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Muiraquitan, Theodoro Braga

Por:   •  26/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  4.988 Palavras (20 Páginas)  •  179 Visualizações

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Muiraquitã, sois vênus? A representação da lenda indígena por Theodoro Braga

Caroline de Paula Egídio

Dalila Singulane Varella

Karina Avelar

Resumo

Resultado de uma pesquisa as lendas originárias das terras amazônicas,este trabalho tem como objetivo analisar a representação das mulheres indígenas na segunda década do século XX, à partir da obra de Theodoro Braga (1872- 1953), intitulada “ Muiraquitã”. Além de chamar a atenção por sua composição imagética e pela técnica utilizada, a representação da lenda nos remete a idealização e a personificação do índio, e sobretudo, da mulher indígena, como pertencentes e representantes de uma identidade e de uma cultura que não se manifestaria somente em um âmbito local, mas também através de um discurso nacional. Ademais, acrescenta-se também o fato da produção da mesma estar localizada em um momento de tendências e ideias que estariam em ascensão no Brasil, e se propagariam com afinco na Semana de Arte Moderna de 1922, evento e movimento que rediscutiram a função nacional do artista, a valorização do passado brasileiro e sua formação étnica, lugar onde o indígena se insere como um de seus agentes para a escrita de uma história mais "integradora" do país. Para isso, utilizaremos como suporte a historiografia produzida na época, as representações e os debates em torno das questões raciais e das políticas indigenistas, afim de entender como essas ideias, baseadas em um conceito de modernidade, teriam influência sobre a imagem do índio que estaria se perpetuando na esfera pública da sociedade brasileira.

Palavras – Chave:  Theodoro Braga; Muiraquitã; arte brasileira; indígena.

“Theodoro Braga – Bacharel como toda gente, artista como poucos[1]

Theodoro José da Silva Braga, ou apenas Theodoro Braga, nasceu em Belém do Pará no ano de 1872, e formou-se em direito na Faculdade de Recife, mesma cidade onde inicia sua trajetória artística ao iniciar suas aulas com o paisagista Telles Júnior, em 1893. Em 1894, muda- se para o Rio de Janeiro e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes, tendo como preceptores Belmiro de Almeida, Daniel Bérard e Zeferino da Costa, artistas que tinham como referência a adoção de um padrão estético europeu, baseado tanto em um modelo italiano, quanto francês. Por sua habilidade artística, recebe o “ Prêmio de Viagem a Europa” em 1899, o que o permite estudar na Academie Julian[2] com grandes mestres da pintura, como Jean Paul Laurens, especialista em pintura histórica.  O contato com  a obra Ernest Lavisse[3], outro grande mestre, ajudaria Theodoro Braga  a se compor como artista, “historiador” e como pensador de balizas de uma educação nacional. Ademais, sua estada  na capital francesa também o aproxima da arte decorativa de Eugène Grasset, cuja a influência se torna manifesta em suas primeiras proposições para uma arte decorativa de caráter nacional. Em exposição no Salão de 1905, recebe criticas positivas de Gonzaga Duque, que foram divulgadas na impressa carioca na mesma época.

Sua  produção reuniria motivos da cultura e das sociedades indígenas da Amazônia, voltada para a proposição de uma arte brasileira com uma origem em comum, com destaque para a arte marajoara, por suas linhas geométricas, labirínticas e também a flora brasileira, preposições que podem ser vistas em “A Planta Brasileira (copiada do natural) – Aplicada à Ornamentação[4]. Braga utilizava como fundamento para elaboração de sua arte os conceitos regionais e nacionais voltados para a constituição de uma identidade, e

O estudo sobre Theodoro Braga permite perceber a envergadura de sua produção, o empenho e a forma aplicada com que estudava. Portanto, é de fácil percepção a “multiformidade” de toda a sua obra e pensamento. Já se sabe que um dos métodos utilizados por Braga foi o incentivo às modificações das práticas do ensino do desenho e da arte em geral no Brasil, para uma produção de obras com características presumidamente brasileiras, o que leva o pesquisador Clóvis Morais Rêgo a alegar que a preocupação com o brasileirismo se constitui em Braga “num 'leit-motiv'. A nacionalização de nossa arte se transforma nele em uma quase obsessão”.[5]

 Três autores  foram fundamentais para definir as bases dos estudos  do artista sobre a história do Pará e da Amazônia no século XIX: Joaquim Pedro Corrêa de Freitas com  o seu “Noções de Geographia e Historia do Brazil”, publicado em 1863, Theodoro Rodrigues e a “História do Brasil”, publicada em 1898, que segundo o próprio Braga teve a "primazia de angular a história do país, entrelaçando-a à história da Amazônia"[6],e Arthur Vianna e os "Pontos de História do Pará", de 1898. Tratava- se de um momento em que o índio voltaria a fazer parte do imaginário da nação, deixando de estar relegado a um passado colonial. Deste modo, o artista passou a construir uma outra interpretação para a história da Amazônia e a incorporar uma outra versão do índio, como representação do nativo, em suas análises sobre a formação social e sobre o caráter do povo brasileiro, embora a inclusão, segundo FIGUEIREDO (2001; p.124)  “se deu com o expresso objetivo da exclusão.”

Após retornar de sua estadia em Paris, em 1905, as suas novas técnicas, e a produção de obras históricas chamariam a atenção do então intendente de Belém, Antônio Lemos[7],  que acaba se tornando mecenas de Theodoro Braga. Ele recebe uma encomenda de Lemos para pintar uma grandiosa tela sobre a fundação da cidade de Belém, e acaba por retornar a Europa  para pesquisar no Arquivo Ultramarino Português sobre esse momento da história paraense.  Esse processo dura dois anos, sendo completamente financiado pelo intendente. A tela fica pronta no ano de 1908, mesmo período em que o pintor fixa moradia na localidade, embora ainda transite  entre as cidades de Recife e Rio de Janeiro.

Apesar de haver poucas menções ao assunto,a passagem de Theodoro Braga por Portugal não passa desapercebida, já que em 1911, a publicação semanal "Illustração Portugueza" do jornal “O Século”[8], realiza uma grande matéria sobre o pintor brasileiro e sua esposa. Na publicação há uma imagem de Theodoro em seu atelier, onde é possível ver a tela “Muiraquitã”, que provavelmente tem cerca de 150cm de largura. A lenda amazônica é descrita com detalhes, e a tela, é considerada como não finalizada, o que nos dá algumas pistas sobre a reprodução que utilizaremos no presente estudo.

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