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Imaginação: A alma nunca pensa sem uma imagem

Por:   •  26/5/2018  •  Dissertação  •  2.697 Palavras (11 Páginas)  •  405 Visualizações

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IMAGINAÇÃO

A alma nunca pensa sem uma imagem.

Aristóteles

O olho vê, a memória revê e a imaginação transvê.

Manuel de Barros

A imaginação é vontade de ser mais.

Gaston Bachelard

“A imaginação, não é como sugere a etimologia, a faculdade de formar imagens da realidade; ela é a faculdade de formar imagens que ultrapassam a realidade, que cantam a realidade, é uma faculdade de sobre-humanidade.” (Gaston Bachelard, 1994, p.xvi)

Segundo Eliana Stort, essas imagens podem estar associadas à nossa memória, reproduzindo imagens vivenciadas em experiências passadas, imagens que existem ou existiram, mas que não mais estão em nossa presença física, que é a imaginação reprodutora.

Podem estar associadas à nossa fantasia, que é uma forma “de atividade imaginativa que tende a afastar o indivíduo de um contato mais efetivo da realidade”. (Stort, 1993, p. 45)

Ou à imaginação em si, que é “a elaboração voluntária e organizada de nossas imagens mentais”. (Stort, 1993, p. 45)

“É justamente pela imaginação que o homem, percebendo a defasagem entre o dado e o sonhado, entre o dado e construído, coloca em ação a sua capacidade de transformar a natureza e criar cultura”. (Stort, 1993, p. 47)

Ela surge da experiência do homem com a realidade, e a ultrapassa, na medida em que, supre as carências e as ausências, manifestando as necessidades e aspirações humanas, criando novas possibilidades para o mundo concreto.

Já no imaginário, o sonho e a realidade se interpenetram de tal modo, que não sabemos onde um começa e onde o outro termina. “Nele, o sonho é cantado como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho, a realidade é modelada pelo sonho e recriada pelo seu autor” (Stort, 1993, p. 48)

Na imaginação convergem três elementos: o fantástico, o real e o afetivo, que por mais particular que seja, encontra ressonância em outras almas, que se identificam e se reconhecem nela.

Essa questão da particularidade, da generalidade e da universalidade da arte, é bem exposta por Fernando Pessoa: “O artista não exprime as suas emoções. O seu mister não é esse. Exprime das suas emoções, aquelas que são comuns aos outros homens”. (Pessoa, 1986, p.225) Essa colocação corresponde ao primeiro princípio da arte, que é a generalidade. O segundo princípio é o da universalidade, que implica na possibilidade de o artista comunicar-se com aqueles que estão além de sua época: “O artista deve exprimir não só o que é de todos os homens, mas também o que é de todos os tempos”. (Pessoa, 1986, p.226)

A arte universal é atemporal. Vai muito além de seu tempo, por tratar de questões que são essenciais ao homem. Arte não é uma interpretação dos sentimentos individuais, e sim, uma interpretação individual dos sentimentos humanos. “É o geral que deve ser particularizado, o humano que deve pessoalizar, o exterior que se deve tornar interior”. (...) Qualquer indivíduo é ao mesmo tempo indivíduo e humano: difere de todos os outros e parece-se com todos os outros”. (Pessoa, 1986, p.242)

Somos movidos por uma idéia e por uma emoção que temos em relação ao que nos toca, é a nossa visão de mundo, que uma vez expressa, irá dialogar com outros homens. Para Fernando Pessoa esses são os componentes da imaginação. Ele vê a imaginação como uma combinação de idéia e emoção. “A idéia deve ser nítida, a emoção vaga, a imaginação, como é composta essencialmente de ambos, ao mesmo tempo vaga e nítida”. (Pessoa, 1986, p.231)

A emoção é particular e o entendimento é do homem e referido ao seu tempo, e a universalidade da razão é de todos os tempos. Da fusão da idéia e da emoção, da imaginação e da razão, do entendimento e da sensibilidade, do subjetivo e do objetivo, do abstrato e do concreto, do equilíbrio e da harmonia entre os opostos é que se gera a criação.

A imaginação é fruto do que sentimos de maneira particular e do que entendemos de maneira geral.

Eliana Stort classifica as funções da imaginação:

Função objetivadora e libertadora: que supre ausências afetivas e anseios reprimidos.

Função comunicativa de auto-conhecimento e conhecimento do mundo: através do imaginário o homem conhece suas carências, desejos e necessidades.

Função crítica: quando criamos uma distância entre o mundo objetivo e o mundo idealizado, que nos leva à reflexão, apurando o nosso senso crítico.

Função de apoio ao desenvolvimento racional: que ajuda a distinguir o real do fictício. Razão e imaginação constroem uma pela outra e não uma contra a outra.

Função criadora: que permite ultrapassar o dado, o agora e o imediato, originando o que não era visível e nem existente.

No caso das artes visuais, podemos ainda falar da imaginação formal e da imaginação material.

IMAGINAÇÃO FORMAL

A imaginação formal se apóia no sentido da visão. A predominância da visão sobre os demais sentidos atrela a imaginação à forma.

O homem quando imagina, imagina formalmente, ele pensa em termos dos elementos que estruturam a linguagem visual

O homem quando imagina, imagina formalmente, ele pensa em termos dos elementos que estruturam a linguagem visual: o movimento das linhas, as grandezas das formas, as densidades dos volumes, as gradações de luz e as relações entre as cores. São formas visuais vistas mentalmente.

É uma imaginação contemplativa, que atrelada à matéria plástica que dará forma à ela, dará vida à causa material.

Segundo Anaxágoras: “O homem pensa porque tem mãos”:

As formas se caracterizam por sua natureza sensorial e está sempre vinculada ao seu caráter material.

Para ilustrar esta idéia, apresentaremos uma imagem de um quadro de Kandinsky, ao lado de uma descrição do impacto que ele teve no momento em que avistou sua terra natal depois de uma longa ausência.

Resta-me apenas um quadro dessa viagem. É “a velha cidade”, mas pintei-a de memória após o meu regresso a Munique.

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