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A Educação Para Nietzsche

Por:   •  18/6/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.896 Palavras (8 Páginas)  •  143 Visualizações

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A Educação Para Nietzsche

(Terceira Conferência)

A terceira conferência articula-se com a segunda, através da retomada das relações entre a finalidade de formação para a Cultura Clássica e o ensino do alemão, no ginásio. Uma das causas da decadência de ensino decorria "das condições de produção" da massa de professores medíocres. A tendência à extensão da cultura ditara um número excessivo de universidades. O sistema produtor de excedentes respondia pela baixa qualidade do excedente de mestres, que crescia continuamente. O filósofo constata que o número excessivo de estabelecimentos, de alunos mal triados e de mestres, passara a ser visto como uma riqueza. E coloca a interrogação: "por quais leis, o número se transforma em riqueza"? O princípio capital de toda cultura afirmava o contrário. A verdadeira cultura exige poucas universidades. A expansão universitária provocava, também, um agravamento da miserável condição econômica dos professores. A fabricação de professores excedentes rebaixava, dia a dia, a condição profissional docente. Por outro lado, esses professores da miséria - recrutados na miséria e para a miséria - não podiam deixar de ter "a mesma altura de voo" dos seus alunos. A massa heteróclita de alunos não permitia um trabalho pedagógico aceitável. O filósofo não vê, nessa expansão, uma autêntica necessidade das massas.

O Estado cultural atuava também como mentor do que a pseudocultura exaltava como cultura popular. A cultura popular dirigida é mais uma imposição do Estado e da mentalidade jornalística. A verdadeira cultura de um povo - a verdadeira cultura popular - é medida pela posteridade, através de obras únicas de indivíduos que marcharam sozinhos. A preocupação do Estado, em dirigir e promover a cultura popular havia sido correlata às medidas de escolarização primária obrigatória. A escolarização compulsória, por sua vez, fora assemelhada ao recrutamento militar universal e obrigatório. O filósofo desconfia das intenções culturais do Estado militarista.

Nietzsche coloca em outros termos, a definição da cultura popular. Há uma relação entre a massa e a autêntica cultura. A massa é depositária das regiões profundas e inconscientes da religiosidade, do sistema poético das imagens míticas, dos costumes, do direito e da língua. Essas regiões não podem ser alcançadas, diretamente. As intervenções do Estado podem destruir a autêntica cultura popular. O Estado e os progressistas invertem as raízes da cultura popular, quando gritam ao povo: "sê vigilante! Sê consciente! Sê esperto!" A geração do gênio será perturbada pela barbárie da cultura popular dirigida. O gênio emerge, nutre-se e amadurece no seio maternal e inconsciente da cultura de um povo. A função do povo é abrigar o gênio.

O discípulo duvida da justiça da metafísica do gênio, proposta pelo filósofo, porém, concorda plenamente com o mestre, sobre o problema do excesso de estabelecimentos de ensino superior e de ginásios. Os mestres eram pobres diabos que faziam o comércio com a antiguidade, por uma questão de sobrevivência. Os professores de filosofia são casos exemplares. Haviam esfacelado (se destruir) a Antiguidade e caído, alegremente, na linguística. O filósofo observa que o domínio novo e indefinido da linguística recebia a todos os medíocres, de braços abertos. Justamente, era o professor de linguística que se incumbia da Antiguidade. O curso de grego e latim fora criminosamente transformando num instrumento de introdução à linguística. Exercícios comparativos substituíram a tendência clássica; a perspectiva historicista, genética e relativista confundia os gregos e romanos com os bárbaros.

O filósofo considera que a ameaça militarista do modelo prussiano (O sistema educacional brasileiro, ao contrário do que é comumente visto, não se baseia no sistema de educação iluminista. Pelo contrário, é o sistema iluminista e o brasileiro que se baseiam no sistema educacional criado no século XVIII. O sistema educacional prussiano foi o primeiro sistema público de ensino, no qual valores cívicos, éticos, línguas e matemática eram ensinados. Sua finalidade era unificar a Prússia, e acabou se valendo para a manipulação da população através desse sistema de ensino.) atingia a Alemanha, a partir da educação. O mais poderoso estado militar moderno dirigia a cultura e a educação. Certos privilégios militares recentemente concedidos aos alunos da universidade e dos ginásios eram provas dessa ameaça. Era sabido que o grande afluxo de estudantes, aos referidos estabelecimentos de ensino, fora provocado por esses privilégios militares, após a instituição do serviço militar obrigatório. O estado prussiano era o mistagogo (sacerdote que ensinava os mistérios, as cerimônias e os rituais de uma religião) da cultura, com vistas aos seus próprios fins. A filosofia hegeliana do Estado havia sido absorvida e posta em prática pela Prússia.

O modelo prussiano era antialemão. O autêntico ensino alemão não aceitaria ser guiado pelo Estado. Para o "ser" da Alemanha - o da Reforma, da Música, da Filosofia e do soldado alemão- a voz do Estado hegeliano era a voz do bárbaro.

O professor finalmente decide voltar ao ginásio. O filósofo lembra que o combate pela verdadeira cultura não tem nada a ver com o combate pela redução da miséria de existir. O combate pela existência tem lugar no mundo da necessidade. A verdadeira cultura não é boa conselheira desse mundo. Na educação e no ensino a mesma fórmula permaneceria válida. Toda educação que indica no final um posto de funcionário, ou um ganha-pão qualquer, contraria a educação para a cultura. Seria antes uma orientação do sujeito da educação, para o combate pela sobrevivência. Para a maioria dos homens, essa orientação é importante. O que se deveria propor para a solução de tal problema, jamais poderia servir à finalidade de preparação para a cultura. Em quais estabelecimentos de ensino deve-se formar para a cultura? O ginásio alemão deixara de atender à referida finalidade. O filósofo observa e acompanha, com o maior respeito, as experiências das escolas técnicas e das de ensino geral. O cálculo é aplicado às coisas técnicas, nessas escolas, com seriedade. As línguas de comunicação são bem aprendidas. Infelizmente, o Estado impusera a essas escolas certas semelhanças com o ginásio. O ginásio não tinha a honestidade das escolas técnicas, em virtude da duplicidade de sua finalidade: a cultura clássica e a erudição. Os professores do ginásio não apreciavam devidamente as escolas técnicas, criticando o realismo que as inspirava. A ignorância dos termos filosóficos - realismo e real - era a única explicação para semelhantes juízos.

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