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O SISTEMA ECONÔMICO NAS SOCIEDADES INDÍGENAS GUARANI

Por:   •  6/12/2016  •  Seminário  •  2.299 Palavras (10 Páginas)  •  631 Visualizações

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Etnia e Cultura

Por volta de 1500 quando os europeus chegaram à América, os Guaranis formavam um conjunto de povos com características em comum como a origem, o idioma, as tradições em grandes festas e a economia baseada na reciprocidade.

Os indígenas Guaranis possuem cultura milenar, baseada em sua ancestralidade histórica, política e organizativa. Dotados de extrema espiritualidade, utilizam dela como sua autêntica religião. Povo "combativo e guerreiro", nas suas convicções culturais, possuem conhecimentos ancestrais da mais elevada categoria, baseados na língua indígena, também chamada Guarani, preservada até os dias de hoje, após sofrer milhares de pressões, políticas, econômicas e ético-culturais.

O Guarani tem como essência de vida, isto é, sua marca étnica, a grande prática do "caminhar" que significa em língua guarani "guata". O caminhar significa também evoluir e fortalecer-se espiritualmente. Essa prática do caminhar,faz parte do movimento migratório dos guaranis desde o tempo da colonização. Esse caminhar constante é justificado pela busca da terra sem males, que pode ser definida como uma terra que os permita viver com dignidade, sem interferências.

As orações são dirigidas ao sol, ao criador, aos espíritos e aos ancestrais. A alma é universal e Deus é supremo, um grande ancestral. Nas danças, embebidos pela erva-mate divertem-se e entram em contato com os espíritos. O pajé, costumeiramente, toma bebida para prever o futuro ou curar doenças. Os espíritos dos mortos permanecem por algum tempo em suas moradias. Esses espíritos têm grande poder sobre os vivos. Esse povo desconhece castigos ou punições às crianças ou ao seu semelhante.

 

Abordagem do antropólogo

A técnica utilizada por João Otávio Catafesto de Souza mostra em forma de análise, o comportamento econômico e social da etnia Guarani, fazendo comparações com os conceitos de autores como Karl Marx, Karl Polanyi, Maurice Godelier e Marshal Sahlin.

É possível concluir a partir da leitura do artigo “O sistema econômico nas sociedades indígenas Guarani pré-colonial” que seu ponto de vista é contra o etnocídio indígena, e compreende que seu modo de administrar economicamente embora visto pelos europeus como uma relação de abismo entre produção e riquezas, pelo fato de não visar o lucro e sim a sobrevivência e bem estar dos membros da tribo.

Devido ao etnocídio indígena, só é possível ter conhecimento da etnia Guarani pré-colonial, através de memórias sociais e de minorias ainda existente na floresta subtropical na região da bacia do rio da Prata.

 Já através das minorias dos guaranis que ainda restam na região é possível se utilizar da etnografia, que é um meio utilizado pelos antropólogos para registrar: língua, hábitos, raça, religião entre outras coisas, a observação e presença do antropólogo no cotidiano da tribo é necessária para essas constatações e um meio de transmitir com melhor qualidade através da experiência a cultura da etnia Guarani, esse método também foi utilizado para a realização do artigo.

