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O processo grupal e o problema do poder em Martin-Baro

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Por:   •  3/9/2014  •  Monografia  •  5.247 Palavras (21 Páginas)  •  414 Visualizações

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Processo grupal e a questão do poder em Martín-Baró

Group process and the power issue in Martín–Baró

Sueli Terezinha Ferreira Martins

UNESP- Bauru

RESUMO

O presente artigo trata da concepção de processo grupal e poder social enfocada por Martín-Baró.1 O autor retoma a concepção de grupo presente no trabalho de Sílvia Lane, quando considera os aspectos pessoais, as características grupais, a vivência subjetiva e realidade objetiva e o caráter histórico do grupo. Na perspectiva da psicologia social, segundo o autor, é muito mais relevante a análise do papel do poder na vida cotidiana, no dia-a-dia das pessoas, do que se centrar nos acontecimentos excepcionais e não rotineiros. Considerando que grande parte da prática profissional do psicólogo, principalmente numa perspectiva psicossocial, envolve o trabalho com grupos, a abordagem da questão do poder passa a ter papel fundamental. Neste sentido, o contato com a produção de Martín-Baró é essencial e pode contribuir incisivamente no nosso trabalho cotidiano.

Palavras-chave: processo grupal, poder social, ação humana, abordagem psicossocial crítica.

ABSTRACT

The present article discusses the group process and the social power conceptions focused by Martín-Baró. The author retakes the group conception present in Sílvia Lane's work, when it considers the personal aspects, the group characteristics, the subjective existence and objective reality and the historical character of the group. In the perspective of the social psychology, according to the author, it is much more important the analysis of the role of the power in the daily life, in the people's day by day, which implies routine events than to center it in the exceptional ones. Considering that great part of the psychologist's professional practice, mainly in a psychosocial perspective, involves the work with groups, the power issue approach starts to have a fundamental role. In this sense, the contact with Martín-Baró's production is essential and it can contribute to our daily work incisively.

Keywords: group process, social power, human action, critical psychosocial approach.

À força [Gewalt], costuma-se associar a idéia de algo que se encontra próximo e presente. Ela é mais coercitiva e imediata do que o poder [Macht]. Fala-se, enfatizando-a, em força física. O poder, em seus estágios mais profundos e animais, é antes força. ... O poder é mais universal e mais amplo; ele contém muito mais, e já não é tão dinâmico. É mais cerimonioso e possui até um certo grau de paciência.

(CANETTI, 1960/1995:281)

Em geral os autores definem grupo como sendo uma unidade que se dá quando os indivíduos interagem entre si e compartilham algumas normas e objetivo. Muitos são os aspectos indicados como relevantes para diferenciar um grupo de outras situações em que verificamos a presença de várias pessoas em uma mesma atividade.

Martín-Baró (1989), ao abordar a temática, faz menção ao trabalho de Lane (1984), reafirmando alguns aspectos apontados na concepção de grupo apresentada pela autora, quando considera os aspectos pessoais, as características grupais, a vivência subjetiva e realidade objetiva e o caráter histórico do grupo.

Neste sentido, tanto Lane (1984) quanto Martín-Baró falam em processo grupal e não em grupo ou dinâmica de grupo. Não se trata apenas de diferença na denominação mas uma diferença profunda no fenômeno estudado. Ao falar em processo os autores remetem ao fato do próprio grupo ser uma experiência histórica, que se constrói num determinado espaço e tempo, fruto das relações que vão ocorrendo no cotidiano, e ao mesmo tempo, que traz para a experiência presente vários aspectos gerais da sociedade, expressas nas contradições que emergem no grupo:

O grupo tem sempre uma dimensão de realidade referida a seus membros e uma dimensão mais estrutural, referida à sociedade em que se produz. Ambas dimensões, a pessoal e a estrutural, estão intrinsecamente ligadas entre si.

(MARTÍN-BARÓ, 1989:207)

O caráter histórico do grupo é apontado por Lane (1984) quando afirma que "o significado da existência e da ação grupal só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva histórica que considere a sua inserção na sociedade, com suas determinações econômicas, institucionais e ideológicas (p.81)". O mesmo aspecto será evidenciado posteriormente na obra de Martín-Baró, que, em função desta contextualização, propõe uma teoria dialética sobre o grupo humano. Isso implica em compreender que na sociedade atual, o grupo na sua singularidade, expressa múltiplas determinações e as contradições presentes no capitalismo. Alguns desdobramentos dessa relação são as contradições entre: individual/social; competição/interdependência; ter/não ter recursos (materiais, culturais e/ou pessoais) para submeter o outro aos seus interesses (exploração); dependência/independência.

Coerente com essa perspectiva, a proposta de Martín-Baró (1989) se constrói a partir de uma análise crítica sobre as teorias grupais, quando ele aponta três grandes problemas da maioria dos modelos utilizados pela psicologia social: "a) a parcialidade dos paradigmas predominantes; b) a perspectiva individualista; e c) o ahistoricismo" (p.203). A tendência da psicologia social em trabalhar com grupos na perspectiva dos pequenos grupos; ênfase nos elementos subjetivos das relações; e abstração dos indivíduos ou dos grupos de sua história, levando a uma naturalização das realidades grupais, representam os principais problemas acima citados.

Para superar os problemas relatados, são três condições que uma teoria dialética sobre o grupo humano deve reunir:

a) Deve dar conta da realidade social do grupo enquanto tal, realidade não redutível às características pessoais dos indivíduos que constituem o grupo.

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