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O princípio da realidade na pintura renascentista

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Por:   •  28/8/2014  •  Projeto de pesquisa  •  2.395 Palavras (10 Páginas)  •  245 Visualizações

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ICLEIA BORSA CATTANI

O princípio de realidade na pintura do Renascimento — a questão da perspectiva ∗

Até hoje um dos critérios do público leigo para julgar da maior ou menor “qualidade” de uma pintura,

é compará-la a algum modelo do mundo visível e medir seu maior ou menor grau de semelhança com

o real.

Uma pintura é considerada boa, bela e compreensível segundo esses parâmetros, como se fosse

o objetivo “natural” da arte. Essa é unia das razões (evidentemente, não a única) pelas quais a distância

entre a arte moderna e contemporânea e o público leigo aumentou progressivamente. O domínio dos

códigos ficou cada vez mais restrito a pequenos grupos de especialistas, como se houvesse de um

lado urna arte “natural”, elaborada à imagem e semelhança do mundo visível, e de outro lado

produções “artificiais”, “falsas” ou “codificadas”, aquelas que não se guiam pelo princípio de realidade.

Entretanto, esse princípio tal como o conhecemos ainda hoje, elaborou-se na produção artística

(principalmente, a pintura), no Renascimento, sob condições históricas e sociais bem definidas.

O novo sistema de formas era em tudo diferente do sistema medieval anterior, embora tivesse

começado de forma embrionária ainda na Idade Média, no período gótico, marcando

progressivamente uma nova visão de mundo e de arte.

A arte medieval se havia caracterizado até o período românico, e no estilo bizantino, pela

ausência de profundidade espacial, pela estilização das formas e simplificação dos volumes, e pelo

tratamento arbitrário do corpo humano, que tanto podia ser deformado para adaptar-se a um espaço

definido, quanto ser representado em tamanhos diferenciados dentro de um mesmo espaço de

representação, para significar a importância hierárquica de cada personagem. A arte não possuía

compromisso com a representação da realidade, contrariamente ao sistema renascentista. Os códigos

eram, em oposição a um sistema de representação individualizado, genéricos e rígidos.

Pierre Francastel assim define a arte bizantina (em oposição ao novo tema de signos que

começou a se elaborar na Itália no século XIV com Giotto):

Para Bizâncio, o problema do lugar e do tempo se colocava de um modo bem preciso. Toda

representação é ali ligada ao dogma cristológico sobre o qual repousa igualmente a

hierarquia social do universo. A pintura é assim destinada a materializar as dimensões de

um espaço do qual todas as qualidades são determinadas pela lei divina. Não há de certo

modo espaço figurado; o espaço representado é atual, seja quando se trata das paredes e

dos arcos de uma igreja, seja quando se trata da superfície de uma imagem. A essência é

Porto Arte, Porto Alegre, 1 (1) maio 1990. pp.31-39.

uma, e ela está em tudo na sua totalidade. O universo é a atualização do pensamento

divino. 1

A pintura do Renascimento tentou elaborar em oposição a esse sistema de formas um outro

sistema, igualmente complexo, mas baseado em novos princípios construtivos. As razões pira as

mudanças foram várias. Francastel coloca, no mesmo texto citado, a propósito de Giotto, que não

foram razões puramente figurativas que o levaram a renovar o espaço-tempo de sua pintura, mas

razoes intelectuais e sensíveis. Esse novo sistema de representação, baseado no princípio de realidade,

organiza-se na verdade a partir de estruturas formais Inovadoras mas igualmente abstratas, dentre as

quais é necessário destacar o sistema perspectivo que foi sendo gradualmente elaborado.

O sistema perspectivo visava unificar a imagem representada a partir de um ponto de

convergência único. Visava também reproduzir, num espaço bidimensional, a realidade corpórea,

volumétrica, de figuras e objetos tridimensionais reais. Transformado num espaço c e representação

do tridimensional, o suporte bidimensional da pintura passou a ser negado na sua realidade física,

sendo concebido como plano transparente, ponto d intersecção da pirâmide formada pelos raios

visuais, tendo por ápice o olho no observador e por base o objeto a ser representado. O objetivo era

sempre representar, sobre o suporte (tela, madeira, parede), os objetos e o espaço reais, pela

determinação exata e matemática de sua forma, de suas dimensões e posição, de modo que a

imagem pictórica correspondesse fielmente à que produz a visão direta.2

reprodução fiel do real, “janela pela qual, como o artista quer nos fazer crer, nosso

...

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