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Relato De Campo (06.08.2022) – Primeira Vez Na Batalha Em Quatro Anos

Por:   •  9/11/2023  •  Projeto de pesquisa  •  970 Palavras (4 Páginas)  •  42 Visualizações

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Relato de Campo (06.08.2022) – Primeira vez na Batalha em quatro anos.

Ao chegar, o ambiente estava muito cheio, nos bancos superiores da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), estavam muitos jovens sentados à grama. No palco, estavam poucas pessoas, organizando o evento, ajeitando botões da mesa de remix, enquanto esperavam os MC’s (Mestre de Cerimônia) chegar, para começar a batalha do cristo. Enquanto os MC’s chegavam, os organizadores faziam questão de passar pelo público, como quem agradece à chegada de vários convidados, fazendo as honras de bons anfitriões.

Andando pelo largo da RFFSA, fui até um estudante do mesmo curso que eu. Fiquei ao lado dele, tomei algumas doses da caipirinha que ele me ofereceu. Estávamos de frente pro palco, envolto à multidão de pessoas que nos cercavam.

Era possível escutar um apelo que um dos organizadores fazia pra que o público não fumasse maconha próximo do evento, para respeitar aqueles que não gostam do cheiro, para respeitar as crianças que, tendo uma idade pequena, não devem ter contato com essa fumaça. É um evento que tem regras, e o respeito é um dos principais valores da batalha do Cristo.

Logo após alguns minutos, em um local cheio de pessoas passando entre as outras, um turbilhão de acontecimentos em um segundo, se seguia a batalha de rap, enquanto os MC’s se preparavam, era possível ouvir, vindo do microfone da batalha de rap: “ -Vamos respeitar o movimento, vamos respeitar a luta, como eu amo essa cultura, como eu amo essa cultura... O que vocês querem ver?  - Sangue!  (Respondia a plateia, inclusive eu).”

Os organizadores do evento pediram para que todos se aproximassem do palco, para que houvesse participação na hora da batalha, com gritos, vaias, emoções da plateia. Antes da batalha, para dar uma animada e esquentada, os organizadores gritavam no microfone: “ - MC é pistoleiro, quando não é bang-bang! O que vocês querem ver?” “ - Sangue!” Respondia a plateia, eu como parte da plateia, também respondia.  

Segundo o que pude escutar de um dos organizadores do evento, o sangue representa o suor, a dificuldade de ir até um palco duelar contra outro “especialista em rima”, um MC, afim de ganhar dele através da rima. Além disso, representa também “dar tudo o que tem”, usar toda a energia para vencer seu adversário. Ganhar a plateia é difícil, ganhar uma batalha de rima é complicado, tudo isso denota desafios a serem superados por aqueles que se lançam ao palco, ao duelo de rimas. Foi perceptível como um dos MC’s, diga-se de passagem, o campeão do campeonato nacional de batalha de rimas, MC Charles, ganhou aplausos generosos do público quando rimou contra seu adversário; o seu adversário falava de Batman e Alerquina; e o MC que ganhou aplausos disse: “Tanto Batman ou Alerquina, tanto faz, independente de gênero eu represento todos que estão aqui!” E o público gritou sem pensar duas vezes, com uma vivacidade incrível, excitada pelos valores de inclusão social e diversidade. Pode-se dizer que o MC que fez essa rima (MC Charles, o que ganhou o nacional), ganhou o público, apesar de ter perdido a batalha, porque o seu adversário acabou rimando melhor. Pode-se observar que um dos valores cruciais da Batalha do Cristo é a diversidade; o respeito ao diferente, a inclusão, e quando esse valor é evocado, o público retribui com a mais vigorosa salva de palmas e gritos de vida, gozando do ambiente que os aceita e os reconhece como são, diferentemente da parte hegemônica, a parte elitista, a parte conservadora e retrógrada da sociedade que os rejeita por serem negros, periféricos, mulheres, ou não serem hétero-normativos, enquanto que a Batalha do Cristo os abraça com suas militâncias em coletivos de jovens periféricos e da resistência que se orgulham por lutar por uma causa social justa e visceral, através da cultura do Rap.

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