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O saber local

Por:   •  22/9/2021  •  Artigo  •  2.879 Palavras (12 Páginas)  •  128 Visualizações

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A interpretação das Culturas, capítulo 1: UMA DESCRIÇÃO DENSA: Por uma Teoria Interprètativa da Cultura

  • Geertz é um Antropólogo dos Estados Unidos e seu livro “A Interpretação das Culturas” mostra a visão do autor sobre o que é cultura, que papel esta desempenha na vida social e como deve ser estudada, numa tentativa de esclarecimento sistemático do próprio conceito cultural em suas relações com o comportamento real de indivíduos e grupos. O livro traz estudos empíricos e, embora a sua "redefinição de cultura" seja talvez o interesse mais persistente de Geertz como antropólogo, o livro mostra as relações entre cultura e evolução biológica
  • O autor desenvolve um método a partir do qual a pesquisa antropológica começa levando em conta nossas próprias percepções, problematizadas. Geertz, coloca essa ideia com o objetivo de superar os métodos anteriores baseados em uma análise cultural pautada em uma espécie de adivinhação de significados.
  • O método que o Geertz traz seria utilizado para analisar e descrever a estrutura significativa da cultura a partir do estudo da percepção dos indivíduos nela presentes. Assim, o essencial é anotar e interpretar o discurso social.
  • Geertz coloca que a interpretação cultural só é possível diante de um contexto específico, em cadeia de fatos que se ligam dando o significado da ação humana, isso vai na mesma direção do que Da Matta chamou de relativismo cultural, condenando qualquer pré determinação acerca da ação humana, pois o sentido é construído de maneira complexa, mediante a interação de inúmeros fatores
  • O capítulo 1, que vamos tratar, é dividido em 08 partes e basicamente ele expõe o que é etnografia, que é uma metodologia antropológica e algumas técnicas dessa metodologia como a observação participante, o diário de campo.

I

  • Geertz define a etnografia como uma “descrição densa”, o que seria isso? É o que ele trata em todo seu capítulo 1, através da explanação do que seria cultura e de exemplos práticos de pesquisas próprias (como o caso do Marrocos, de Bali e dos Javaneses) ou até pesquisa de outros autores.
  • Ele começa falando dos conceitos científicos, que a princípio parecem explicar tudo mas a medida que vão sendo usados aparecem suas limitações, ele dá como exemplo a lei da termodinâmica. Assim ele coloca nesse nicho de conceitos científicos a definição de cultura e assim expõe a própria limitação dessa definição, com algo que é reconstruído à medida que as pesquisas vão avançando, ou seja, não é um conceito fixo, fechado, uma verdade, aliás nada em ciência é um dogma, uma verdade intransponível, a ciência de alimenta da dúvida e do questionamento das certezas e é isso que diferencia a ciência, de um modo geral, do senso comum.
  • Geertz diz que o conceito de cultura que ele defende, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; ou seja, ele não acredita na antropologia como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado p.4

II

  • O operacionismo como dogma metodológico nunca fez muito sentido no que concerne às ciências sociais p.4 Aqui ele faz uma afirmação parecida com Da Matta quando fala da questão do utilitarismo para explicar os fenômenos humanos.
  • Ele expõe que praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante. e mais que essas coisas técnicas O que o define a etnografia é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma "descrição densa"p.4
  • Pro Geertz ilustrar o que seria uma “descrição densa” ele traz o exemplo da piscadela e assim expõe a maior dificuldade da etnografia, que é extrair o significado. Ele mostra que a simples observação do fenômeno de piscar não seria capaz de dar conta do sentido da piscadela, que poderia representar um tique nervoso, um código interno ou apenas esperteza de alguém que conhece o código mas pisca pra fingir se comunicar ou ainda, alguém que zomba de quem tem um tique nervoso, imitando-o. Essas são todas possibilidades dentro de um simples piscar de olhos, ou seja, a etnografia não é apenas descrever fatos e acontecimentos, ou as relações entre as pessoas e sim captar o teor simbólico dessas relações, fatos e acontecimento.
  • Com o exemplo da piscadela ele distingue o que seria uma descrição densa da descrição superficial e mais a frente ele entra em detalhes do que seria essa descrição densa
  • O etnógrafo deve perceber as estruturas superpostas de inferências e implicações
  • [...] e que os dados/são realmente nossa própria construção das construções de outras pessoas, p.07 Ou seja, os dados de um etnógrafo é o que percebe do outro, do fenômeno que ele está observado.
  •  A análise é, portanto, escolher entre as estruturas de significação p.7, como que essas dados serão organizados
  • O que o etnógrafo enfrenta, de fato [...] é uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às outras[...] e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar.p.7
  •  Ele diz que isso aparece nas várias formas de coletar dados e cita alguns: entrevistar informantes, observar rituais, deduzir os termos de parentesco, traçar as linhas de propriedade, fazer o censo doméstico... escrever seu diário. Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de "construir uma leitura de") p.7 Ou seja é o etnógrafo que vai juntar todas informações coletadas e ordená-las de forma a contar uma história, a história daquilo que ele se propôs a observar

