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Barbárie e Modernidade

Por:   •  2/5/2018  •  Dissertação  •  592 Palavras (3 Páginas)  •  127 Visualizações

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Barbárie e Modernidade

Em sua origem a palavra bárbaro designava aquilo que se opõe ao civilizado, ou seja,  tudo o que se poderia considerar primitivo, cruel e vil.

Os acontecimentos do século 20  nos levam a refletir sobre o conceito – aparentemente contraditório, mas muito pertinente – de barbárie civilizada. Começa em 1939 uma guerra entre nações “civilizadas” cuja violência é simplesmente impossível de comparar com o furor atribuído aos povos considerados bárbaros.

Um dos aspectos mais importante do processo civilizador é a pacificação social e a monopolização da violência pelo Estado. As emoções passam a ser controladas e a coerção física fica concentrada nas mãos do poder político.  

A primeira guerra mundial inaugura um novo estágio da barbárie especificamente moderna do ponto de vista de seus meios, ideologia e estrutura. Em nenhum outro momento da história tecnologias tão modernas haviam sido empregadas em serviço de uma política de massacre e agressão em tamanha escala.

A barbárie moderna apresenta como características a utilização de técnicas modernas para industrializar o homicídio, exterminação em massa possibilitada pelo uso de tecnologia de ponta, impessoalidade do massacre, onde populações inteiras são exterminadas, gestão racional e burocrática dos atos bárbaros e ideologia legitimadora biológica, higiênica e científica.

Quatro massacres servem de exemplos mais claros da modernidade da barbárie, são eles o genocídio nazista contra os judeus e os ciganos, a bomba atômica em Hiroshima, o Goulag estalinista e a guerra norte-americana no Vietnã. As câmaras de gás nazistas e a arma atômica norte-americana contêm quase todos os ingredientes necessários para a barbárie tecno-burocrática moderna.

O genocídio promovido pelos nazistas, como observa o sociólogo Zygmunt Bauman, é um produto típico da cultura racional burocrática, que elimina da gestão administrativa toda interferência moral. Nos meios de exterminação nazistas havia uma combinação de diferentes instituições típicas da modernidade: a prisão descrita por Foucault, a fábrica capitalista descrita por Marx, a organização científica do trabalho de Taylor, a administração racional/burocrática segundo Max Weber.

Em muitos aspectos, Hiroshima representa um nível superior de modernidade em comparação à Auschwitz,  tanto pela novidade científica e tecnológica da arma atômica, quanto pelo caráter ainda mais distante e impessoal do extermínio.

O Goulag estalinista possui muito em comum com Auschwitz, mas se distingue pelo fato de que os campos de concentração soviéticos não eram destinados ao extermínio dos seus prisioneiros e sim a exploração dos mesmos. O Goulag era burocraticamente administrado por um Estado totalitário e colocado ao serviço de projetos estalinistas para a modernização econômica da União Soviética. Mas ele se caracteriza também por outros traços primitivos como a corrupção, a ineficácia, a arbitrariedade e a irracionalidade.

A guerra americana no Vietnã foi uma intervenção extremamente moderna e racional onde  computadores e um exército especializado foram utilizados para promover o extermínio de civis através de bombardeios, uso de armas químicas e execuções coletivas.

Os atos extremamente bárbaros cometidos por nossa civilização não são em nada uma regressão à barbárie de outrora, ou seja, aos tempos não civilizados. Não há nada no passado que seja compatível à produção industrial, científica, anônima e racionalmente administrada da morte em nossa época.

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