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AS CIÊNCIAS SOCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E O ENIGMA DA ESFINGE

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Por:   •  8/10/2013  •  2.036 Palavras (9 Páginas)  •  564 Visualizações

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AS CIÊNCIAS SOCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E O ENIGMA DA ESFINGE

Marcelo Cavalcante*

1. Introdução

A história da humanidade pode ser compreendida sob um ponto de vista epistêmico que a ordene com base nos valores dominantes em cada época, levando em conta que as relações sociais são sempre permeadas por um modo específico de pensar (Marcondes Filho, 1987: 9).

Assim entendendo, podemos ordenar longos períodos históricos á luz de incontestes hegemonias (no sentido gramsciano) quanto as formas de pensar; a saber: o período dominado pelo pensamento mágico, pelo filosófico, pelo religioso e, a partir da modernidade, pela crença na eficácia da ciência. Essas formas de conhecimento, uma vez hegemônicas, independem de “acertos” ou grau de “verdade”, pois se legitimam na medida em que dão fundamentos ideológicos ao modu vivendi dominante no período considerado.

Sendo na atualidade a ciência, ainda, e apesar da propalada “crise dos paradigmas” [1], a forma hegemônica de conhecimento, ela imprime modos específicos de pensar que permeiam as relações sociais. Mas pode-se simplesmente dizer que a vida social é regida por esta forma específica de conhecimento hegemônico? Ambiguamente pode-se responder: sim e não.

De certo modo há um forte grau de consenso em torno da premissa de ser a ciência basicamente um conjunto articulado de conhecimentos sobre determinado objeto, ou seja, os conhecimentos obtidos mediante a observação dos fatos e um método próprio de investigá-los. Método que sofre variações quanto as diferentes escolas do pensamento e áreas de investigação. Acrescente-se ao dito que a ciência observa regras de sistemática, objetividade, controle, predição, precisão e mais uma infinidade de estatutos, chegando a desqualificar juízos de valor (Weber: 1977), enfatizando a neutralidade e a mensurabilidade. Por outro lado, de forma panorâmica, pode-se também dizer que as formas de pensar que orientam o ordenamento das relações sociais na contemporaneidade, não são inteiramente informadas pelo saber científico, enquanto maneira de pensar hegemônica.

Da questão suscitada – descompasso entre ciência e organização social - são ilustrativas as seguintes indagações:

“... que verdade tem o noticiário de televisão quando, apesar de irrefutáveis provas apresentadas pelo investigador da corrupção política, a velha raposa da política usa-se de todos os canais de TV para ‘provar’ o contrário? Que verdade há nas previsões eleitorais, quando se constata que por mais improvável que parece o político, e por menos chances que possui, assim mesmo desbanca qualquer instituto de pesquisa e vence galhardamente? Que verdade há nas pesquisas científicas das multinacionais da indústria química que provam que os ‘defensivos agrícolas’ não são tóxicos e venenosos à saúde humana? Que verdade há nos institutos que medem a poluição ambiental e ‘comprovam’ que o ar está abaixo dos níveis de periculosidade? Em que verdade dos políticos acreditar? Em que verdade dos cientistas? Em que verdade dos comunicadores? Em nenhuma”. (Marcondes Filho, 1987: 13-14).

Estas candentes perguntas poderiam ser (re)formuladas ad nausean com tendências ao infinito sem que alterasse o referido descompasso. Na fundação da ciência moderna a idéia que exasperava um de seus próceres era de que “A lógica tal como é hoje usada mais vale para consolidar e perpetuar erros, fundados em noções vulgares, que para a indagação da verdade, de sorte que é mais danosa que útil“. (Bacon, 1972: 21).

2. Os fatos sociais.

Emile Durkheim (1858-1917), contribuiu sobremaneira no sentido de dar estatuto científico à sociologia, ao construí-la à luz de objeto de estudo e método próprio. Através de um esforço monumental dotou-a de um corpo de conceitos adequados e de específicos processos de investigação e de interpretação [2]. No livro “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim postulou serem os “fatos sociais” externos aos indivíduos (portanto fatos objetivos) e “também dotados de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, quer queira, quer não”. (Durkheim, 1982: 2).

A distância temporal que nos separa dos escritos de Durkheim, inclui, necessariamente, todo o advento do processo científico-tecnológico moderno e seus desdobramentos. Os fatos sociais, na atualidade, podem ser artificialmente construídos tanto pela “propaganda ideológica” que “visa controlar o juízo público” (Chomsky, s/d: 11), intentando forjar consenso político, quanto pelos modernos meios de comunicação de massa, em atendimento aos interesses econômicos através da fabricação de gostos e padrões de consumo coletivos, pois os fatos sociais foram transformados em mercadorias que, no dizer de um estudioso: “são as mais humanas de todas, pois vendem a varejo, os hectoplasmas de humanidade, os amores e os medos romanceados, os fatos variados do coração e da alma”. (Morin, 1975: 9).

Os homens necessitam dar um significado à realidade que os rodeia pelo simples fato dela existir e, portanto, não podem prescindir de elaborar justificativas para os fenômenos naturais e sociais. Essa justificativa imperativa, os leva a criar padrões culturais. Sociedades diferentes, dão sentido às suas existências de formas diversas, uma vez que produtos de culturas diferenciadas. Este anti-etnocentrismo cultural deixa patente que as idéias de “certo” e de “errado” não podem ser encontradas num absoluto, mas sim na cultura de cada sociedade. Se fosse um absoluto, teríamos apenas uma cultura única, uma mesma e indiferenciada visão de mundo, universalizada. As diversas culturas legitimam as suas respectivas visões de mundo, pois estas dão significado à existência, independente de serem de caráter religioso, mágico, filosófico ou científico, ou seja, “nas culturas pré-industriais a magia é o ‘estabilizador cultural’ enquanto que na cultura industrial moderna tal função é desempenhada pela ciência como técnica”. (Bartholo Jr., 1986: 23).

A cultura de determinada sociedade estabelece um patamar no qual as normas e leis (folkways e mores) tornam a convivência possível. Costumes, normas, leis, formam o suporte sob o qual os membros de determinada sociedade se baseiam na busca de um equilíbrio para as suas existências. É como um paradigma (no sentido kuhniano).

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