Pesquisa do antropólogo

O antropólogo busca explicar o sistema econômico utilizado por índios da língua Guarani, a partir de cerâmicas extraídas de sítios arqueológicos, registros de colonos e resultados de pesquisas etnográficas.
Provenientes da região amazônica, possuíam técnicas para a agricultura, com capacidade de equilíbrio entre a natureza e a exploração de seus recursos; Porém, os europeus não compreendiam esse sistema, gerando em sua mente, a ideia de que os Guarani não possuíam organização econômica ( a partir de próprios registros europeus e evidências arquoelógicas do período, José Costa tenta mostrar quão errônea é essa ideia).
O problema da visão sobre os Guarani ser tão etnocêntrica parte dos registros de colonos, que retratavam os indígenas como “crianças inocentes”.
Antropologia econômica
Em sociedades ditas primitivas, uma única esfera do fazer humano pode desempenhar diversas outras funções, fazendo ligações entre papel religioso, econômicos, políticos, etc.. (informação fundamental para entender a prática econômica Guarani).
Ao pensar nas vertentes quase interligadas, História e Antropologia econômica, para analisar casos dos ameríndios é preferível a segunda, já que esta estuda todas as sociedades, sem distinções, já que é um ciência relativista, enquanto àquela, estuda habitualmente as sociedades civilizadas, talvez traduzindo uma forma etnocêntrica do conhecimento passado a alunos, enfocando apenas as sociedades mais “avançadas”, “evoluídas”.
A antropologia econômica estuda as diversas condições e formas de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Esse estudo pode ser feito a partir de três vertentes interpretativas: a formalista, a substantivista e a marxista.
o formalismo define como economia a relação entre fins ilimitados e escassos meios para satisfazê-los, ou seja, a vontade de avanço humana nunca cessará, porém os recursos para isso, podem chegar ao fim pelo uso indiscriminado que vemos hoje. Essa vertente usa o capitalismo contemporâneo para avaliar qualquer tipo de sociedade, se diferindo nesse ponto das outras escolas.
A escola marxista, juntamente com a substantivista busca analisar os modos de produção existentes na sociedade pesquisada, considerando esses como apropriação de bens da natureza, encaixados em categorias: dos objetos de trabalho (terra e matéria-prima), dos meios de trabalho (objetos), e a do trabalho propriamente dito. A partir dessa categorização, os estudiosos da escola marxista descobriram que diferentes bens naturais podem se enquadrar em diferentes categorias, segundo cada sociedade. Esses estudiosos contrapõem as ideias evolucionistas, mostrando que mesmo nas sociedades mais antigas, não se utilizava apenas de trabalho braçal, elas possuíam duas categorias de atividades econômicas, sendo uma delas para se proverem do ócio, já presente na época, caracterizando o setor de “bens de prestígio”.