III

  • A cultura, esse documento de atuação, é portanto pública [...] O debate dentro da antropologia, sobre se a cultura é "subjetiva" ou "objetiva",  que o acompanha, é concebido de forma totalmente errônea. Uma vez que o comportamento humano é visto como ação simbólica [...] o problema se a cultura é uma conduta padronizada ou um estado da mente ou mesmo as duas coisas juntas, de alguma forma perde o sentido. O que se deve perguntar a respeito de uma piscadela burlesca ou de uma incursão fracassada aos carneiros não é qual o status ontológico. [...] O que devemos indagar é qual é a sua importância: o que está sendo transmitido com a sua ocorrência através da sua agência, seja ela um ridículo ou um desafio, uma ironia ou uma zanga, um deboche ou o orgulho p.08 Ou seja, que aquilo significa para aquelas pessoas que a fazem, oq significa piscar ou fazer qualquer outra coisa
  • Daí o autor critica a antropologia comportamental, que reduz a cultura apenas ao superficial, de hábitos cultivados, como Goodenough, afirma "consiste no que quer que seja que alguém tenha que saber ou acreditar a fim de agir de uma forma aceita pelos seus membros."p.8 ou  como afirma Tyler ao dizer que a cultura consiste "em fenómenos mentais que podem (ele quer dizer "poderiam") ser analisados através de métodos formais similares aos da matemática e da lógica"p.09
  • A cultura é pública porque o significado o é. Você não pode piscar (ou caricaturar a piscadela) sem saber o que é considerado uma piscadela ou como contrair, fisicamente, suas pálpebras, e você não pode fazer uma incursão aos carneiros (ou imitá-la) sem saber o que é roubar urri carneiro e como fazê-lo na prática.p.9
  • a cultura consiste em estruturas de significado socialmente estabelecidas, nos termos das quais as pessoas fazem certas coisas p.9
  • A crítica de Geertz a Antropologia comportamental é que reduz a cultura a um fator cognitivo humano, o que cai no que ele chamou de “etnocentrismo”, que acaba classificando culturas como mais ou menos evoluída de acordo com a elaboração cognitiva dos produtos culturais, materiais. Esse meio de compreender a cultura não considera o relativismo exposto por Da Matta, pois reduz o homem a um mesmo padrão de ser, biológico, psicológico, por tanto universal, em que se opera a arbitrariedade do comportamento humano
  • [...]o objetivo da antropologia é o alargamento do universo do discurso humano. mas existem outros como a instrução, a diversão, o conselho prático, o avanço moral e a descoberta da ordem natural no comportamento humano [...]  a cultura não é um poder ou seja, a cultura não obriga ninguém a nada, mas através dela podemos compreender as ações humanas, a cultura para Geertz é um contexto p.10
  • Isso significa que as descrições das culturas berbere, judaica ou francesa devem ser calculadas em termos das construções que imaginamos que os berberes, os judeus ou os franceses colocam através da vida que levam, a fórmula que eles usam para definir o que lhes acontece. O que isso não significa é que tais descrições são elas mesmas berbere, judia ou francesa — isto é, parte da realidade que elas descrevem ostensivamente; elas são antropológicas — isto é, partem de um sistema em desenvolvimento de análise científica p.11 Ou seja, a realidade trazida pelo texto Antropológico é uma interpretação científica e não a realidade para os atores que estão sendo observados
  • é diferente a cultura como um fato natural e cultura como entidade teórica p.11 O trabalho do antropólogo não é ser porta voz do nativo, reproduzir o que o nativo pensa, sente e vive e sim observar, analisar o conjunto de todas essas ações no contexto ao qual o nativo está inserido
  • Resumindo, os textos antropológicos são eles mesmos interpretações e, na verdade, de segunda e terceira mão. (Por definição, somente um "nativo" faz a interpretação em primeira mão: é a sua cultura.)2 Trata-se, portanto, de ficções; ficções no sentido de que são "algo construído", "algo modelado" — o sentido original âtfictio — não que sejam falsas p.11
