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Criatividade E Processos De Criação

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Por:   •  27/10/2013  •  8.241 Palavras (33 Páginas)  •  590 Visualizações

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OSTROWER, Fayga. Editora Vozes. RJ. 187p. 1977.

SINOPSE

(...)"O tema deste livro é a criatividade. O enfoque, o ser humano criativo". Fayga Ostrower não encara a criatividade como propriedade exclusiva de alguns raríssimos eleitos, mas como potencial próprio da condição de ser humano. A criatividade não é tratada como objeto isolado, a ser estudado como se fora compartimento estanque. Fugindo a qualquer esquematização e simplificação, a autora a trata enquanto elemento dentro do mais vasto contexto, sem deixar, em nenhum momento do desenvolvimento de sua análise, de situá-la em relação à problemática social, econômica, política e cultural, que, sem dúvida, obstaculiza o livre fluir da criatividade humana. É desse modo que o livro de Fayga Ostrower acaba por se transformar numa denúncia extraordinariamente lúcida de tudo o que no mundo de hoje contribui, não para construir o homem a partir do que ele traz gravado em si de mais irreversível e essencial - a sua, repita-se, liberdade -, mas para, ao contrário, aliená-lo dela. (...)

Pedro Paulo de Sena Madureira

INTRODUÇÃO

O tema deste livro é a criatividade. O enfoque, o ser humano criativo.

Consideramos a criatividade um potencial inerente ao homem, e a realização desse potencial uma de suas necessidades.

As potencialidades e os processos criativos não se restringem, porém, à arte. Em nossa época, as artes são vistas como área privilegiada do fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente nos outros

campos de atividade humana. Não nos parece correta essa visão de criatividade. O criar só

pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se interligam.

A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores de vida. No indivíduo confrontam-se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura. Assim, uma das idéias básicas do presente livro é considerar os processos criativos na interligação dos dois níveis de existência humana: o nível individual e o nível cultural.

Outra idéia é a de que criar corresponde a um formar, um dar forma a alguma coisa. Sejam quais forem os modos e os meios, ao se criar algo, sempre se o ordena e se o configura. Em qualquer tipo de realização são envolvidos princípios de forma, no sentido amplo em que aqui é compreendida a forma, isto é, como uma estruturação, não restrita à imagem visual. Partindo dessa concepção, achamos importante fundamentar a idéia dos processos criativos utilizando noções teóricas sobre a estrutura da forma. Veremos, também, que no próprio modo de se estabelecerem certas relações mediante as quais vai surgir para nós o sentido da forma, dos limites e do equilíbrio, o fator cultural valorativo atua sobre as configurações individuais e já preestabelece certos significados. (...)

Fayga Ostrower

Rio de Janeiro, setembro de 1976.

Capítulo 1

I – POTENCIAL

Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse "novo", de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.

Desde as primeiras culturas, o ser humano surge dotado de um dom singular: mais do que "homo faber", ser fazedor, o homem é um ser informador. Ele é capaz de estabelecer relacionamentos entre os múltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele. Relacionando os eventos, ele se configura em sua experiência de viver e lhes dá um significado. Nas perguntas que o homem faz ou nas soluções que encontra, ao agir, ao imaginar, ao sonhar, sempre o homem relaciona e forma.

Nós nos movemos entre formas. Um ato tão corriqueiro como atravessar a rua - é impregnado de formas. Observar as pessoas e as casas, notar a claridade do dia, o calor, reflexos, cores, sons, cheiros, lembrar-se do que se relacionava fazer, de compromissos a cumprir, gostando ou detestando o preciso instante e ainda associando-o a outros - tudo isto

são formas em que as coisas se configuram para nós. De inúmeros estímulos que recebemos a

cada instante, relacionamos alguns e os percebemos em relacionamentos que se tornam ordenações.

As formas de percepção não são gratuitas nem os relacionamentos se estabelecem ao acaso. Ainda que talvez a lógica de seu desdobramento nos escapem, sentimos perfeitamente que há um nexo. Sentimos também, que de certo modo somos nós o ponto focal de referência, pois ao relacionarmos os fenômenos nós os ligamos entre si e os vinculamos a nós mesmos. Sem nos darmos conta, nós os orientamos de acordo com expectativas, desejos, medos, e sobretudo de acordo com atitudes do nosso ser mais íntimo, uma ordenação interior. Em cada ato nosso, no exercê-lo, no compreendê-lo e no compreender-nos dentro dele, transparece a projeção de nossa ordem interior. Constitui uma maneira específica de focalizar e de interpretar os fenômenos, sempre em busca de significados.

Nessa busca de ordenações e de significados reside a profunda motivação humana de criar. Impelido como ser consciente, a compreender a vida, o homem é impelido a formar. Ele precisa orientar-se, ordenando os fenômenos e avaliando o sentido das formas ordenadas;

precisa comunicar-se com outros seres humanos, através de formas ordenadas. Trata-se, pois,

de possibilidades, potencialidades do homem que se convertem em necessidades existenciais. O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; e ele só pode crescer, enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.

Os processos de criação

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