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A trajetória do futebol brasileiro durante a ditadura militar

Por:   •  17/9/2017  •  Artigo  •  3.628 Palavras (15 Páginas)  •  340 Visualizações

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A TRAJETÓRIA DO FUTEBOL DURANTE A DITADURA MILITAR DO BRASIL

Nicholas Abreu de Faria[1]

Resumo

Durante o trabalho a seguir, será percorrido os anos em que houve a Ditadura Militar no Brasil, um dos momentos mais sombrios do século passado, e focará, principalmente, no papel do futebol ora como importante movimento de resistência, ora como uma ferramenta de fortificação e propaganda para o governo regente da época. Será buscado mostrar como o futebol serviu de máscara para as torturas e problemas sociais que o Brasil estava enfrentando naquelas décadas e como a conquista da Copa do Mundo de 1970, no México, foi usada em favor do governo do presidente Médici. Também será mostrado o medo do “golpe comunista” que o governo militar enfrentou durante todos os anos que se manteve à frente do país e as medidas que foram usadas para combater a ideologia. Se usará como base outros documentos já existentes relacionados ao assunto, além de documentários e artigos de sites esportivos, todos disponíveis na internet.

Palavras-chave: Ditadura Militar; Futebol; Copa do Mundo; Esporte.  

INSTAURAÇÃO DA DITADURA MILITAR

        Em 1º de abril de 1964 os militares, através de um golpe, retiram João Goulart da presidência do Brasil. O movimento só obteve sucesso pois boa parte da sociedade civil incentivava o ato. A ala mais conservadora da população não via com bons olhos os planos das reformas de base que o presidente Goulart pretendia fazer, muitos até o acusavam de ser comunista, haja vista a tentativa de estreitar os laços econômicos com a China desde a época da renúncia de seu antecessor Jânio Quadros em 1961. Coincidentemente no momento da renúncia de Jânio, Goulart estava em visita oficial à China, que naquela época já era governada sobre os moldes comunistas (REIS FILHO, 2000).

Durante todo o governo de Goulart o medo do “golpe comunista” sempre esteve presente e a assinatura de três decretos em março de 1964 - 1. Encampação das refinarias de petróleo privadas (Nº 53.700); 2. Reforma agrária à beira de rodovias, ferrovias, rios navegáveis e açudes (Nº 53.701); 3. Tabelação de aluguéis (Nº 53.702) - foram a gota d’agua para a ala conservadora e militares. No dia 31 de março, João Goulart é deposto de seu cargo e exilado para o Uruguai. Dia 9 de abril, Marechal Castelo Branco ganha a eleição e se torna o primeiro presidente da era militar.

O FUTEBOL NOS PRIMEIROS ANOS DA DITADURA BRASILEIRA

        Nos anos 60 o futebol já era muito popular, graças as conquistas da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1958 (Suécia) e 1962 (Chile). Entretanto, o esporte não tinha a capacidade de chegar a todos os cantos do país, haviam poucos estádios construídos em regiões mais afastadas dos centros urbanos, limitando esses locais a pratica amadora. Somente em regiões mais populosas que se tinha a possibilidade de desfrutar de estádios e partidas profissionais do esporte.

A Copa do Mundo de 1966 (Inglaterra), a primeira sobre o comando dos militares, foi um desastre para a Seleção, a segunda pior campanha da história em Copas do Mundo e eliminação na fase de grupos: três jogos, com uma vitória (Brasil 2x0 Bulgária) e duas derrotas (Hungria 3x1 Brasil; Portugal 3x1 Brasil). Tal resultado pode ser justificado pela intervenção política que a Seleção enfrentava naquele momento. As diretorias dos grandes clubes brasileiros exigiam da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) a participação de seus jogadores na Copa, a fim de conseguir visibilidade e quem sabe, vendas futuras para a Europa.

Na reta final de preparação o time chegou a ter 46 jogadores no elenco, sendo que apenas 22 poderiam viajar para a competição. Essa situação gerou intrigas internas e desavenças da Confederação com os militares, que queriam acatar as vontades das diretorias dos grandes clubes (EDITORA ABRIL, 2006, p. 23). Com o fracasso da Seleção na competição a CBD troca Vicente Feola (o técnico derrotado em 1966) por outros onze treinadores, até que no início de 1969 João Saldanha, que além de técnico era jornalista e escritor, assume o time (WIKIPÉDIA, 2017).

João é contratado pela entidade durante o regime do presidente Costa e Silva e nos primeiros meses no cargo teve total autonomia para poder fazer uso de suas escolhas. Em outubro de 1969, entre o final das eliminatórias e o início da Copa, Emílio Médici assume o cargo de presidência do Brasil. Fazendo uso do AI-5 (ATO INSTITUCIONAL Nº 5, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968), que dava plenos poderes ao presidente em vigor, Médici pôde enfrentar e prender todos os que ele julgava ser “inimigo da nação”. João Saldanha, abertamente um defensor do comunismo e dos governos de países como Cuba e a antiga União Soviética não era visto com bons olhos pelos militares, havia um medo velado de que Saldanha, ao estar fora do país durante a Copa do México, falasse em entrevistas e denunciasse as atrocidades que estavam ocorrendo no Brasil. Nos bastidores do Planalto, Médici encurralava a CBD para que tirassem Saldanha da Seleção, mesmo com a campanha perfeita para as eliminatórias da Copa.

Após a convocação final dos jogadores para a Copa, Médici criticou a ausência do atacante Dario “peito de aço”, Saldanha respondeu: O presidente e eu temos muitas coisas em comum: somos gaúchos, somos gremistas e gostamos de futebol. Mas nem eu escalo ministério, nem o presidente escala time (OLIVEIRA, 2016). Médici nunca respondeu a declaração de João Saldanha. Alguns meses antes do embarque da seleção para o México, Saldanha é demitido sem nenhum tipo de explicação por parte da Confederação. Anos após a Copa do México, a CBD deu sua justificativa, dizendo que a opção tática escolhida pelo treinador era inviável para a vitória em uma Copa e que a instituição prezava pelo bem maior que era o título. Após a saída de Saldanha, Dario foi convocado e viajou para a Copa do Mundo, não jogando nenhuma partida.

Saldanha também expôs que enquanto esteve ocupando o cargo de treinador da seleção brasileira, teve diversos amigos mortos pela repressão. Ressaltou que levou uma pilha de documentos para o México comprovando a prisão de mais de 3.000 presos, mais de 300 mortos e inúmeros torturados pela ditadura militar brasileira. Reforçando mais ainda a tese de que para Médici era fundamental retirar um dos principais militantes do PCB de um dos principais cargos futebolístico do país. (VICTOR, 2017).

PRÉ-COPA DO MUNDO DE 1970

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