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Dinâmica e consubstancialidade das relações sociais

Por:   •  7/5/2017  •  Resenha  •  1.105 Palavras (5 Páginas)  •  576 Visualizações

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Dinâmica e Consubstancialidade das Relações Sociais

Karolina Guedes

O texto de Danièle Kergoat, Dinâmica e Consubstancialidade das Relações Sociais, apresenta os conceitos de consubstancialidade e de coextensividade como instrumentos para analisar as relações sociais e “práticas sociais entre homens e mulheres diante da divisão social do trabalho na sua tripla dimensão: de classe, de gênero e de origem” (KERGOAT, p.93). De forma contrária às noções de imbricação, adição, intersecção e multiposicionalidade, Kergoat defende a consubstancialidade das relações sociais e sua propriedade fundamental, a de coextencividade.

Kergoat, a partir de uma perspectiva materialista, histórica e dinâmica, se propõe a delimitar o que é uma relação social, quais suas propriedades, bem como distinguir as práticas das relações sociais. Por conseguinte, a autora afirma que “uma relação social é uma relação antagônica entre dois grupos sociais, instaurada em torno de uma disputa [enjeu] (...) Toda relação social é, assim, uma relação conflituosa” (KERGOAT, p. 94) E a fim de evitar a reprodução de um tipo de pensamento que segmenta as relações sociais, isto é, que isola as relações, se contrapõe a este, a tese da consubstancialidade. Nas palavras da autora,

A minha tese, no entanto, é: as relações sociais são consubstanciais[1]; elas formam um nó que não pode ser desatado no nível das práticas socais, mas apenas na perspectiva da análise sociológica; e as relações sociais são coextensivas: ao se desenvolverem, as relações sociais de classe, gênero e “raça” se reproduzem e se co-produzem mutuamente. (KERGOAT, p. 94)

Para uma exemplificação das relações sociais, Kergoat apresenta dois paradoxos: de forma concomitante à melhora da situação da mulher no mercado de trabalho, há uma intensificação da divisão e aprofundamento da desigualdade de gênero, ou ainda, o sentimento partilhado por algumas mulheres de que a igualdade está garantida e que não corresponde às estatísticas ou a realidade. A resolução destes paradoxos “aponta para a imbricação, na própria gênese da divisão sexual do trabalho produtivo e reprodutivo, de diferentes relações sociais, e de relações sociais que não podem ser abordadas da mesma maneira” (KERGOAT, p. 94).

O que produz estes paradoxos é a confusão entre dois níveis distintos da realidade, de um lado as relações intersubjetivas partilhadas por indivíduos concretos e de outro, as relações sociais, abstratas e que consistem no antagonismo de grupos sociais, ou ainda, numa disputa entre estes. A autora afirma que, se as relações intersubjetivas apresentaram uma modificação, as relações sociais permanecem em suas três formas: a exploração, a dominação e a opressão. E somente as práticas sociais podem construir formas de resistências frente às relações sociais. Em outras palavras, não são as relações intersubjetivas, mas sim, as práticas sociais coletivas que são “portadoras de um potencial de mudança no nível das relações sociais” (KERGOAT, p.95).

Segundo Kergoat, a análise do cruzamento das categorias raça/gênero/classe é recorrente na tradição francesa. Estão mais presentes nos estudos que consideram a associação das relações de gênero e classe, de gênero e raça. Advêm destas pesquisas as noções de interseccionalidade e multiposicionalidade, que para a autora, são ambas insuficientes ou limitadoras. A primeira noção, a de interseccionalidade, ao produzir relações sociais em posições fixas, oculta pontos em que a dominação pode ser mais forte, e simultâneo a isto, não sugere formas de resistência frente à dominação. O segundo conceito, o de multiposicionalidade, apresenta um problema visto que não são especificamente posições, ou ainda, posições fixas, mas relações dinâmicas que são co-produzidas.

“A multiplicidade de categorias mascara as relações sociais” (KERGOAT, 98), afirma a autora. É necessário abordar a questão a partir da consubstancialidade das relações sociais, assim, “de acordo com uma configuração dada de relações sociais, o gênero (ou a classe, a raça) será – ou não será – unificador. Mas ele não é em si fonte de antagonismo ou solidariedade” (KERGOAT, p. 99). Trabalhar a leitura da realidade a partir do conceito de consubstancialidade implica em reconhecer que não há uma relação primordial e outra secundária, assim como não há contradições primeiras e secundárias.

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