  • A cultura é tratada de modo mais efetivo, prossegue o argumento, puramente como sistema simbólico (a expressão-chave é, "em seus próprios termos"), pelo isolamento dos seus elementos, especificando as relações internas entre esses elementos passando então a caracterizar todo o sistema de uma forma geral p.12
  • Geertz diz que essa concepção de cultural, vinculada ao significado do modo de existir, representa um avanço em relação a ideia que a define como um “fenômeno mental” ou “um comportamento apreendido” (como é o caso da Antropologia comportamental), e que a análise cultural deve observar a lógica informal da vida real.
  • Deve atentar-se para o comportamento, e com exatidão, pois é através do fluxo do comportamento — mais precisamente, da ação social — que as formas culturais encontram articulação e o significado emerge do papel que desempenham no padrão de vida decorrente  p.12
  • Outra implicação é que a coerência não pode ser o principal teste de validade de uma descrição cultural. Os sistemas culturais têm que ter um grau mínimo de coerência, do contrário não os chamamos sistemas [...] A força de nossas interpretações não pode repousar, na rigidez e ainda Geertz completa:. Creio que nada contribuiu mais para desacreditar a análise cultural do que a construção de representações impecáveis de ordem formal, em cuja existência verdadeira praticamente ninguém pode acreditar p.13 Geertz afirma isso em coerência com tudo que falou antes, em relação ao fato do trabalho antropológico ser uma interpretação de segunda mão, que a etnografia depende do olhar do pesquisador e como ele é capaz de interpretar as próprias observações, então dessa forma, faz sentido, pensar em um trabalho etnográfico que supre todas as questões, onde a narrativa e a apresentação de determinada cultura não abre espaço para novas interpretações
  • Por exemplo, para o autor o mais valioso é  o significado do acontecimento de falar, não o acontecimento como acontecimento Para o autor o trabalho do etnógrafo  não é o discurso social bruto de quem ele tá pesquisando, isso porque ele admite que é impossível termos acesso porque não somos o outro, não temos como afirmar nada sobre o outro e sim do que entendemos sobre o que o outro está falando.
  • A análise cultural é (ou deveria ser) uma adivinhação dos significados, uma avaliação das conjeturas, um traçar de conclusões explanatórias a partir das melhores conjeturas e p.14
  • Assim, há três características da descrição etnográfica: ela é interpretativa; o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar salvar o "dito" num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fixá-lo em formas pesquisáveis p.15
  • Geertz diz que o antropólogo aborda caracteristicamente tais interpretações mais amplas e análises mais abstratas a partir de um conhecimento muito extensivo de assuntos extremamente pequenos.p.15 é como olhar com um microscópio para a realidade humana, o cotidiano e dali extrair significados das grandes realidades, como a fé, o trabalho, a dominação, a desigualdade, que também são abordados pelas outras disciplinas que trabalham com o plano mais macro, como a História, a Economia ou a Sociologia
  • Os antropólogos não estudam as aldeias, eles estudam nas aldeias. Você pode estudar diferentes coisas em diferentes locais— por exemplo, o que a dominação colonial faz às estruturas estabelecidas de expectativa moral p.16
  • O que é importante nos achados do antropólogo é sua especificidade complexa, sua circunstancialidade. É justamente com essa espécie de material produzido por um trabalho de campo quase obsessivo de peneiramento, a longo prazo, principalmente (embora não exclusivamente) qualitativo, altamente participante e realizado em contextos confinados, que os mega conceitos com os quais se aflige a ciência social contemporânea p.16
