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Narrativas de Vida - Daniel Bertaux

Por:   •  27/6/2017  •  Seminário  •  1.888 Palavras (8 Páginas)  •  1.370 Visualizações

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Narrativas de Vida: a pesquisa e seus métodos (Daniel Bertaux)

INTRODUÇÃO

- A expressão “narrativas de vida” foi introduzida na França na década de 50.

- Os “realistas” (dentro os quais os cientistas sociais) afirmam que a narrativa de vida constitui uma descrição próxima da história realmente vivida;

- Em Ciências Sociais, a narrativa de vida resulta de uma forma particular de entrevista, a “entrevista narrativa”, durante a qual um pesquisador pede ao sujeito que lhe conte toda ou uma parte de sua experiência vivida;

- As narrativas de vida se inserem na perspectiva etnossociológica, que combina estudos etnográficos (estudo de campo e observação) com os estudos de caso, com o objetivo de construir problemáticas e referenciais sociológicos (Luana);

- Perspectiva etnossociológica tem o objetivo de estudar um objeto social (um “mundo social” centrado em uma atividade específica; ou determinada “categoria de situação” relativa ao conjunto de pessoas que se encontram em uma determinada situação social): de compreender como ele funciona e como se transforma, destacando as configurações de relações sociais, os mecanismos, os processos, as lógicas de ação que o caracterizam;

- As narrativas de vida trazem uma dimensão diacrônica à perspectiva etnossociológica, o que permite perceber as lógicas de ação no seu (sujeito) desenvolvimento biográfico e as configurações de relações sociais em seu (sujeito) desenvolvimento histórico. Inversamente, a perspectiva etnossociológica orienta as narrativas de vida para uma forma de “narrativas de prática em situação” (ou seja: através das práticas – dos sujeitos –, pode-se começar a compreender os contextos sociais nos quais se inserem);

- Na perspectiva etnossociológica é dado prioridade ao estudo das relações e processos sociais “estruturais”. Para atingi-los é necessário concentrar a atenção nas práticas recorrentes (dos sujeitos) que, combinando em situações objetivas, inspiram as “lógicas de ações dos atores”;

CAPÍTULO 1 – A PERSPECTIVA ETNOSSOCIOLÓGICA

- Perspectiva etnossociológica: Pesquisa empírica apoiada na pesquisa de campo e nos estudos de caso, que se inspira nas técnicas de observação da tradição etnográfica, mas que constrói seus objetos pela referência a problemas sociológicos;

- É necessário tentar passar do particular para o geral, descobrindo, no próprio terreno observado, formas sociais (relações sociais, mecanismos sociais, lógicas de ação, processos recorrentes...) suscetíveis de estarem presentes em outros contextos similares (outras cidades, outras “periferias”, outras escolas...);

Critérios de validade da perspectiva etnossociológica

  1. Objeto de estudo

A perspectiva etnossociológica propõe uma forma de pesquisa empírica adaptada à identificação das lógicas próprias de cada mundo social, ou de cada tipo de situação. Três tipos de objetos sociais são descritos.

  1. Mundo social

- Um mundo social se constrói em torno de um tipo de atividade específica. Podem ser, por exemplo, mundos sociais centrados em atividades profissionais (padaria artesanal, jornalismo, ensino primário...);

- A sociedade global é um macrocosmo, o mundo social é um mesocosmo e cada mundo social é formado por inúmeros microcosmos (padarias, jornais, escolas primárias...);

- A hipótese central da pesquisa etnossociológica consideram que as lógicas que regem o conjunto de um mundo social (mesocosmo) operam igualmente em cada um dos microcosmos que o compõem (observando-se as lógicas de ação, mecanismos sociais, processos de reprodução e de transformação do microcosmo, poderíamos aprender algumas lógicas sociais do mesocosmo);

- Para evitar erros é necessário multiplicar os campos de observação (mais de um microcosmo) e compará-los entre si;

  1. Categorias de situação

- Outro objeto social, além do mundo social, são as categorias de situação (pais divorciados, toxicômanos, jovens sem qualificação em busca de emprego...), que são categorias que apresentam características específicas aos olhos da administração e do senso comum;

- A situação lhes é comum: essa situação é social na medida em que gera obrigações e lógicas de ação que apresentam vários pontos comuns em que ela é percebida mediante esquemas coletivos e é, eventualmente, tratada pela mesma instituição;

- Narrativa de vida são eficazes neste objeto social (categorias de situação) pois permite identificar por meio de que mecanismos e processos os sujeitos chegaram a uma dada situação, como se esforçaram para administrar essa situação e até mesmo superá-la.

  1. Trajetórias sociais

- São um terceiro tipo de objeto social que pode ser estudado por meio das narrativas de vida;

- Para conseguir generalizar no estudo da formação de trajetórias biográficas é necessário reduzir o campo de observação a um tipo particular de percurso ou contexto. Exemplo: trajetórias profissionais (como se tornou um professor?). Isso dá a coerência de que os objetos provêm de um mesmo mundo social ou categoria de situação;

- A perspectiva etnossociológica se aplica apenas a objetos sociais relativamente bem circunscritos, que o emprego das narrativas de vida permite apreender do interior e em suas dimensões temporais.

  1. Técnicas da Pesquisa Etnossociológica

- As técnicas visam compreender o funcionamento interno do objeto de estudo e elaborar um modelo desse funcionamento sob a forma de um conjunto de hipóteses plausíveis;

- O pesquisador vai a campo consciente de sua ignorância e se dirige às pessoas (membros do mundo social ou situação estudada) que aí vivem e exercem suas atividades para saber “como funciona”. Esses sujeitos assumem o papel de “informantes”;

- A ênfase não é colocada sobre a interioridade (“psicologia”) dos sujeitos, mas aos contextos sociais (exterioridade), dos quais eles adquiriram, pela experiência, um conhecimento prático; Aqui, narrativas de vida constituem instrumento importante de extração dos saberes práticos (narrativas de práticas);

- Narrativas de vida é a forma de dados que melhor corresponde a um pensamento sociológico baseado na ação em situação: a narrativa de vida, como testemunho da experiência vivida traz, dentre outras, a dimensão temporal, diacrônica, que é também a da articulação concreta, na ação, de “fatores” e de mecanismos muito diversos;

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