Questões Sobre “Introdução à Sociologia” de Theodor Adorno

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: TÓPICOS TEMÁTICOS EM SOCIOLOGIA

DOCENTE: MARISE ROCHA MORBACH

DISCENTE: RAPHAEL CABRAL FACCO

Questões sobre “Introdução à Sociologia” de  Theodor Adorno

BELÉM/PA, 02/2022

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Na 1ª aula Adorno descreve um problema central à formação dos sociólogos, e que está ancorado na relação entre o estudo formativo e o trabalho socialmente útil. Comente essa primeira aula colocando em seus comentários uma reflexão acerca da sua formação acadêmica e no que concorda; e no que discorda,  dos argumentos defendidos por Adorno.

Um dos grandes ensinamentos trazidos por Adorno em suas aulas de Sociologia foi a relação entre a produção teórica e acadêmica das Ciências Sociais e a análise prática da sociedade. Essa análise também perpassa entre o que a disciplina de Ciências Sociais é de fato, e entre o que ela pretende ser.

Adorno logo no início da aula faz um prognóstico: as perspectivas profissionais para os sociólogos são ruins. Dentre os motivos está o aumento no número de formados nas Universidades, de outro a baixa empregabilidade nos processos econômicos atuais. Nesse contexto, o próprio autor diz que deveria ser alienado se descrevesse um cenário contrário a esse. No campo acadêmico, Adorno afirma que as universidades são as formadoras dos sociólogos, mas também a grande consumidora deles.

Em um contexto amplo, da sociedade, a Sociologia exerce um papel de afastamento da alienação, mas dentro da academia, principalmente, enquanto esse objetivo é buscado ao mesmo tempo afasta os estudantes das exigências práticas da profissão. E é nesse sentido que Adorno afirma que talvez já nem seja possível realizar um trabalho socialmente útil e ao mesmo tempo buscando  essa autonomia em relação a alienação que a Sociologia pretende..

Desta forma, Adorno nos lembra que ao conhecermos mais profundamente a sociedade, mais crítico nos tornamos a essa mesma sociedade, tornando difícil e complexa a tarefa de transformar o conhecimento adquirido, os anos de estudo em um “trabalho socialmente útil” como ele mesmo define.

A nossa formação até o momento tem demonstrado duas coisas. Primeiro, como o próprio Adorno cita em seu texto, paradoxalmente, a universidade produz os cientistas, e ela mesma “os consome”, no sentido de que a imensa maioria dos profissionais ou permanecem na própria Universidade continuando seus estudos por meio dos programas de pós graduação, ou tornam-se professores nas várias universidades existentes pelo país por meio de concursos no caso das instituições públicas ou contratação por meio das instituições particular. Isso nos leva ao segundo aspecto importante a respeito dessa questão da formação universitária. Penso que há um esforço grande da academia em fornecer estudos e bases para que o conhecimento extrapole os limites do campo acadêmico, da universidade em si. O que se observa, de forma empírica, em relação a muitos estudantes universitários de ciências sociais e um academicismo muito grande ao longo do curso, talvez pela questão da própria universidade ser a principal consumidora do conhecimento produzido por estes estudantes, os mesmos acabam por distanciar-se do “mundo real”, do “chão de fábrica”, ou como posso dizer, da realidade do dia a dia da sociedade, dos brasileiros. Dessa forma, esse esforço da universidade em trazer os alunos para os problemas “reais”, palpáveis e cotidianos é de grande importância, pois em última instância, como analisa Adorno, deveríamos realizar o trabalho socialmente útil, de acordo com as palavras de Marx.

Assim, creio que existem vários desafios em relação ao ensino da sociologia, ou de forma mais abrangente, das Ciências Sociais. Primeiro, manter os estudantes cientes de que a expansão do conhecimento inevitavelmente levará a maior criticidade da sociedade, mas que talvez essa maior criticidade seja justamente o necessário para provocar as mudanças por meio de trabalho voltado para a própria sociedade, senão visando mudá-la, alterá-la, transformá-la para uma realidade mais igualitária e justa, pelo menos para que o conhecimento sobre a sociedade e seus aspectos se expanda e possa servir de base para novos estudos em um ciclo contínuo de análise e proposições, talvez não para a mudança da realidade social, mas para a sua evolução, e não uma desejada revolução, o que talvez seja impossível de ser alcançado conforme mais se conhece a sociedade dentro do campo de estudos da Sociologia. Em segundo lugar, um outro desafio constante é o de manter os alunos com os olhos voltados para a realidade, para o cotidiano da sociedade, tornando-os de certa forma tradutores da ciência social, suas análises e possibilidades para a sociedade de uma maneira que não fiquem presos na academia como se estivessem em uma concha, produzindo pérolas para si próprios ou para o meio acadêmico, mas sim com um olhar quase sempre voltado em um pensamento: “como o conhecimento que adquiro constantemente pode se tornar útil para a sociedade em que vivo?”

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Na 2º aula Adorno apresenta um argumento robusto sobre a “negação da verdade, controvérsia metodológica e tecnocracia” para criticar o positivismo que organizava as formas de apreensão do conhecimento acerca da sociedade. Como você entende isso quando em relação ao que Adorno descreve como “má infinitude” do contexto temático da Sociologia.

Dentro do contexto do surgimento da sociologia passou-se a crer que seria possível obter soluções técnicas que conduzissem a resolução de problemas de ordem social, em outras palavras, de forma tecnocrática. Isso é possível perceber desde Comte e seu positivismo, embora muito de seu pensamento seja pelo seu idealismo. Adorno curiosamente lembra de como esse surgimento da sociologia, preocupada exacerbadamente com a técnica, acaba por contribuir na elaboração das teorias sociais e políticas de Marx, que embora um crítico do que se chamava sociologia também utilizou-se dessa orientação técnica em sua teoria. Adorno deixa clara a posição heterogênea da sociologia enquanto ciência justamente por ter um objeto de estudo não tão bem definido, bem como uma natureza diversa, diferenciado-se da Medicina ou do Direito por exemplo.