OS TRÊS SUICÍDIOS DE DURKHEIM: ANÁLISE DE FILMES EXEMPLOS

Introdução

No curso de psicologia estudamos as motivações pessoais para as

angústias e para os problemas psicológicos possivelmente apresentados pelos

indivíduos. De acordo com certas correntes, como a Psicanálise, os diversos

problemas psicológicos apresentados hoje pelo paciente têm origem na sua

infância, já de acordo com outras correntes, como a Terapia Cognitivo

Comportamental, esses problemas teriam, entre outros de importâncias

variadas, uma origem biogenética.

A motivação do suicídio é um típico objeto de estudo da Psicologia. Este

é considerado ato mais radical tomado frente às angústias que acometem

todos os indivíduos. Em terapia, busca-se entender o desejo que um paciente

pode ter em cometer tal ato, encontrar as origens deste sofrimento e maneiras

de escapar ou lidar com mesmo.

Acreditando fortemente na influência social e do momento histórico tanto

na formação do indivíduo como nas atitudes que o mesmo poderá tomar em

relação à vida, decidi fazer um estudo sobre o texto O Suicídio, de Émile

Durkheim, apresentado em aula.

Durkheim tinha como intenção demonstrar como uma pesquisa

sociológica deveria ser executada e o seu texto redigido, de acordo com suas

orientações em As Regras do Método Sociológico e provar a eficácia desta

ciência emergente. Teve êxito em sua intenção, tornando esta uma das obras

mais importantes para a Sociologia até os dias de hoje.

O autor inovou ao associar motivos sociais a um ato que em sua época

era apenas estudado a partir de características individuais de quem o cometia.

Ele coletou diversos dados de mortes por suicídio em diversos países da

Europa e cruzou os dados com os acontecimentos marcantes ocorridos nos

respectivos anos analisados. Segundo o autor, quando se estuda um grupo de

casos de suicídio ocorrido durante um certo período de tempo numa mesma

sociedade, não há um conjunto de unidades, mas sim “uma natureza

aminentemente social”.

No decorrer deste trabalho serão descritas, analisadas e discutidas três obras

cinematográficas que retratam o suicídio, cada uma representando cada um dos tipos

de suicídio classificados pro Durkheim, sendo eles o egoísta, o altruísta e o anômico.

Embora a inovação do sociólogo tenha sido não atribuir significado às unidades

de suicídio, como estudo de Psicologia, neste trabalho será feita uma análise voltada

para a relação das unidades (os personagens) com os contextos sociais em que se

inserem no filme, exceto no útimo, em que o foco será a dinâmica de uma sociedade

em crise.

Anna Karenina e o Suicídio Egoísta

O primeiro tipo de suicídio explicado por Émile Durkhien é o egoísta. Esta

categoria de suicídio caracteriza-se pela fraca integração do suicída com a sociedade.

Segundo o sociólogo, o egoísmo é a causa geradora deste suicídio. Os problemas e

questionamento do ego, da própria pessoa, ultrapassam qualquer outras motivações

exteriores contrárias a tal ato. São apenas motivações íntimas que fazem com que o

indivíduo tome tal atitude. O autor afirma que tais dificuldades pessoais podem ser

enfrentadas por todos os tipos de pessoas, inclusive não-suicídas. O que diferencia

quem decide por dar fim à sua vida é “o estado em que se encontra na sociedade”. Tal

pessoa não se sente tão inserida ou pertencente aos grupos sociais, seja a família, a

religião ou a vida política.

Segundo o autor, esta é uma categoria de suicídio exclusiva da sociedade

moderna. Nas sociedades ditas arcaicas o grupo era visto como uma unidade e não

havia a concepção de “questões pessoais”. Com a maior valorização da figura

humana, este passou a ser visto como unidade diferenciada do grupo, embora ainda

possua um “ego social”.

O filme Anna Karenina, baseado na obra homônima de Leon Tolstoi faz uma

boa representação deste suicídio. Em seu livro, o autor busca traçar uma crítica à alta

sociedade russa do século XVIII, denunciando a falência moral daquela aristocracia.

O enredo é baseado na paixão de Anna e no seu sofrimento por conta disto. As

cenas começam com Anna indo visitar sua cunhada, que havia sido traída pelo seu