que envolvem desde assuntos políticos e sociais às questões de gênero, sexualidade e étnica.

É plausível mencionar, brevemente dentro desse contexto de indagações e onde os casais são apresentados nas obras, a representação objetificada da figura da mulher e de sua “natureza infausta” tanto na literatura como na filmografia, é possível constatar na narrativa em uma rápida passagem em que o narrador descreve o casal que vê na praça – “(...) do garoto recordo a imagem antes que o verdadeiro corpo (isto se entenderá depois), enquanto agora tenho certeza de que da mulher recordo muito melhor seu corpo que sua imagem. (...)” – e o mesmo acontece no Blow Up em que o personagem principal trabalha com o ápice do estereotipo de beleza feminino e isso é até mesmo utilizado como forma de barganha em algumas situações do filme, em ambos os casos além da óbvia sexualização do corpo feminino, há a manifestação da mulher como agente ou causadora do mal, assim como constantemente vemos a Eva como veiculo da tentação, aquela que corrompeu Adão, em ambas as obras as mulheres aparecem como “iscas” e são elas que atraem a figura masculina com intuito de enganar e com pretensões perigosas.

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