O sistema doméstico guarani de produção e consumo
Somente em 1980 os estudiosos começaram a analisar as formas do sistema econômico dos índios Guarani, antes disso, centravam-se apenas no estudo do colonialismo na bacia platina, com raras referências culturais e sociais aos indígenas. Estudando a fundo o signo “sistema” nota-se que lhe é adquirido diversos significados ao longo do tempo, porém em algo tudo lhe é semelhante, indica funcionamento em conjunto, organicidade, portanto, mesmo que as atividades de uma sociedade sejam distintas, formam uma rede interdependente, portanto, um sistema. Porém, justamente pela interdependência, e pela sociedade também ser considerada sistêmica, encontra-se dificuldade de delimitar os variáveis sistemas, como econômico, político e social, misturando-os, o que acontece comumente em sociedades primitivas.
Ao se pensar na aplicabilidade dos conceitos de produção e economia de Karl Marx para as comunidades indígenas, ocorrem disparates, já que, os escritos deste pensador foram feitos visando uma sociedade em questão: a européia, não sendo nada aplicável a realidade indígena por não se tratar dos mesmos meios, mesmo modo de vida, portanto o autor se utiliza da afirmação de Vainfas, que sugere um desligamento dos marxistas dos ideais econômicos de Marx para poderem analisar economicamente sociedades indígenas.
A análise dos sistemas de produção de sociedades ditas não civilizadas torna-se mais complexa ao ser visto que necessitar-se ia maior maleabilidade por parte dos conceitos defendidos por Marx, sendo necessário, primeiramente, excluir a ideia de predominância de comunismo primitivo existente nas tribos.
Como exemplo da interdependência dos sistemas dentro de uma comunidade aborígene, o autor destaca as relações de parentesco, pois possuem papel predominante nas sociedades primitivas, e podem ser de âmbito de relações de produção, políticas e ideológicas, lhes caracterizando simultaneamente como infraestrutura e superestrutura . Estes conceitos, na obra de Marx referem-se, em ordem grafada, às relações materiais de produção (relação de trabalho entre o homem/homem e homem/natureza), e a base ideológica de um determinado sistema de produção.
Estudos etnográficos mostram que as relações de parentesco fazem parte de forças econômicas, porém não como na sociedade contemporânea, onde o homem se torna um “animal econômico”, segundo Mauss, mas de modo controlado, a produção fica limitada por ela mesma, pois se restringe as necessidades familiares, o grupo familiar se situa como unidade de produção e de consumo. Lewis Morgan definiu a organização doméstica como um planejamento de “comunismo de vida”, pois dentro dos grupos, são consideradas primeiramente as necessidades e importância dos integrantes, partindo do princípio da entrega de cada um de acordo com suas possibilidades, e o recebimento (de alimento) de acordo com suas necessidades.
A unidade doméstica é chamada pelos sociólogos como grupo primário, pois esta configura, ao mesmo tempo, demarcações sociais e econômicas. Em sociedades tribais, o grupo doméstico é de importância dominante, porém, muitas vezes pode ser heterogêneo, não sendo necessariamente advindo de relações sanguíneas. Nos Guaranis pré-coloniais não era diferente, as funções econômicas, religiosas e sociais circulavam em volta da instituição familiar, sendo os laços tão próximos que a família-grande, constituinte da unidade de produção e composta pelos patriarcas, as filhas, genros e a nova geração, dividiam uma mesma casa comunal, sem divisões de paredes. O autor expõe uma definição de três relações básicas na organização das linhagens Guarani, a tamoi-tamý, entre avós e netos para afirmar a unidade da linhagem; A çï-çïï entre as mães de tias maternas para definir o núcleo familiar distinto (mesmo que todos ocupassem mesma moradia); E a tovaýa-taichó entre cunhados e sogros que definia a mobilidade de integração de novos membros à comunidade socioresidencial. Analisando essas relações parentais pré-coloniais com as dos Guaranis atuais, nota-se a fragmentação familiar, portanto cada núcleo de uma mesma família adquire sua própria moradia. Apesar desse sinal ser mais evidente atualmente, foram encontradas manchas em sítios arqueológicos que podem significar a existência de pequenas moradias, porém era algo atípico, atribuído à influência das missões jesuítas nas regiões.
Os estudos etnográficos das comunidades recentes, mostra que as famílias se sustentam na autoridade paterna, o responsável por manter as tradições, por mais que cada pequeno núcleo tenha, por exemplo, sua cozinha, todos se ajudam na preparação do alimento.
Essas relações de linhagens que convivem juntas fundam-se nas relações matrimoniais. O missionário jesuíta Antonio Ruiz de Montoya já havia constatado a proibição do incesto entre os Guarani, mas esses mesmos, não praticavam a perpetuidade do matrimônio, por serem apreciadores da liberdade. Para os grupos ainda existentes, o matrimônio ocorre a partir da boa relação entre duas famílias, não levando em consideração a opinião dos jovens a serem enlaçados nesse contrato – fato que mostra o forte sentido social de laços feitos entre diferentes famílias, ou seja, uma organização social entre aldeias, a chamada tekoha. Porém, essa instituição só aparece em situações favoráveis especiais, como políticas, ou religiosas, contrário a isso, as relações de produção restringem-se a níveis domésticos, só ultrapassando-os quando o nível produtivo ultrapassa às necessidades domésticas.
Independente do tamanho da família-grande, as atividades de produção centravam-se em uma organização de trabalho com divisão por sexo, portanto os matrimônios, entre homens e mulheres, representavam a base dessa divisão, onde uniam-se as funções primordiais da produção em um casal, assim, o matrimônio é o início do estabelecimento de um grupo econômico.
No passado, por vezes, algumas atividades que tinham separação sexual eram feitas coletivamente por todos os membros de uma mesma casa grande. Para isso, a família-grande centrava-se na figura de um varão (teýi-rú), sendo este o responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos coletivos. Depois, os lucros gerados por esses trabalhos eram divididos entre cada família nuclear, e o número de esposas e filhos determinava o quanto cada homem receberia.
Para esse povo indígena, o trabalho coletivo atua mais de forma social do que econômica, dando a este, sabor lúdico, pela solidarizarão de um grupo familiar em prol de algo maior. Infelizmente vem-se perdendo esse espírito de todos os grupos ameríndios, já que a globalização e a aculturação econômica estão transformando o ser humano, que fica cada vez mais individualizado e competitivo, tornando as relações de solidariedade entre a família-grande praticamente impraticáveis, e esta deixando de ser o centro da unidade de produção e de consumo. Porém, ainda há esperança para os Guarani, que conseguem manter, mesmo atualmente, suas tradições, apesar de algumas, como sistema de trocas apenas por sua aparência e não por valor, terem sido reprimidas pelos missionários antigos, por conta do lucro levado pelos primeiros colonizadores que recebiam colheitas inteiras em troca de quinquilharias.
Essa ingenuidade dos Guarani, também presente em sua não busca de desenvolver e aumentar seu sistema econômico, muitas vezes, os trouxeram dificuldades, mas ainda assim mantiveram seus hábitos, pois poderiam gozar de sua liberdade, muito valorizada, portanto, em épocas boas, esbanjavam banquetes, ao passo que em outras, passavam por dificuldades, causando estranheza aos missionários, que não compreendiam porque os Guarani não estocavam alimentos para épocas difíceis, mas suas atipicidades não aparavam por ai, era comum aos cultivadores de floresta da América do Sul o ato de beber, portanto, parte da colheita era transformada em bebida alcoólica, para ser consumida em rituais simbólicos, considerados profanos pelos missionários jesuítas.

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