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O Jovem Rural Trabalhador Migrante na Contemporaneidade

Por:   •  8/10/2019  •  Artigo  •  3.362 Palavras (14 Páginas)  •  152 Visualizações

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Jovem Rural Trabalhador Migrante na Contemporaneidade

1. Introdução

        Este trabalho tem o intuito de apresentar a economia e política agrária brasileira, a partir dos projetos de “desenvolvimento” empreendidos pelo Estado brasileiro a partir da década 1970, expresso nos projetos da SUDENE e em seguida pelo avanço do agronegócio. Neste sentido, também, pretendemos discutir as mudanças ocorridas no mundo do trabalho e suas repercussões no modo de vida rural. Um dos aspectos, que aqui será abordado, é a migração enquanto estratégia de reprodução social, passada de geração a geração e em decorrência, também, do desemprego estrutural gerado em torno dos grandes empreendimentos no meio rural brasileiro.

        Entre, estes, é importante destacar o problema da questão fundiária no Brasil, pois esta nunca se realizou concretamente em formas de redistribuição de terras e assessoramento técnico e crédito para a permanência e produção da agricultura camponesa. Tal questão tem afetado as famílias rurais, em especial as perspectivas de permanência das juventudes rurais no campo. Assim, a migração tem se apresentado como fator alternativo de autonomia financeira e simbólica para este segmento, além de acesso a bens e serviços demandados e não encontrados em um rural que também dialoga com a escassez.

        Ao migrar, esta juventude tem acesso a outros códigos, tanto nas relações de trabalho quanto no seu cotidiano (amizades, lazer, consumo etc), que estão conectados com os códigos ancestrais (trabalho agrícola, religião, pertença identitária). Neste trabalho, pretendemos dar maior ênfase as mudanças ocasionadas pelas metamorfoses que permeiam o cotidiano e o trabalho na vida das juventudes rurais.

2. A economia e a política de ‘desenvolvimento’ do rural brasileiro a partir da década de 1970.

É importante começar dizendo que a política e a economia agrícola adotada no país desde a grande depressão da década 1930 e principalmente no projeto de desenvolvimentismo com o governo Juscelino Kubitschek deve-se ao caráter de governança nacional e internacional assumida pelas elites agrárias e empresariais que direcionaram os projetos de sociedade, orientadas pelo capital que se renova de acordo com suas necessidades de lucro e salários reduzidos e dependentes do capital internacional, gerando dívidas ao país. Ademais, a “revolução verde” apresenta-se como o projeto de modernização conservadora, associada ao período da ditadura militar no Brasil, que direcionará a alternativa de ‘desenvolvimento’ do que seja o rural e a política agrícola, nos seus aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais.

A partir de década de 1970, o Estado brasileiro promoveu grandes projetos que tinha como base a modernização da agricultura, fomentando de empresas e do capital agrícola através de varias politicas desenvolvimentistas, como no II PND - Plano Nacional de Desenvolvimento (1974 – 1979); pelo Polocentro – Programa de desenvolvimento dos Cerrados (1975); o PCI – Programa de Crédito Integrado e Incorporação dos Cerrados (1972); Padap – Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (1973) e o Prodecer (1974) todos operando a transformação e expansão agrícola para estimular a produção alimentícia com justificativa de suprir a dieta da crescente população do Brasil. (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE, 2010).

Também na década de 1980 ganham força os Complexos Agroindustriais dando a agricultura à visão de indústrias de produção local nos cerrados, já viabilizadas no Brasil pela sua histórica cultura do plantation e dos vários ciclos produtivos existentes na sua biografia. Assim a ideia de agrobusiness ou agronegócio, consolida-se por um novo patamar de estratégia de acumulação e pela participação do capital internacional nas escolhas politicas e sociais dos anos 1990. (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE, 2010).

O objetivo central de tal modernização era “transforma o latifúndio em uma grande empresa capitalista” (DELGADO, 2010). Essa política desdobrou-se na concentração de terras, a formação de complexos agroindustriais, devastação do meio ambiente com o uso de agrotóxicos e melhoramento de sementes, pondo redução às sementes do tipo cabocla e vasta migração campo-cidade. Estes fatores, também, foram mobilizadores das massas no campo, para a formação de movimentos sindicais e luta por terra. Por outro lado, na década de 1980, esse projeto estoura com o crescimento da dívida externa e a diminuição de incentivos fiscais.

O projeto neoliberal, agronegócio e globalização estão associados à reestruturação da produção tornando-a flexível, em cadeia e complexa. Tal forma de produção provoca formas de estranhamento (ANTUNES, 2007), pois não se sabe mais onde começa e onde termina a produção, resultando em um trabalho alienante. Se no projeto de modernização conservado o intuito era aumentar a produção para garantir a soberania alimentar nacional, com o agronegócio o ideário político desloca-se para a manutenção de uma balança comercial, passando a ser um setor de investimento de capitais e de grandes lucros empresariais.

No ano em curso a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade, anunciaram o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) que oferece um volume de financiamento de R$ 136 bilhões para os grandes produtores rurais. O valor total disponibilizado está dividido em R$ 97,6 bilhões para financiamento de custeio e comercialização da nova safra e R$ 38,4 bilhões para investimentos.  Já os produtores da agricultura familiar terão R$ 21 bilhões para financiar a próxima safra. O valor é 16,6% maior que o destinado no plano anterior, de R$ 18 bilhões. O financiamento voltado à agricultura sustentável, dentro do Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), será elevado em 32,3%, para R$ 4,5 bilhões. Os números falam por sim, na continuidade da política brasileira em investimentos em grandes produções agroindustriais em dissonância com questões sociais da agricultura para a subsistência, além das complexas discussões ambientais.

Logo o meio rural e seus atores são categorias complexas de estudo. Diante disto o rural não pode mais ser entendido tendo fim ultimo as atividades agrícolas, e sim numa perspectivas de trocas identitárias entre antigas e novas praticas de cultivo agrícola. O Brasil ainda é palco de um projeto hegemônico de modernidade para o meio rural, traduzidos em antigas ou novas entidades e agente de regulação e mudança do agronegócio. Sua construção politica continua alicerçada na afirmação da modernidade, pela riqueza e desenvolvimento, proclamando-se como única alternativa econômica e agrícola viável.

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