  •  Geertz reconhece o problema metodológico que a natureza microscópica da etnografia tem. Esse problema no caso é o próprio fato do trabalho etnográfico ser limitado pela interpretação do antropólogo, mas diante disso ele afirma que a solução para isso é aceitarmos que a compreensão de que as ações sociais são comentários a respeito delas  e que uma interpretação não determina para onde ela poderá ir, ou seja, num é porque um antropólogo está fazendo a interpretação de um contexto que essa interpretação se encerra nela, assim como. fatos pequenos podem relacionar-se a grandes temas, como as incursões aos carneiros à revolução, fazendo menção ao exemplo que ele deu antes, da pesquisa dele no Marrocos.p.17
  • O que nos leva, finalmente, à teoria. O pecado obstruidor das abordagens interpretativas de qualquer coisa p.17 isso porque uma teoria, de certa forma, restringe as possibilidades interpretativas ao próprio formato teórico
  • O ponto global da abordagem semiótica da cultura é, ganhar acesso ao mundo conceptual em que vivem os nossos sujeitos, de forma a podermos conversar com eles. Assim, Geertz diz que há tensão entre a necessidade de penetrar num universo não-familiar de ação simbólica e as exigências do avanço na teoria da cultura,.[...] e que qualquer teoria, ou seja, Qualquer generalidade surge das distinções e não da amplidão das suas abstrações. p.14 como acontece nas ciências naturais
  • Os estudos constroem-se sobre outros estudos, não no sentido de que retomam onde outros deixaram, mas no sentido de que, melhor informados e melhor conceitualizados, eles mergulham mais profundamente nas mesmas coisas. Cada análise cultural séria começa com um desvio inicial e termina onde consegue chegar antes de exaurir seu impulso intelectuais Fatos anteriormente descobertos são mobilizados, conceitos anteriormente desenvolvidos são usados, hipóteses formuladas anteriormente são testadas por. 18 Isso está totalmente de acordo com a afirmação de Geertz ao dizer que a interpretação parte de um ponto mas não sabemos onde ela irá nos levar, é nesse sentido que o avanço teórico dos estudos culturais caminha
  • mas não se pode escrever uma "Teoria Geral de Interpretação Cultural" ou se pode, de fato, mas parece haver pouca vantagem nisso, pois aquijjtarefa essencial da construção teórica não é codificar regularidades abstratas, mas tornar possíveis descrições minuciosas; não generalizar através dos casos, mas generalizar dentro deles. p.18
  • Somos levados, assim, à segunda condição da teoria cultural: ela não é, pelo menos no sentido estrito do termo, profética. O diagnosticador não prediz o sarampo; ele decide que alguém o tem ou, no máximo, antecipa que alguém pode tê-lo em breve p.18
  • As ideias teóricas não aparecem inteiramente novas a cada estudo; como já disse, elas são adotadas de outros estudos relacionados e, refinadas durante o processo, aplicadas a novos problemas interpretativos. Se deixarem de ser úteis com referência a tais problemas, deixam também de ser usadas e são mais ou menos abandonadas. Se continuam a ser úteis, dando à luz novas compreensões, são posteriormente elaboradas e continuam a ser usadas.p.19
  • Nossa dupla tarefa é descobrir as estruturas conceptuais que informam os atos dos nossos sujeitos, o "dito" no discurso social, e construir um sistema de análise em cujos termos o que é genérico a essas estruturas, o que pertence a elas porque são o que são, se destacam contra outros determinantes do comportamento humano. Em etnografia, o dever da teoria é fornecer um vocabulário no qual possa ser expresso o que o ato simbólico tem a dizer sobre ele mesmo — isto é, sobre o papel da cultura na vida humana. p.19
  •  O objetivo é tirar grandes conclusões a partir de fatos pequenos, mas densamente entrelaçados; apoiar amplas afirmativas sobre o papel da cultura na construção da vida coletiva empenhando-as exatamente em especificações complexas. p.20
  • Por fim, Geertz finaliza dizendo que A vocação essencial da antropologia interpretativa não é responder às nossas questões mais profundas, mas colocar à nossa disposição as respostas que outros deram e assim incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem falou. p.21

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