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Etnografia e Corpografia

Por:   •  2/7/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.098 Palavras (9 Páginas)  •  235 Visualizações

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Prova 2 - Etnografia e Corpografia

É durante a época de Malinowski, e com ele, que a antropologia surge como ciência - ainda que experimental – com o intuito de estudar o "diferente" por meio de comparações com as sociedades ocidentais. A ideia dessa ciência na época era a de preservação e conservação dessas "culturas diferentes".

Ainda que a antropologia tenha percorrido um longo caminho até os dias de hoje é dessa época que métodos e técnicas de pesquisa em antropologia se consagram como necessárias para o estudo de qualquer sociedade. A partir do momento em que os próprios pesquisadores, antropólogos, passam a fazer suas pesquisas de campo – no século XX - é que surge a primeira formulação do "método etnográfico" (proposto pelo próprio Malinowski durante seu estudo dos trobriandeses). Esse passou a ser então um dos métodos mais utilizados na antropologia. No Brasil não foi diferente.

Aqui o método foi adotado e o caráter dos estudos antropológicos se manteve o mesmo: estudo de povos diferentes para "conservação" de sua cultura. Este manteve-se assim até a segunda metade do século XX quando, sob forte influência da Escola de Chicago, passou-se também a estudar o "familiar". Assim começam os estudos das e nas cidades pela antropologia.

Desta forma, tornou-se necessário pensar como estudar esse lugar que é tão próximo ao antropólogo. Estudar a cidade e estudar o familiar se torna um desafio ao antropólogo que sempre buscou o "distanciamento" e objetividade em relação aos nativos. Muitos autores, então, se debruçam sobre o tema. É o que fazem Gilberto Velho e José G. C. Magnani.

Velho, em Observando o Familiar, trata da questão da distância do observador e aponta que o que nos é familiar nem sempre é conhecido, assim como o exótico pode não nos ser familiar, mas sim, conhecido. Pensando então no investigador como membro da sociedade investigada, o autor expõe a necessidade do antropólogo de relativização no momento de sua análise, visto que ela pode ser carregada de um conhecimento superficial do objeto estudado influenciado pelo seu lugar nessa sociedade.

Magnani, por sua vez, produz uma abordagem "de perto e de dentro", que se contrapõe à clássica ideia de distanciamento do pesquisador na antropologia com seu olhar de fora. Pensa essa etnografia urbana como uma visão aproximada da totalidade - que contemple tanto a experiência dos atores nos locais estudados quanto a visão do pesquisador. Outro ponto importante para o antropólogo é trazer ao centro dessas etnografias as relações entre os atores sociais na cidade.

É a partir dessas relações e dessa visão de totalidade, que liga o reconhecimento das  representações dos atores sociais e o posicionamento do investigador, que o autor cria uma família de categorias que constituem um modelo que é capaz de ser aplicado em contextos distintos daquele em que foram identificados a priori. São elas o pedaço, a mancha, o trajeto, o pórtico e o circuito - "resultado do próprio trabalho etnográfico, que reconhece os arranjos nativos mas que os descreve e trabalha num plano mais geral, identificando seus termos e articulando-os em sistemas de relações" (MAGNANI, 2002, p.20) dentro do contexto urbano moderno.

Anteriormente à discussão que aborda a  centralidade do problema do distanciamento nos estudos dos atores sociais na antropologia e na sociologia no Brasil, Loïc Wacquant - ainda que não se aproximasse da perspectiva da Escola de Chicago, como os brasileiros - começou em 1988 o que deu origem ao livro Corpo e Alma - Notas Etnográficas de Um Aprendiz de Boxe que traz um experimento etnográfico no qual o autor se viu completamente imerso no ambiente do pugilismo.

Wacquant se afasta do que chama de "discurso moralizante produzido pelo 'olhar distante'" e afirma que a aproximação tida com seu objeto através da observação participante (que diz ser mais uma "participação observante"), nos três anos em que esteve treinando com boxeadores de um bairro do gueto negro de Chicago, fez com que o material produzido no livro não fosse uma "(re)apresentação teatralizada e altamente codificada que ele [o boxeador] gosta de fazer de si mesmo em público" (WACQUANT, 2002, p.23) e sim a descrição do comportamento do boxeador em seu "habitat natural".

Durante a parte de seu livro que caracteriza por "descrição etnográfica" o sociólogo utiliza um "frescor etnográfico" para aproximar, também, o leitor desse universo e colocá-lo na pele do boxeador – recurso que está presente em toda a primeira parte, chamada A Rua e o Ringue. E o faz também com grande intensidade quando, em seu último capítulo do livro, denominado "Busy Louie" nas Golden Gloves, apresenta uma espécie de caderno de campo, com a descrição de sua preparação como boxeador para lutar nas Golden Gloves.

Neste livro, especialmente no prólogo, podemos ver o que é abordado tanto por Magnani quanto por Velho em seus estudos sobre a etnografia urbana. Wacquant não tinha o boxe como algo familiar, apesar de conhecido, e a partir da sua entrada na gym passou a praticar o boxe junto com os demais, deixando de lado o conhecimento superficial e estereotipado do local e da prática, e se inseriu – em um olhar de perto e de dentro – no ambiente da academia, passando a ser considerado um "nativo" por seus colegas de esporte que lá estavam.

Em "Administrar seu capital-corpo", Wacquant coloca seu próprio corpo como instrumento investigativo para entender o ofício de boxeador. O autor passou a viver daquilo, sentir-se parte do boxe e detalhar todo o seu esforço físico, seu preparo corporal e seus sentimentos em relação ao seu treinamento e de seus colegas.

O uso do corpo dentro da antropologia é um tema recorrente, sendo o estudo sobre técnicas corporais de Marcel Mauss a obra mais conhecida a respeito. O corpo passa a ser instrumento de investigação em inúmeras áreas do conhecimento, que passam a pensar as transformações dos corpo em diferentes contextos.

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