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Modernidade e Ambivalência

Por:   •  25/6/2015  •  Resenha  •  1.446 Palavras (6 Páginas)  •  560 Visualizações

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Teria sido no período final do século XX a superação da condição moderna da existência humana. Período até então marcado pela busca por certezas científicas e por verdades totalizadoras. Quando se acreditou que a ascensão de uma verdade suprema iria reduzir as diferenças presentes na sociedade a uma única versão, a real, a correta. A modernidade esperava e se preparava para o consenso, para a homogeneização do mundo, dos saberes, das diferenças dos indivíduos.

Ao contrário do que muitos pensariam a respeito da pós-modernidade, ela não é a contestação de todo o conhecimento racional produzido anteriormente. Ela seria, sim, a constatação de que não se pode mais continuar acreditando na descoberta da verdade única, permanente, trans-histórica. Teria ficado nítido que o aumento do conhecimento não diminuiria nossa ignorância, na realidade ela faria o contrário, a aumentaria. O conhecimento é acima de tudo histórico e auto referenciado em seu contexto cultural. Por isso Bauman diz que todo o saber produzido durante a modernidade não é para ser jogado fora, mas sim para ser analisado como um estudo da sociedade moderna especificamente. E não como uma verdade estrutural.

A racionalidade moderna, na busca pelo “único” se deparou com o “múltiplo”, com o diverso, com a ambivalência. Ambivalência que seria a constatação de que a sociedade moderna é uma “sociedade contingente, de uma sociedade entre muitas, a nossa sociedade” (p.244). Viveríamos num mundo sempre de muitas opções, o que Bauman chama de mundo multifinal. A contingência para Bauman é uma característica sempre presente na História da humanidade, mas que agora estaria ainda mais nítida, de modo que precisaríamos aprender a lidar com este fato, e não mais sofrer com ele. Já teríamos constatado que nem mesmo a pesquisa científica seria capaz de nos afirmar corretos e precisos em nossos atos. Não temos mais a possibilidade da racionalidade como um tranquilizador para as difíceis atitudes em que implica viver. Nos resta ter em mente que só somos capazes de garantir termos feito o melhor possível de acordo com as condições daquele momento da ação.

O rompimento do projeto de universalidade (de sua crença e sua procura) nos levou a repensar até os primórdios da formação do conhecimento: o que é verdade, afinal? Precisaríamos ter em mente que a formação do entendimento do que é verdade é socialmente construída. A verdade seria uma forma de legitimar algum tipo de poder, de legitimar alguma superioridade intrínseca ao detentor da verdade. A verdade seria uma relação social, mais precisamente “um aspecto da forma hegemônica de dominação ou de uma pretensão a dominar pela hegemonia” (p. 246). Sua leitura sobre a relação entre a verdade e poder é bastante próxima daquela de um dos precursores do pensamento pós-moderno, Michel Foucault, para quem saber e poder eram indissociáveis, nascendo e morrendo sempre juntos. O surgimento de um novo poder implicaria em um novo saber e vice-versa.

Para Bauman, a queda do projeto universalista transformou a sociedade num conjunto de individualidades. Bauman percebe este processo, mas não o caracteriza pejorativamente a princípio. A individualidade é o resultado de um momento de maior liberdade e maior aceitação do diferente e por isso o autor a compara com a ideia de emancipação. A individualidade seria o resultado do fim do horror à ambivalência e do começo da tolerância. Ser diferente de todos passa a ser mais aceitável e até comercialmente desejável às vezes.

Assim, se a individualidade isola e separa, não necessariamente o faz de maneira agressiva ou destrutiva, pois nos encaminhamos para um momento de tolerância. Tolerar a diferença do outro seria uma maneira de reconhecer que todos temos individualidades e que aceitar o diferente é defender nossa própria existência. O autor ressalta que muitos fazem desse binômio individualidade-tolerância uma maneira de ignorar qualquer diferença, inclusive as grandes misérias humanas. O olhar para a vida se tornaria blasé, condescendente. O outro é visto com indiferença e desprezo, até mesmo quando sofre.

A pós-modernidade aceita o diferente, o contingente (“a diferença é bela e não menos boa por isso” (p. 269)). Não se segue mais o entendimento da modernidade que mirava no objetivo do consenso, da uniformização, do fim das diferenças. Só que a pura tolerância, como vimos, pode ser ingênua ou egoísta e para evitar isso (e como consequência lógica dessa estrutura de pensamento) se faria necessário que ela se apresente como solidária ou amiga:

“A solidariedade, ao contrário da tolerância, que é sua versão mais fraca, significa disposição para lutar; e entrar na luta em prol da diferença alheia, não da própria” (p. 271).

Defendendo as diferenças, o autor prega uma espécie de projeto político para a pós-modernidade, baseado na liberdade, a chave quase inevitável de garantir uma sociedade melhor na pós-modernidade. Não seria fácil aceitar a contingência e a liberdade como regras da vida, lembra Bauman. Ter opções e decidir entre elas nos causa sofrimentos que exigem que a contingência tenha que contar com a amizade para nos manter com algum tipo de sanidade mental. Isolados e distantes das grandes identidades, estaríamos nos encaminhando para uma era de comunidades, “da busca, invenção e imaginação da comunidade” (p.261). Nós temeríamos não ter identidade, não ter raízes, e correríamos desesperadamente para nos sentirmos acolhidos. A comunidade funcionaria como uma “mistura incomum de diferença e companhia, como singularidade que não é retribuída com a solidão” (p.261).

Outro ponto focado por Zygmunt Bauman é a relação destas fases da epistemologia humana com a moralidade. O medo que a modernidade tinha da diferença era o medo da carnificina universal e da anarquia que parecia ser o destino de indivíduos sem autoridade inconteste e aterradora – sacra ou secular, político ou filosófica. Embora o autor não se detenha sobre este ponto, pode-se perceber que sua leitura da condição pós-moderna é (ou precisaria ser) pautada por vários valores morais, como solidariedade, tolerância, gentileza e amizade.

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