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A Noção de Cultura nas Ciências Sociais

Por:   •  22/10/2018  •  Resenha  •  2.567 Palavras (11 Páginas)  •  935 Visualizações

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CUCHE, Denys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999, p. 17-108 e 237-244

Autor:

Nascido em 1947 na França, Denys Cuche é, além de sociólogo e antropólogo, doutor em etnologia sob a orientação de Roger Bastide na Universidade de Sorbonne (Faculdade de Ciências Humanas e Sociais) e na Universidade de Paris. Destaca-se como pesquisador na área de fatores culturais, como música, linguagem e contatos de cultura. Trabalha também com pesquisa no grupo de “Migração Internacional e as relações étnicas”, e é secretário-geral e membro editorial da revista “Bastidiana”, fundada em 1993.

Ainda vivo, Denys Cuche é uma figura ímpar no âmbito antropológico, influente principalmente na França. 

Gênese Social da Palavra e da Ideia de Cultura

Dito que a palavra “cultura” não tem equivalente na maior parte das línguas orais das sociedades estudadas por etnólogos, ja que estas nao tem o interesse na questão de saber ou nao se têm cultura, ou ainda em definir sua própria, o autor propõe em começar examinando como tal palavra fora formada, sua origem, e sua evolução semântica.

A evolução de ''cultura'' na língua francesa

A palavra "cultura" vem do latim, e significa: o cuidado dispensado ao campo ou ao gado. Ao fim do século XIII, ela aparece para designar uma parcela de terra cultivada, e no começo do século XVI, adquiri a significação de "o fato de cultivar a terra". O significado da palavra progressivamente acaba por designar a "formação", a "educação" do espírito. Passa-se de "ação de instruir" para "cultura como estado" (depois de instrução, vem o estado de espírito "que tem cultura"). No século XVIII, a palavra é associada às ideias de progresso, evolução, educação e de razão que estão no centro do pensamento da época. Do ponto de vista dos iluministas, cultura é a soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade.

No vocabulário frances, os significados de cultura e civilização estão muito próximos. A palavra civilização remete ao processo de melhoria das instituições, da legislação e da educação. Se alguns povos estão avançados a ponto de serem considerados civilizados, todos os outros povos, até os mais ''selvagens'', tem vocação para entrar no mesmo movimento de civilização, sendo que os mais avançados têm o dever de ajudar os mais atrasados.

A partir do seculo XVIII o homem está colocado no centro da reflexão e no centro do universo, e aparece a possibilidade de uma ''ciencia do homem''. Em 1787, Alexandre Chavannes cria o termo " etnologia" que ele define como "história dos progressos dos povos em direção à civilização".

O debate franco-alemão sobre Cultura ou a antítese “Civilização” – “Cultura” (século XIX – início do século XX)

Na Alemanha, tudo o que é autêntico e que contribui para o enriquecimento intelectual e espiritual será considerado como vindo da cultura. Ao contrário, o que é somente aparência brilhante, leviandade e refinamento, pertence à civilização.  Às vésperas da Revolução Francesa e diante do poder dos Estados vizinhos, a "nação" alemã, enfraquecida pelas divisões políticas, glorifica sua cultura como tentativa de afirmar sua existência. Sob influência do nacionalismo, a ideia de cultura na Alemanha evolui no século XIX, e se liga cada vez mais ao conceito de "nação". "A cultura aparece como um conjunto de conquistas artísticas, intelectuais e morais que constituem o patrimonio de uma nação, considerado como adquirido definitivamente e fundador de sua unidade." (p. 28). Para os autores românticos alemães, "cultura" se opõe a "civilização", pois a primeira é a expressão da alma de um povo, enquanto a segunda está ligada ao progresso material.

Na França, "cultura" passou a designar "um conjunto de caracteres próprios de uma comunidade, mas em um sentido geralmente vasto" (p. 29).

A oposição das duas concepções de cultura, uma sendo particularista, e a outra universalista, é a base das duas maneiras de definir o conceito da palavra nas ciências sociais contemporâneas.

A invenç ão do conceito científico de cultura

A adoção de um pensamento positivo na reflexão sobre o homem, resulta na criação da sociologia e da etnologia. A etnologia tenta dar uma resposta à questão da diversidade humana; os etnógrafos vão explorar dois caminhos simultaneamente: o que privilegia a unidade e não a diversidade (evolucionista), e o que dá toda a importância a diversidade. O conceito de "cultura" será descritivo, ou seja, os etnógrafos irão descrever o que ela é e como aparece nas sociedades humanas.

Tylor e a concepção universalista da cultura

O britânico Edward Burnett Taylor foi o primeiro antropólogo a definir cultura etnologicamente:

"Cultura e civilização, são um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades os hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade." (p. 35)

Sua definição rompe com o caráter individualista de cultura: para Tylor, cultura é a expressão de totalidade da vida do homem e não depende de herança biológica. Ele tentou estabelecer uma escala grosseira de estágios da evolução da cultura humana (a inevitável caminhada do selvagem em direção ao civilizado, não havendo diferenças entre a natureza dos dois, e sim entre o grau de avanço).

Franz Boas e a concepção particularista de cultura

Boas foi o primeiro a fazer pesquisas "in situ" para observação direta de culturas primitivas e é o inventor da etnografia. Para ele, o conceito de "raça humana" é impossível ser definido com precisão pois a característica dos grupos é exatamente sua instabilidade, mestiçagem e plasticidade. Para Boas não há diferença de natureza biológica entre primitivos e civilizados, a diferença é a cultura (não inata). Ao contrário de Tylor, Boas se dedicou ao estudos ''das culturas'', e não ''da cultura'' humana. Como Boas rejeitava qualquer teoria que pretendesse explicar tudo e rejeitava generalizações não demonstradas empiricamente, achava quase impossível a descoberta de uma lei que regesse o funcionamentos das sociedades ou a evolução das culturas.

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