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Relações de trabalho e reestruturação produtiva no capitalismo ocidental: As crises e os (novos) dispositivos de controle. Revista Grifos, v. 20, n. 30/31, p. 38 – 49, 2011.

Por:   •  2/7/2017  •  Resenha  •  1.898 Palavras (8 Páginas)  •  322 Visualizações

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[1]RESENHA

PAULI, Jandir. ONG. Relações de trabalho e reestruturação produtiva no capitalismo ocidental: As crises e os (novos) dispositivos de controle. Revista Grifos, v. 20, n. 30/31, p. 38 – 49, 2011.

Inicialmente, Jandir Pauli explica sobre a mudança na conceitualização da palavra “trabalho” ao longo da história, de modo que esclarece que o trabalho era da ordem animal e não racional, pois, estava associado ao mundo da necessidade. Já na modernidade, a palavra ganha um novo significado que remonta à emancipação e libertação do homem. Este novo significado foi sustentado pela Reforma Protestante e pela Economia Política. A Reforma Protestante foi responsável por instituir que o trabalho predestina a salvação humana através da ética religiosa do trabalho, e a Economia Política em meados de 1700, através de representantes como Adam Smith e David Ricardo, sustentou que o trabalho produzia riqueza e desenvolvimento social, e que o valor de uma mercadoria era determinado pelo trabalho despendido em sua produção. Mais tarde, Karl Marx (1818-1830), afirma que o trabalho não se reduz a produção de lucro, ao invés disso, o trabalho modifica a natureza com a finalidade de produzir algo e o ser humano se reconhece no trabalho. O fato da economia política afirmar que o trabalho produzia riqueza iniciou um processo de imposição deste modelo com o objetivo de captar a subjetividade do trabalhador moderno.

Em seguida, o autor relata as mudanças nos métodos de produção durante a reestruturação do capitalismo, relatando a passagem do modelo feudal para o putting-out-system, que modificou o sistema de produção. Através do putting-out-system o capitalista se torna o organizador da produção, os trabalhadores ainda possuem o domínio tecnológico mas precisam do capitalista para acessar o mercado e a matéria prima. Com o surgimento das fábricas, além da otimização da produção ocorre o controle no processo de produção, e o fato de ter os trabalhadores todos no mesmo local possibilita com que o conhecimento de um seja compartilhado entre os demais. Conforme Pauli, o tempo passou a valer dinheiro a partir do momento em que as pessoas eram contratadas por horário marcado, as pessoas, as fábricas e as cidades passam a utilizar relógios e sinos como marcadores do tempo. Adiante, o sociólogo aponta que o processo produtivo precisava ser mais racional e menos científico, e Taylor (1856–1915) criou a OCT (Organização Científica do Trabalho) e o Taylorismo, que mais tarde foi aprimorada por Henri Ford. A OCT fez com que a produção fosse acelerada através da simplificação e divisão do trabalho. Como o Taylorismo e o Fordismo apresentavam falhas, nasceu no Japão o Toyotismo. Vale ressaltar que, o Taylorismo e o Fordismo foram modos de organização que se iniciaram no ocidente se estendendo para o oriente, enquanto que o Toyotismo fez o justamente o movimento inverso.

O Toyotismo se desenvolve em um cenário pós segunda guerra mundial, devido a isso os recursos eram escassos e o cenário comercial era restrito, portanto, modelos produtivos como oTaylorismo e o Fordismo eram inadequados, pois baseavam-se em grande estoque de produtos. O Toyotismo surge como uma terceira revolução industrial que exigia uma nova subjetividade operária calcada no avanço tecnológico, no sistema Kanban, na minimização dos estoques, na polivalência operária, no engajamento estimulado, na responsabilidade da qualidade da produção e na terceirização. Além disso, a “flexibilização do trabalho” é a causa de sub-empregos e da precarização do trabalho, que são caracterizados pela ausência de vínculo formal, estabilidade, garantias e avanços trabalhistas. E, Como resultados do Toyotismo, em especial do avanço tecnológico, atualmente temos índices altos de desemprego.

Para compreender melhor essa nova subjetividade operária que era exigida do trabalhador, pode- se dialogar com Richard Sennett em seu texto “A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo”. Neste texto, Sennet aponta para os resultados do novo capitalismo no ambiente do trabalho questionando as relações de trabalho e suas implicações nos valores pessoais e compromissos mútuos. Sennett (2002, p.10), descreve que a definição de caráter são “traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem”, deste modo, não é possível construir um caráter em um capitalismo flexível, em uma sociedade onde tudo é efêmero e não há metas a longo prazo já que a construção do caráter depende de valores duradouros.

No velho capitalismo fordista o poder e o controle eram visíveis, assim, o patrão tinha controle sobre o trabalho e tempo dos operários. Já no novo capitalismo o poder está presente, mas a autoridade está ausente, flexibilizou-se o tempo, os produtos tornaram-se cada vez menos duráveis e o próprios empregos tornaram-se temporários. Nesta lógica o poder concentrou-se ainda mais nas mãos dos capitalistas e a “liberdade” dada ao trabalhador não passa de uma ilusão, o trabalho em equipe permite que ele decida o que fazer sem o patrão lhe dar comandos, mas o coloca sob um comando ainda maior do capitalista. Isso acontece porque a tecnologia faz com que o trabalhador não se precise mais de treinamento e como consequência ele deixa de possuir o domínio do seu emprego. Isso justifica a rotatividade nas empresas e nas ocupações dos trabalhadores, que constantemente mudam de função, de empresa, de área de atuação o que torna ilusória a emancipação e libertação do homem através do trabalho no novo capitalismo. Isso também afeta a construção de vínculos com os colegas e essa ausência de vínculos a longo prazo com o trabalho também flexibiliza e corrompe o caráter na medida em que buscamos a valorização de nós mesmos na relação com os outros através do tempo. Dessa forma, só definimos o nosso caráter ao constituir laços duráveis que nos permitam pertencer a um meio social.

 O novo capitalismo se caracteriza pela capacidade imediata e a flexibilização. Segundo Sennett (2001, p. 102) “não se mexer é tomado como sinal de fracasso, parecendo a estabilidade quase uma morte em vida”. Mudar o tempo todo possibilita que o indivíduo esqueça da realidade a qual pertence, no antigo capitalismo a consciência de pertencimento a uma classe era visível, já no capitalismo atual não se sabe a que grupo social se pertence resultando na alienação completa do indivíduo. “Pode-se acrescentar que o termo “flexibilidade” é utilizado para causar o efeito de amenizar os estragos do capitalismo, mas “na verdade, a nova ordem impõe novos controles” em vez de simplesmente abolir as regras do passado. ” (SENNETT, 2002, p. 10). Não jogar este novo jogo capitalista é condenar-se ao fracasso. Assim, a construção de uma história de vida que una as pessoas através de laços duradouros fica impossibilitada, já que não há padrão e nem responsabilidade e as pessoas estão sujeitas ao sentimento de fracasso. Para Sennett (2002), a aparente melhoria das condições de trabalho não passam de uma ilusão, na verdade o caráter humano foi profundamente corrompido.

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