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O Trabalho de Campo - Roberto Da Matta

Por:   •  27/6/2017  •  Resenha  •  2.104 Palavras (9 Páginas)  •  2.461 Visualizações

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Da Matta, Roberto. “Trabalho de Campo”. In: Relativizando.

1. O trabalho de campo na Antropologia Social.

Nesse capítulo, Da Matta apresenta o trabalho de campo do etnólogo, as diversas questões envolvidas nesse trabalho, bem como a pluralidade da disciplina de Antropologia com respeito a todas as formas de sociedade e cultura e a importância do trabalho de campo nesse processo.

 A Antropologia, no passar do século XIX para o XX começa a abandonar a postura evolucionista. Fica, então, claro a importância do trabalho de campo ou pesquisa de campo como um modo característico de coleta de novos dados para reflexão teórica, como um “laboratório” do antropólogo social, como diziam os “empiristas”.

Desse modo, segundo o autor “o etnólogo, na sua disciplina, estava fora de questão a experiência desenhada e fechada, do tipo realizado pelo psicólogo experimental na sua prática, mas ficava inteiramente aberta a experimentação num sentido mais profundo” (DAMATTA, 1987, p. 143)

Para o etnólogo, não havia uma experiência pronta e acabada, ao contrário, para ele, a experiência se dava de forma ampla aberta e sempre com novas descobertas e sempre observando as vivencias e os valores de outros modos de vida.

Características importantes do trabalho de campo:

- Primeiramente, é necessária uma vivência longa e profunda de outros modos de vida, com outros valores, outros sistemas de relações sociais, em condições sempre específicas.

- Na maioria das vezes, tratava-se de uma experiência solitária e isolada de sua “cultura de origem”. Havia que “ajustar-se”, na “observação participante”, não apenas os novos valores e ideologias, mas a todos os aspectos práticos que tais mudanças demandam. [Não dava para, como fazem os cientistas sociais, controlar os experimentos em laboratório...]

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: A observação participante é considerada o método por excelência da Antropologia. Consiste em o pesquisador se inserir, ser aceito e participar dos eventos do grupo que está estudando para assim entender a lógica que move essa comunidade.

- A pesquisa estava limitada pelo próprio ritmo da vida social, já que o antropólogo seria o último a buscar sua alteração como um teste para suas teorizações

- Essa virada metodológica que colocou a necessidade do trabalho de campo está ligada ao funcionalismo ou àquilo que Da Matta chama de “revolução funcionalista”. O pesquisador sai de sua confortável poltrona numa biblioteca em algum ponto da Europa ocidental e se lança na incerteza de viagens em mares povoados por recifes de coral, rituais exóticos e costumes diferentes.

- É uma mudança de atitude que transformou a Antropologia, segundo Malinowski, numa das disciplinas mais filosóficas, esclarecedoras e dignificantes. Esse contato do pesquisador com os pesquisados [no sentido de estabelecimento de relações, que pressupõem iguais, ou tem isso como norte] leva a um processo inevitavelmente ou intrinsecamente relativizador. E vice-versa. Todos os conjuntos de crenças e valores que lhe são familiares ficam em suspenso (p. 144).

A Antropologia deixa de ser o “catálogo telefônico cultural” evolucionista. O objetivo deixa de ser o de classificar e colecionar costumes, à maneira de um

botânico amador. A partir do advento do trabalho de campo sistemático, passou a ser impossível reduzir uma sociedade ou cultura a um “conjunto de frases soltas ente si”. Isso porque a convivência junto aos nativos permitia reconhecer seu conjunto de ações sociais como um sistema, um conjunto coerente (p. 145).

O papel da Antropologia passa a ser o de produzir interpretações das diferenças enquanto elas formam sistemas integrados A essência da perspectiva antropológica é, então, buscar aquilo que é essencial na vida dos outros. O que permite que qualquer sociedade, em qualquer ponto do planeta, com qualquer tipo de tecnologia, seja tomada como um conjunto coerente de vozes, gestos, reflexões, articulações e valores.

 Todos os antropólogos e as antropólogas contemporâneos/as se submeteram a essa experiência importante e enriquecedora, do ponto de vista pessoal, teórico e filosófico.

Para além da coleta de novos dados, que justifica abstratamente o trabalho de campo ou a necessidade dele, são os dilemas que essa prática colocam que mais interessam. Isso porque os/as antropólogos/as levam consigo teorias ao campo.Teorias que davam conta de explicar ou interpretar determinadas “realidades” ou partes do real, de um real específico, de um contexto específico. E vão pensar em suas “tribos”, “favelas”, “comunidades”, “mitos”, “classes sociais”, grupos que estuda etc. E realiza, ou tenta realizar, um “repensar da Antropologia” a partir de seu campo  

O olhar do antropólogo é sempre informado teoricamente. Mas o que se vê não é “previsto”. Se assim fosse, não seria necessário pesquisar mais nada. Porém, aquilo que chamamos de realidade, para além de ser sempre culturalmente informado, e precisamente por isso, muda o tempo todo, dependendo do contexto, do momento, das pessoas, das relações, etc.

A Antropologia Social é a disciplina que mais tem posto em dúvida e em risco alguns de seus conceitos e teorias básicas. Novos repensares de teorias que passam a ser consideradas estreitas demais, novos dados de campo profundos e que forçam a uma abertura de instrumentos analíticos anteriormente utilizados. A Antropologia está sempre em “estado de dúvida teórica”.

Cada estudo (...) traz não só a possibilidade de testar todos os conceitos anteriormente utilizados naquele domínio teórico específico, como também o ponto de vista daquele grupo, segmento, classe social ou sociedade. E isso pode provocar novas revelações teóricas, bem como revoluções nos esquemas interpretativos utilizados até então” (p. 147).

        Ex.: Tylor falava em religiões primitivas e em crenças das mais simples à Mais complexas; Durkheim e Mauss vão contra essa idéia quando estudam as formas elementares da vida religiosa (p. 147-148).

Também no campo dos estudos de parentesco se deu esse repensar a partir da substituição do paradigma evolucionista pelo funcionalista. A Antropologia deixou de se guiar pelo eixo do tempo.

Assim, na Antropologia há uma longa, saudável e já tradicional base pluralista pela qual os fenômenos humanos são estudados. Não há ídolos nem heróis na Antropologia, nem messias ou teorias indiscutíveis e patenteadas – há respeito pelas diferentes sociedades e culturas.

 A Antropologia é filha do colonialismo. É marcada pelo cientificismo europeu. Mas tem crescido ao longo das lições aprendidas em outras sociedades, culturas ou civilizações [ou pelas diferenças internas a nossa própria sociedade ou culturas].

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