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A TEORIA REPRODUTIVISTA E O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO

Por:   •  15/4/2016  •  Trabalho acadêmico  •  3.244 Palavras (13 Páginas)  •  1.410 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

A TEORIA REPRODUTIVISTA E O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO

Eduardo Augusto Nivinski - 85746917

Vitor Medalla Barbosa - 7237038

São Paulo

11 de Dezembro de 2015

INTRODUÇÃO

Nesta dissertação perpassamos algumas das questões essenciais da formação e do desenvolvimento do sistema educacional brasileiro através da perspectiva reprodutivista de uma sociologia da educação, como ciência das relações, da cosmologia do conhecimento e do poder, que seja capaz de contribuir para o entendimento relacional entre o modus operandi do sistema de ensino e sua conseqüência real na constituição da vida social. Partimos então de pesquisas empíricas qualitativas que buscam abordar as possibilidades educacionais de cada classe, perpassando o conjunto de relações que envolvem os agentes não somente no âmbito escolar, mas também no social, econômico, cultural, e principalmente, no âmbito familiar, para adentrar o caráter reprodutivista da educação pelo enfoque conceitual e teórico Bourdieusiano e em contraste a perspectiva funcionalista de analise do sistema escolar.

O SISTEMA ESCOLAR BRASILEIRO, O FUNCIONALISMO, E O REPRODUTIVISMO EM PERSPECTIVA COMPARADA.

        

        Durante os séculos XX e XXI o Brasil, assim como a grande maioria dos países ocidentais, passam por um grande processo de expansão educacional. Baseada essencialmente sobre princípios democráticos, a expansão escolar surge fortemente associada a ideia de escola que detém o papel central da promoção de educação capacitadora, formadora da igualdade e das oportunidades. Até meados das décadas de 1950 e 1960 as instituições de ensino foram entendidas, analisadas, e até mesmo idealizadas através dessa perspectiva funcionalista, que se utilizava essencialmente de dados quantitativos para avaliar o alcance escolar nas diferentes camadas sociais com a correlativa função democrática que era cabido à educação; assim temos uma vertente de estudiosos que acompanham o funcionamento do sistema escolar em relação a mobilidade social, e que promove a mobilidade social, através do estudo de dados quantitativos.

        Essa era a visão colocada à escola, formadora do cidadão com objetivo de uma sociedade da cidadania, dos direitos; como produtora de igualdade social e mobilidade social, uma escola libertadora onde se realiza a democracia, pois ela possibilitaria a todos, independentemente de sua origem social e econômica, as mesmas chances de ascender socialmente - ideal meritocrata. É uma abordagem que coloca a escola como produtora de uma cultura de massa que leva a uma homogeneização da sociedade na medida em que leva todas as classes sociais a valorização de uma mesma cultura, além de ser central na formação do cidadão, trazendo a eles independência e senso crítico, além de garantia do caráter democrático social e geração do capital humano que atenda as necessidades para a economia.

                Bourdieu é um dos autores que percebe que os objetivos educacionais propostos de redução das desigualdades sociais e da estratificação social no país não se verificavam, busca desconstruir essa visão da escola democrática, problematizando a sociologia da educação como sociologia do conhecimento e do poder sobre uma perspectiva relacional e sob analise da educação sobre aspectos reprodutivistas. A partir desse contexto o autor desenvolve a tese do sistema educacional e das instituições escolares como reprodutores do status quo, onde as classes de maior capital econômico e cultural se articulam para se manter no poder em um processo contínuo de dominação baseada em valores partilhados culturalmente e diferenciação social, onde as instituições escolares tem papel ativo para a manutenção do poder daqueles que já se encontram em posições sociais privilegiadas.

        Para o autor e muitos outros autores dessa corrente analítica, devem ser analisados no sistema escolar as articulações sociais do poder e do conhecimento e não o conteúdo estudado em si, e para isso os pesquisadores devem usar todas as ferramentas disponíveis de análise: dados quantitativos, qualitativos, documentos históricos e imagens entre outros. Segundo a tese de Bourdieu, a estrutura da reprodução da dominação social por classes privilegiadas nas instituições escolares não ocorre através do fomento consciente de competição, ideologia e conteúdo, mas sim através da exclusão, pois a escola usaria códigos de significação, comunicação e transmissão do conhecimento que facilita o acesso dos dominantes aomesmo tempo que concretiza a exclusão dos dominados, processo que será melhor discutido mais a frente.

PESQUISAS EMPÍRICAS BRASILEIRAS SOB OS ASPECTOS ANLITICOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DE BOURDIEU.

Nas pesquisas empíricas previamente analisadas em nossa dissertação, encontramos de forma geral, uma grande discrepância de classe entre aqueles que obtiveram o sucesso escolar e aqueles que obtiveram um fracasso escolar. São notáveis os diversos avanços no sistema educacional nacional, no que diz respeito por exemplo a ampliação de acesso e inclusão ao ensino e a educação. Porém, quando nos pautamos numa analise teórica critica com vista à prática, vemos que na maioria das vezes esse desenvolvimento não atingiu alguns dos objetivos da qual educação em teoria funcionalista tanto se propõe a promover – como redutora das desigualdades sociais e da estratificação social no país por exemplo. Dessa forma ações de instituições escolares e familiares vem na verdade demonstrando uma dimensão de reprodução do status quo, onde as classes de maior poderio econômico e cultural articulam suas posições privilegiadas através do sistema de ensino enquanto as classes mais baixas continuam encontrando dificuldades e barreiras para sua ascensão social através desse sistema. Mas como os estudos tem nos dado indícios que nos permitem tal afirmação?

Quando partimos de pesquisas que trabalham criticamente questões metodológicas e de análise, vemos que temos ainda no caso brasileiro (como nos confirma Bourdieu) vários problemas no que diz respeito a estudos eficientes de analise relacional do agente com as diversas instituições responsáveis por sua formação assim como demais agentes. Em sua dissertação, "A Pesquisa em Eficácia Escolar no Brasil", Maria Teresa Gonzaga Alves (2008) demonstra claramente algumas dessas questões. Ela indica como as análises transversais do sistema educacional brasileiro conseguem verificar mudanças nos cenários educativos nacionais, mas não conseguem alcançar justamente os fatores qualitativos que levam a percepção da contribuição escolar para o sucesso ou fracasso dos alunos, encobrindo assim a real eficácia escolar diante da variedade qualitativa de fatores que a modelam. Esse método de análise é baseado em pesquisas quantitativas, e a autora ressalta que dados longitudinais podem ser uma maneira mais efetiva de verificar a eficácia da aprendizagem escolar e relacionar os resultados com a reprodução ou a diminuição da estratificação social do país. Assim, demonstra que os dados puramente quantitativos falham em realizar uma avaliação fidedigna da realidade social escolar, onde as questões relacionadas a cultura, a classe social e a educação familiar são colocados em segundo plano, algo já apontado criticamente por Bordieu, que frisará a necessidade de uma maior diversidade de formas de análise que vão além dos métodos quantitativos, formas de análise que possibilitem reunir a estrutura e o sujeito, o objetivo e o subjetivo, sendo que, para o autor, essas divisões são falsas polaridades, colocadas como obstáculos ao conhecimento, dado que essas pressupostas dicotomias atuam em conjunto.

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