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A História da filosofia formação e compromisso

Por:   •  10/6/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.377 Palavras (10 Páginas)  •  284 Visualizações

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 A História crítica da filosofia como ideal de formação

Elionai Paranhos da Silva

RA: 600466

SÃO CARLOS

2019

No texto História da Filosofia, Formação e Compromisso (2002) Franklin Leopoldo e Silva situa a dificuldade em defender em qualquer grau de formação, em particular no universitário, a importância do ensino de filosofia.  A causa dessa dificuldade, segundo o autor, está no desaparecimento do ideal de formação, o qual já não aparece nem mesmo como ideia reguladora das práticas de ensino. Com a falta do ideal de formação, num contexto em que prevalece o imediatismo das práticas educativas instrumentais, a filosofia assume uma posição abstrata sem lugar de fala institucional e social. Embora, haja esse abandono da filosofia no contexto contemporâneo, esse mesmo contexto experimenta a necessidade do ensino da filosofia. Entretanto sem compreender as razões.

Apesar dessa marginalidade a filosofia é solicitada, ainda que de maneira confusa e alheia, por diferentes setores da academia e da sociedade para contribuir no esclarecimento de questões epistemológicas, metodológicas, éticas, morais, estéticas, políticas etc. Há uma dificuldade em fixar o lugar de fala da filosofia, mas há também uma dificuldade desses setores em tornar possível uma reflexão mais totalizante das teorias e das práticas que evidenciaram o sentido que possuem. A falta desses setores é constitutiva da racionalidade técnica, vivida como a superação da reflexão, caso em que a instrumentalidade racional contemporânea se consolida e se vê como autossuficiente.

Para essa falta constitutiva da racionalidade técnica, Franklin usa o conceito freudiano de recalque, que num sentido mais vago é tomado por Freud numa acepção que o aproxima da defesa.[1] Pela ótica do conceito de recalque freudiano, a racionalidade técnica procura repelir ou manter inconsciente o sentido das teorias e das práticas num horizonte mais amplo no qual emergiria o sentido que possuem. Horizonte que a filosofia possibilitaria tornar consciente. No entanto, para Franklin, essa situação não consiste em uma justificação positiva da filosofia, indica antes que o processo de desaparecimento, ou recalcamento, do ideal de formação ainda não produziu o total e definitivo esquecimento da diferença entre fato e sentido, ou que a factualidade técnico-instrumental ainda não absorveu as significações transcendentes. Esse processo de desaparecimento do ideal de formação contínua. Podemos supor uma mecanização da própria filosofia como provavelmente a sua última etapa.

Negando esse cenário do desparecimento do ideal de formação, Franklin argumenta que a justificação da filosofia seja buscada no seu próprio passado, ou seja, na sua própria história. Argumento que de antemão considera frágil, porque um dos principais motivos do enaltecimento da atualidade é o progresso histórico. Progresso que teria superado a necessidade do lugar da filosofia no presente, justamente pela concepção de que a filosofia vive do passado.

Justificar a filosofia na sua própria história não significa ver na história o fim das determinações culturais. É preciso ver que o processo de constituição da própria cultura inclui o movimento de transcendência do fato ao sentido. E é nesse movimento de reflexão que o pensamento confere às produções humanas o elo histórico que as vincula entre si e com a totalidade para a qual apontam.

“Dito de outra maneira, a importância da história da filosofia na justificação da filosofia deriva de que a filosofia é histórica, não apenas no sentido de um produto histórico configurado nas teorias que se sucedem, mas principalmente no sentido de que a filosofia é a elaboração histórica da presença do espírito objetivo a si mesmo. Isso significa que a historicidade humana só existe pelo testemunho da consciência reflexiva.” [2]

Essa justificativa aproxima a filosofia do seu lugar. É através da ótica histórica que a filosofia deve ser vista, de modo que se torne possível refletir de maneira autônoma sobre as teorias e prática humanas a fim de constituirmos por via dos sentidos a historicidade que se constroem nessas diferentes relações de teoria e prática.

 A filosofia é indissociavelmente teórica e prática e cabe à história da filosofia desvendar os vínculos, por vezes contraditórios, que constituem essa indissociabilidade. Nas palavras da filósofa Isabelle Garo citada por Franklin:

“Para dizer com outras palavras, a questão do sentido é inseparavelmente teórica e prática. Ela encontra em dois mil anos de pensamento filosófico a história de sua elaboração assim como os instrumentos de sua configuração, e na vontade de construir o futuro humano sua perpétua atualidade” (Garo,1990, p.42)[3]

        

Para refletir de maneira autônoma sobre como cada filosofia procurou constituir-se como sabedoria, isto é, como harmonização de teoria e prática é preciso compreender concretamente essas produções de totalidade entre teoria e prática.

 A reflexão autônoma não é desvinculada das circunstâncias, injunções e conjunturas da produção efetiva do saber filosófico, porque não é possível compreender de forma neutra aquilo que se fez a partir de encarnações históricas concretas e comprometidas. A reflexão autônoma livra o historiador da submissão à atualidade que deseja compreender. Contudo, essa independência é solidária do compromisso de desvendar uma realidade histórica não apenas no jogo de ideias ali produzido, mas na efetividade da gênese crítica do processo de reflexão.  Afinal uma história que se recusa a ser crítica perde o teor crítico intrínseco à reflexão que pretende reconstituir.

 A filosofia é histórica e a história é devir, o próprio sentido das produções humanas é inseparável das condições em que a teoria transfigura a prática e atinge reflexivamente o seu significado. Porém, adverte Franklin:

“Não devemos entender por isso que as teorias filosóficas sejam apenas figurações das práticas humanas. Como toda prática é por si mesma figuração do pensamento, de desejos e de aspirações, a única maneira de compreender o sentido delas e das teorias que as exprimem é a vinculação reflexiva entre vida e pensamento, na tentativa de formular uma síntese entre a figuratividade prática do pensamento e a figuratividade teórica da práxis.”[4] 

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